sexta-feira, 17 de julho de 2009

Brasil: Futuro País Teocrático?

Mais uma bomba do site de notícias G1: "Lei obrigará deputados da Paraíba a 'refletir' sobre a Bíblia antes das sessões". Agora sim! Nossos políticos finalmente tomarão vergonha na cara!

O deputado Nivaldo Manoel (PPS) acredita que “a palavra de Deus ajudará a melhorar os ânimos” dos colegas da Assembléia Legislativa da Paraíba para enfrentar os problemas no plenário. O deputado calcula que serão usados sete minutos de cada sessão para leitura e reflexão sobre a Bíblia - feitos por ele mesmo - assim que o projeto, aprovado por unanimidade, for publicado no “Diário Oficial” da Casa. Neste tempo, afirma, os deputados “permanecerão da forma que eles quiserem”, mas pedirá silêncio. Segue ainda dizendo: “Sou evangélico de uma igreja como a Assembleia de Deus, muito rígida, de mais titularidade à obediência da Bíblia. [...] Tenho essa vantagem e a coragem de fazer isso. E vou fazer em nome de Jesus essa reflexão pregando a palavra sem nenhum constrangimento, como se estivesse no púlpito de uma igreja”, afirma o deputado, que disse não ser pastor. Como se não bastasse a cegueira e fanatismo local, o deputado acredita que a reflexão poderia ser adotada também no Senado Federal, como forma de melhorar “a atitude dos parlamentares”.

Muito humilde, relevante e sensata a iniciativa do nobre candidato! Que postura mais prepotente, partindo-se do princípio de que sua visão deve ser aplicada a todos os seus colegas, sem o menor vestígio de suspeita de que seu paradigma é extremamente limitado e totalmente inútil no contexto do seu trabalho. É esse tipo de postura que nós queremos ver disseminada nas esferas públicas das instituições do nosso país? O que está realmente acontecendo?


Infelizmente, a cada nova notícia, são confirmadas aqui as minhas suspeitas ao longo dos meus posts de que estamos caminhando para uma Segunda Idade das Trevas. Um mundo muito mais religioso e, portanto, menos racional está surgindo com consequências imprevisíveis para a raça humana. Posts como "Segunda Idade das Trevas", "Atentado à Razão", "Liberdade!?!?!" e "Evangelização" resvalam, de uma forma ou de outra, nesta triste previsão e, embora eu tenha concentrado minhas críticas sobre as pistas desta tendência no Brasil, sabemos que trata-se de um fenômeno internacional.

Os domínios políticos do nosso país já se encontram abarrotados por representantes de instituições religiosas, na esmagadora maioria de natureza cristã, fazendo o seu nada religioso lobby com o intuito de aumentar o nível de poder de suas Igrejas. Mas isso ainda parece ser pouco para essas pessoas. Parece não haver limites para o ridículo nem tampouco bom senso para elas, com propostas absurdas como a que vimos acima que estão longe de trazer alguma contribuição real para os interesses da nossa sociedade. E ninguém faz absolutamente nada para deter a escalada do cristianismo pelos meandros das instituições públicas deste país. Pelo fato do tema envolver “religião”, concepção sobre a qual fomos treinados desde a mais tenra idade a “respeitar” por ser “algo sagrado”, os não-crentes acabam sendo coniventes com o crescente poder do cristianismo sobre o estado. Esse maldito "receio de dizer não" à influência religiosa é fruto de uma lavagem cerebral muito bem articulada desde nossa infância, e o Brasil, cada vez mais, vai perdendo suas características de país laico. Sinais disto podem ser observados na introdução do ensino religioso de forma tendenciosa e prática nas escolas públicas, nas autoriddes religiosas aparecendo cada vez mais em eventos públicos e na mídia de massa, nas orações coletivas em partidas de futebol televisionadas, no crescente debate sobre a censura da Internet nos períodos de eleição e, a esta altura, não é difícil uma lei absurda como a que vimos acima chegar a ser aprovada na esfera do Senado Federal, com consequências assombrosas nas tomadas de decisão mais importantes para a nossa sociedade.

Um estado religioso é por definição um estado tendencioso e irracional. O Regime Teocrático é um sistema de governo no qual a máxima autoridade política é exercida por pessoas que se consideram representantes de Deus na Terra. Nas Teocracias, o governante tem ao mesmo tempo o poder político e religioso e, pelo fato de se achar legítimo representante da vontade de Deus (sendo isso, obviamente, uma premissa monstruosamente questionável por razões que eu nem citarei aqui por falta de espaço) o país sob tal comando fica a mercê da total arbitrariedade religiosa de um pessoa ou de um grupo restrito de pessoas. Mas isso está longe de acontecer aqui no Brasil, certo? Essa é justamente a minha esperança pois, deixar de ser um país laico (condição oficialmente respaldada pela constituição) para, mesmo que muito improvavelmente, virar um Estado Teocrático só vai agravar muito a nossa já difícil situação.

Sei que muitos irão dizer que estou sendo demasiadamente exagerado em meus alertas e espero honestamente que eu esteja redondamente enganado. Mas não posso deixar de ser uma voz de alerta, mesmo correndo o risco de ser exagerado e repetitivo, naquilo que parece ser uma multidão silenciosa de conivência ou talvez até covardia perante os avanços da religiosidade em todas as esferas da nossa sociedade. A crescente necessidade de manifestação pública, o ímpeto de se levantar uma bandeira, a escalada da evangelização via mídia de massa, a proliferação de Igrejas com públicos-alvo bem definidos e agora a "exportação de Igrejas" para outros países (vide o caso surreal da esposa do Kaká no
site de notícias do BOL) são sinais de um avanço cada vez mais ousado, meticuloso e perigosamente ambicioso do cristianismo em suas mais diferentes formas.

Abs:
Marcio

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