segunda-feira, 11 de maio de 2009

Evangelização

Em um almoço típico de Domingo, fui perguntado sobre qual seria a minha religião. Disse aos presentes que não seguia religião alguma e, durante alguns segundos, aquela resposta soou como algo inaceitável. Talvez fosse preferível eu dizer que era budista, muçulmano, umbandista mas, alguém sem religião, pareceu um problema que deveria ser resolvido imediatamente. Uma oportunidade de fazer uma boa ação, dar um objetivo à minha vida e corrigir um grave defeito da natureza. Apesar de pouco tempo depois ter sido externado que respeitavam meu posicionamento, uma tentativa de evangelização foi iniciada. Um dos presentes mencionou que, embora ele tivesse o maior respeito pela minha postura, ele tinha o "dever de me aconselhar". Ouvi o aconselhamento na forma de leitura de um trecho bíblico, alguns comentários se seguiram e, diante de minha postura passiva e silenciosa, a estória terminou tão repentinamente como começou.

A experiência acima vivenciada por mim revela vários aspectos interessantes de serem analisados sob o ponto de vista da psicologia humana mas, desta vez, focarei apenas na dinâmica dos paradigmas.

A definição da palavra "paradigma" significa literalmente "modelo", dentro do qual, existe um conjunto de regras e padrões que determinam os limites de uma abordagem qualquer. Isto é, em outras palavras, seria um modelo teórico utilizado para entender e interpretar a nossa própria realidade. São os paradigmas que definem aquilo que é certo ou errado, aquilo que é possível ou impossível realizar em um determinado momento histórico de uma cultura. Os paradigmas, na verdade, nada mais são do que as maneiras pelas quais nós fazemos ou pensamos qualquer tipo de coisa, princípio cuja essência não significa, em absoluto, que tais maneiras sejam as únicas existentes ou talvez as mais adequadas para interpretar uma situação. Deste modo, os paradigmas são uma espécie de filtro mental, através do qual, as informações são previamente selecionadas de acordo com as crenças e os valores de um indivíduo, de um agrupamento de pessoas ou de uma sociedade. Para completar o raciocínio descritivo da palavra, achei este texto interessante na Internet:

"Aqueles que partilham de um determinado paradigma aceitam a descrição de mundo que lhes é oferecida sem criticar os fundamentos íntimos de tal descrição. Isto significa que o olhar deles está estruturado de maneira a perceber só uma determinada fração de fatos e as relações entre esses fatos. Qualquer coisa que não seja coerente com tal descrição passa desapercebida, sendo vista como um elemento marginal ou sem importância" (fonte:site da UCB).

E foi exatamente isso que ocorreu comigo. Não houve nem ao menos uma curiosidade para saber quais seriam as motivações que me levaram a ter tal posicionamento, sendo muito mais importante convercer-me que a minha visão deveria se enquadrar no paradigma do grupo ali presente.

Um exemplo típico de como funcionam os paradigmas foi a certeza geral de que a Terra era o centro do universo e o Sol, por sua vez, um astro que girava ao redor do nosso planetinha. Milhares de anos se passaram e algumas pessoas foram assassinadas até que o paradigma antigo fosse substituído pelo fato de que é a Terra que orbita ao redor do Sol e nós não estamos no centro de absolutamente nada. Outro exemplo bem mais recente no mundo da ciência foi o consenso geral de que não poderia haver planetas além do nosso sistema solar, sendo hoje conhecidos mais de 200 planetas extra-solares, número que poderá aumentar com o lançamento da sonda Kepler pela NASA. Um clássico exemplo de que a ficção de hoje pode ser a realidade de amanhã e não é pelo fato de um grande número de pessoas acreditar em algo que esse algo deve necessariamente existir ou ser uma interpretação confiável da realidade ao nosso redor.

Desta maneira, podemos perceber que existem vários tipos de paradigmas, sejam eles científicos, ideológicos, filosóficos, religiosos, etc. Porém, os mais difíceis de serem quebrados, mesmo em parte, são os religiosos, devido ao poder emocional dos dogmas e a cegueira causada pelas certezas absolutas. Muita gente pode inclusive passar a vida inteira dentro de apenas um único paradigma, sem suspeitar que a pessoa ao lado (um primo, um amigo, um vizinho) tinha um pensamento diferente que poderia ser até interessante de ser conhecido. Um "universo paralelo" ali, cheio de possibilidades, sempre disponível em termos de proximidade, mas inacessível por causa do poder limitante dos paradigmas. Em 37 anos de existência, essa foi a primeira vez que passei por uma experiência de ser evangelizado. Embora tenha cruzado com religiosos ao longo da minha vida, ninguém nunca chegou até a mim para tentar convencer-me de que seu paradigma deveria substituir o meu. Com um certo pesar, observo isso acontecer em pleno século XIX, no mesmo dia em que o padre Fábio de Melo é entrevistado no Faustão e menciona várias vezes a palavra "evangelização" seguida de aplausos da platéia. Mais um dia de tristes constatações sobre os rumos que nosso mundo parece estar tomando. Para maiores informações a respeito dessas evidências em nossa sociedade, vide o post "Liberdade!?!?!" e "Segunda Idade das Trevas"...

Abs:
Marcio

3 comentários:

  1. Caro amigo Márcio, concordo que ter dito que não tinha religião soou inaceitável. Mas discordo que teria sido melhor dizer que era budista, umbandista ou coisa parecida. Creio que havia possibilidades reais da situação ter se complicado mais ainda. Já pensou uma religião sem Deus, como o budismo? Como compreender isso facilmente, sem informações adequadas? Para alguns, coisas como essa jamais conseguirão fazer sentido.

    Quanto ao processo de evangelização, ainda não acho que tenha chegado a esse ponto. A simples leitura de um trecho bíblico é ainda muito "lite". Ao meu ver essa situação pode ficar bem mais complexa. Mas veremos... rs.

    Pra mim, o mais triste (triste mesmo) é a total falta de "curiosidade", a inexistência de qualquer interesse em realmente tentar entender o seu ponto de vista. Isso pra mim é muito grave e é consequência de uma séria de fatores destruidores do potencial humano. A curiosidade é uma das coisas que temos de melhor e está longe de pertencer somente aos humanos. Ela deveria surgir naturalmente e continuar impulsionando nossa espécie a compreender cada vez mais tudo que existe, assim como deveria ser uma das molas propulsoras das habilidades de observar, perceber e refletir (pensar). Como é possível que processos sociais de educação e formação humana consigam destruir nossa curiosidade? A impressão que existe é que já sabemos tudo o que realmente precisamos. Que absurdo! E, com isso, algo chamado "insatisfação" - com exceção da insatisfação financeira é claro - passa a ser habilidosamente satisfeita. Se estamos "satisfeitos", de onde virá a curiosidade e a necessidade de melhorar qualquer coisa? Uma pena tudo isso...

    Abraço...

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  2. Bom minha pergunta é: Acredita em Deus? Se sua resposta for não, peço a você meditar no que vejo que gostas muito o Universo. Como um lugar tão cheio de coisas fantásticas possa ter surgido do nada ou uma explosão e ter ficado tudo tão perfeito? É o mesmo que dizer que uma Tipografia explodiu e assim surgiu um livro! Seria impossível você diria, pois a tipografia, a escrita veio da inteligência do ser Humano, e quem deu essa inteligência a nós meros seres humanos mortais?
    Mas se acredita em Deus, você pode esta desconsolado com tanto sofrimento que existe no mundo. A cada ano, década e século que passa a situação do mundo piora. O que é interessante é que o ser humano tem inteligência para criar máquinas incríveis, para pesquisar e encontrar soluções para muitos dos nossos problemas, mas o ser humano não usa a inteligência dada por Deus para o bem geral, mas para seu bem próprio, se esquecem de compartilhar com o resto da humanidade. Tudo devido a ganância e poder. Mas será que é isso que Deus quer para nós? Não, apesar de as coisas parecerem que não terão mais jeito, que estão indo de mal a pior, que o ser o humano irá destruir a Terra tão maravilhosa que Deus criou, ele promete que irá arruinar aqueles que arruinam a Terra (Apocalipse 11:18) E todos esses problemas que aumentam é sinal de que o tempo de ele agir está perto, Jesus disse que estes seria os sinais da aproximação de seu Reino (Mateus 24: 6-14) Sei que existem inúmeras religiões e que fica difícil saber qual poderá lhe dar uma respostas satisfatória a perguntas como: Será que existe um Criador? Será que Ele se importa conosco? A guerra e o sofrimento acabarão algum dia? O que acontece depois da morte? Há alguma esperança para os mortos? Como posso encontrar a felicidade? Se você desejar poderá obter respostas a essa e outras perguntas com as Testemunhas de Jeová elas terão o prazer de lhe ajudar a entender muitas coisas que talvez tenha dúvidas. Visite o site www.watchtower.org e veja como funciona nossa obra e o que realmente ensinamos. Qualquer dúvida sobre nossas crenças é só pedir uma visita sem compromisso para assim entender um pouco mais sobre nós e sobre Deus cujo o nome é Jeová.

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  3. Olá Anônimo,



    Não me considero um ateu propriamente dito. Todavia, tenho simpatia pelos verdadeiros ateus e tenho dificuldades em definir o que seria Deus afinal. Se Ele de fato existe, não pode ser o Deus Bíblico. O Deus descrito na Bíblia é demasiadamente humano, com muitas carências, problemas de personalidade, problemas comportamentais, agressividade, tirania, tudo visivelmente humano, ainda mais o Deus presente no velho testamento, o qual é chamado de Yaveh ou Jeová. Além disso, é óbvio que estamos falando de textos que foram criados pelo ser humano, o qual criou Deus à sua imagem e semelhança e o descreveu em um livro que já foi criado com muitas deturpações e ainda foi muito manipulado ao longo da História. Portanto, tratam-se de textos que estão longe de poderem ser encarados como uma fonte confiável de informação.


    Desta maneira, além do Deus Bíblico ser demasiadamente humano e estar descrito em textos muito duvidosos, pensar em um Deus que intervem diretamente nas questões humanas mais corriqueiras, embora seja um pensamento muito popular, é algo extremamente sem sentido, haja visto justamente o tamanho paradoxal do universo e com sabe-se lá quantas criaturas inteligentes espalhadas pelo espaço infinito. Se formos considerar ainda as teorias advindas da fronteira dianteira da física e cosmologia modernas, as quais dão conta da existência de universos paralelos, essa intervenção de Deus diretamente sobre as questões humanas passa a ser simplesmente ridícula. Se Deus existe, ele não pode ter um interesse especial pelos problemas cotidianos da vida de algumas pessoas, privilegiadas pela fé em uma religião x, que moram em um planetinha muito insignificante da periferia de uma galáxia gigantesca entre milhões de outras existentes (esse número não pára de crescer a medida que os nosso telescópios ficam mais potentes) e, talvez, em apenas um dos dos múltiplos universos existentes. Isso é provavelmente uma das teorias mais sem sentido que eu conheço.

    
De fato, admiro muito o universo, principalmente pela sua grandeza infindável e por quanto que o nosso conhecimento ainda é incapaz de responder as inúmeras indagações que surgem ao aprofundarmos nosso conhecimento sobre o ele. Quanto mais se sabe respeito do universo, mais o Deus bíblico tradicional deixa de ter sentido. Se formos considerar hoje o conhecimento acumulado a respeito do universo e formos compará-lo friamente com as informações contidas na Bíblia, veremos que tratam-se de abordagens absolutamente incompatíveis. Qualquer pessoa com certos conhecimentos sobre astronomia ou cosmologia que considera a Bíblia no sentido religioso (e não histórico) é uma pessoa que está se enganando, cobrindo o Sol com uma peneira ou tentando enfiar um quadrado em um buraco triangular: só vai encaixar forçando muito ambas as estruturas e o resultado final não ficará nada convincente. Enfim, considerar a Bíblia além do contexto histórico é viver na Idade Média em pleno século XXI. Para entender melhor essa total falta de encaixe entre realidade (universo) e interpretação da realidade (Bíblia), sugiro assistir o vídeo Pálido Ponto Azul que eu postei no texto de apresentação deste blog. Vale a pena dar uma olhada e eu acho que exemplifica bem o que eu estou tentando dizer.



    Abs:

    Marcio

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