sexta-feira, 17 de abril de 2009

Segunda Idade das Trevas

O vídeo "Pálido Ponto Azul", o qual faz parte do texto de apresentação deste blog, causou um forte impacto em minha forma de pensar e pode servir de reflexão sobre a sua forma de oposição mais exacerbada: o universo religioso. Eu não sei o quão velho esse video é, o próprio Carl Sagan faleceu em 1996 e, portanto, não se trata de algo muito recente. Embora antigo, o vídeo constitui uma lição de humildade muito atual, colocando-nos em nosso verdadeiro lugar e fazendo-nos refletir sobre a nossa imensa falta de parâmetros para definir os objetivos da vida ou a própria dinâmica do universo. A própria vida de Carl Sagan foi dedicada a divulgação da astronomia para o público leigo e, se formos atrás do legado dele, vamos encontrar muita informação compreensível para nós, "leigos em ciência", sendo portanto informações úteis disponíveis pelo menos desde a década de 1980. E o mais paradoxal é que muita gente nem sabe quem foi "esse tal de Carl Sagan" e muito menos ainda o legado que ele deixou, não havendo desculpa aqui para uma falta de reconhecimento do seu trabalho em vida ou em morte por tratar-se supostamente de um evento recente.

Bom, ninguém é obrigado a conhecer o Carl Sagan mas, o que ainda me surpreende é o fato de como as pessoas não possuem mínimas noções sobre astronomia/cosmologia nos dias de hoje e, a despeito dos problemas crônicos de formação educacional que eu nem entrarei no mérito aqui, tal desconhecimento também se deve à influência das religiões (e aqui vou focar apenas no universo cristão - católicos/evangélicos, por serem exemplos mais próximos da nossa realidade). Fornecendo um complexo pacote de respostas prontas, a visão cristã desistimula a curiosidade e o questionamento, mantendo as pessoas ainda hoje sob um falso véu de satisfação em relação ao seu nível de conhecimento. Assim, vemos que atualmente, em plena era de exploração espacial, com milhares de informações fornecidas pelo Hubble bem como missões à Marte e suas maravilhosas descobertas, ainda há muita gente que não tem a mínima noção do quão vasto é o universo e de quanto a nossa visão sobre a vida está em xeque ao tomarmos consciência da imensidão paradoxal na qual estamos inseridos.

A ignorância neste aspecto é tão absurda que chega ao ponto de ser risível quando você começa a falar sobre o tamanho do universo, a probabilidade de existir vida inteligente espalhada pelo cosmo, etc. Tudo isso é visto como crença em fadas, elfos, coelhinho da páscoa, macumba, loira do banheiro, etc. Ao passo que acreditar que o planeta Terra possui apenas alguns milhares de anos, que somos frutos de Adão e Eva, que a Bíblia foi um livro escrito por Deus e que os evangelhos são textos acima de qualquer suspeita sobre a vida de Jesus são encarados como "fatos inquestionáveis". Ou seja, existe uma inversão de valores, onde a crença religiosa é vista de uma forma objetiva e as evidências científicas como algo subjetivo e passível de ser até ridicularizado. E isso eu não estou falando da boca para fora, já observei o sorriso de desdém de algumas pessoas ao tentar conversar sobre assuntos que envolvam ciência, embora eu seja apenas um admirador e não um cientista.

Eu sei que a ciência pode ser utilizada como religião, existem inúmeros cientistas arrogantes por aí, pessoas utilizando a ciência em benefício próprio e outro "senões" com os quais eu não posso deixar de concordar. Mas o aspecto mais interessante da "visão científica" (e não dos "cientistas") é que ela permite encarar humildemente nossas limtações frente à realidade, deixando muita coisa em aberto e tornando pacífica a nossa convivência com a dúvida. E isso é o oposto do que eu tenho visto, pois a prepotente convicção cristã é passível de causar muito estrago (ao contrário de mim, gravetinho fraco lutando para ficar de pé contra o turbulento fluxo da sociedade). Parafraseando um cientista que deu uma entrevista recentemente no programa "Are We Alone?" do Instituto SETI: "...um americano médio, morando no estado da Georgia, dirigindo sua caminhonete altamente poluidora, consumindo tudo em demasia e achando que a Terra acabará em breve mas que ele, como bom cristão, estará salvo para viver eternamente ao lado de Deus" é a concepção simplificada do que o futuro reserva para a gente. Se formos entrar aqui no mérito do fundamentalismo religioso, do quanto as pessoas estão utilizando a Internet para reforçarem suas convições sectárias e isso inflar ainda mais sua arrogância, aí sim vamos ter que reconhecer que estamos a caminho de uma "Segunda Idade das Trevas", talvez pior que a primeira...

Abs:
Marcio

2 comentários:

  1. Grande Marcio,

    Me lembro que nos anos 1980 havia um programa na TV chamado Cosmos do Carl Sagan, não tenho certeza mas, acho que era apresentado por ele. Foi nessa época que comecei a olhar para o céu e acreditar que havia vida “lá fora”, mesmo que o foco do programa não fosse esse e, por conseqüência começar o meu distanciamento das religiões que, muito tempo depois tive coragem de assumir.
    Muito bom esse vídeo Pálido Ponto Azul, e como você bem disse “constitui uma lição de humildade muito atual”.

    Abraço!

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  2. Sim Wagner. O programa era apresentado pelo Carl Sagan mesmo. Foi através desse programa que eu tive meus primeiros contatos com Cosmologia. Se estiver interessado, tem muita coisa dele no YouTube. Vale a pena.

    Abs:
    Marcio

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