quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Crescei e Multiplicai-vos

Ao aguardar um prato feito em um restaurante do Top Center da Avenida Paulista, fiquei obervando quantas pessoas trafegavam pelo local. Já havia notado o enorme fluxo de pessoas na calçada e agora observava os transeuntes indo e vindo, subindo e descendo as escadas rolantes, desputando um lugar para comer em uma praça de alimentação completamente lotada.

Ao observar todo o movimento, fiquei especulando sobre o quanto somos hoje em dia e quais as consequências do nosso impacto sobre o meio ambiente. Em um artigo da Veja online eu li recentemente que a população mundial atual gira em torno de 6,8 bilhões, chegando aos 7 bilhões em 2012 e aos 9 bilhões em 2050! E aí eu me pergunto: para que tanta gente? Isso é realmente necessário? Ou, muito pelo contrário, é um sinalizador de um problema seríssimo que é o crescimento desenfreado e sem lógica da raça humana, análogo ao crescimento indesejado de um câncer? Se pararmos para analisar a questão em profundidade, veremos que infelizmente somos um problema tanto para o planeta Terra.

Quem viu o documentário da NatGeo Hits chamado “O Consumo Humano” (Human Footprint) sabe o quão assustador é o nosso impacto predatório sobre o meio ambiente. As estatísticas foram feitas com base no consumo médio dos ingleses ao longo de suas vidas, resultando em números alarmantes por indivíduo: 74.800 xícaras café, 30.000 barras de chocolate, 8 carros, 7.163 banhos, 656 sabonetes, 11.000 absorventes femininos, 6.000 litros cervejas, 1.694 garrafas de vinhos, 4.388 rolos de papel sanitário, 50 toneladas de comida e por aí vai. Agora, imaginem isso multiplicado por 7 ou 9 bilhões de pessoas!

Em que pese aqui a imensa complexidade do tema, a ausência de controle da natalidade deve-se, em parte, à influência da religião. A popular expressão bíblica “Crescei e multiplicai-vos” (Genesis 1:28) costuma ser usada para justificar o comportamento completamente fora de controle no que se refere à temática da procriação. Mas pior ainda é o restante do versículo: “Enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. Ou seja, “atue sobre o mundo de uma forma predatória”, dando idéia de que além de ser desejável uma multiplicação desenfreada, os recursos naturais existem para serem explorados à vontade pelo ser humano. Sim, está na Bíblia, com todas as letras para quem quiser enxergar.

O fato do Vaticano ser contra o uso da camisinha assim como outras vertentes cristãs são a favor do sexo apenas para finalidades reprodutivas é uma forma totalmente inconsequente e prejudicial de ver o mundo. A disseminação de doenças sexualmente transmissíveis e o total descontrole sobre a natalidade são os resultados nefastos da visão pecaminosa envolvendo o sexo que o Cristianismo dissemina de uma forma ou de outra. A reprovação do prazer sexual, então, só pode ser encarado como uma piada e mostra-se totalmente na contramão da abordagem de outras crenças que encaram o prazer sexual com muita naturalidade (vide a filosofia tântrica no Hinduísmo ou a divindade Baco – ou Dionísio – dentro do panteão greco-romano).

Isso sem mencionarmos a questão do estupro. A recente polêmica causada pela barbaridade envolvendo o caso da menina de 9 anos em Alagoinha, Pernambuco, que foi estuprada pelo padrasto e ficou grávida de gêmeos é um claro exemplo de total despreparo da Igreja para lidar com o assunto. A menina foi submetida à uma cirurgia para interromper a gravidez de altíssimo risco e depois, o infeliz Arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, comentou que o aborto é um crime mais grave do que o estupro, excomungando da Igreja Católica a mãe e os médicos envolvidos no procedimento cirúrgico (vejam a matéria no site da Folha). O estuprador não foi excomungado (pasmem!) e o enorme sofrimento da menina de 9 anos foi completamente desconsiderado pelo religioso.

Assim, vemos que a abordagem do sexo, do controle da natalidade, da procriação e do estupro por parte do Cristianismo reflete apenas um aspecto da influência perniciosa desta religião sobre os rumos do mundo. Outros aspectos negativos da sua forte influência sobre a sociedade serão abordados mais adiante, em um momento mais oportuno.

Enquanto isso, sugiro que façamos muito sexo regrado apenas por uma boa dose de consciência.

Abs:

Marcio

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