domingo, 14 de novembro de 2010

Definição de Cristianismo

Pode soar estranho uma justificativa antes do post propriamente dito mas, devido ao momento em que vivemos, infelizmente, faz-se necessário um preâmbulo com o intuito de estimular a leitura deste blog ao invés de gerar repulsa. Consciente de que um alto nível de repulsa será sempre inevitável por eu escrever aquilo que penso, tento minimizar a gravidade do impacto o máximo que eu posso. Em um mundo cada vez mais religioso, não é minha intenção chocar as pessoas e sim estimular o pensamento ou gerar a reflexão. Somente isso.

Complementando o post anterior (“Campanha OUT!”), reforço a idéia de que não me considero um ateu propriamente dito mas acho muito salutar o exercício de pararmos por um momento para pensar de uma forma diferente. Mesmo que não sejamos ateus, é de extrema importância dar vazão e espaço para que ateus, céticos e agnósticos manifestem suas idéias com o intuito de promover uma sociedade muito mais equilibrada, democrática e justa, fazendo o contraponto para a mesmice promovida pela disseminação homogênea do pensamento religioso. Uma reação automática de repulsa diante de um pensamento diferente do nosso é um sintoma de que temos, em maior ou menor grau, uma doença extremamente grave chamada fanatismo.

Feita a ressalva inicial, divulgo um texto que eu vi no site “Café Press”, na sessão de camisetas com dizeres ateístas. Em uma das camisetas, li uma extraordinária definição de Cristianismo. A despeito das esperadas justificativas em favor de um “sentido metafórico”, lugar-comum no seio daqueles que julgam ser “religiosos mais intelectuais”, peço o esforço para lerem a definição sem o pesado fardo das premissas que todos nós carregamos. Mais uma vez, vale muito a pena parar por um instante e pensar a respeito, por mais que o exercício cause dor em nossa alma. Eis a definição:

Cristianismo: a crença de que um zumbi judeu cósmico, o qual era pai de si mesmo, pode fazer você viver para sempre se você, simbolicamente, comer sua carne e dizer que aceita-o telepaticamente como seu mestre, de forma que ela possa remover a força maléfica da sua alma que está presente na humanidade como um todo por causa de um mulher nascida de uma costela, a qual foi convencida a comer um fruto proibido de uma árvore mágica pela astúcia de uma cobra falante.

Faz todo o sentido do mundo.

Abs,

Marcio

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Campanha OUT!

Já mencionei algumas vezes que não me considero um ateu propriamente dito e sim uma pessoa agnóstica ou um livre pensador. Mas acho mais do que legítimo a campanha encabeçada pelo famoso biólogo britânico Richard Dawkins: "Ateus, saiam do armário". E por quê eu acho isso, para o desespero da maioria das pessoas? Justamente por isso: por causa de uma maioria sufocante. Em outras palavras, já tem gente em demasia fazendo o contrário: gente demais falando sobre Deus, sobre o que seria Deus, sobre como Deus agiria sobre o mundo e o que é pior: sobre como nós deveríamos agir e pensar diante desse "Deus". Gente demais dizendo como eu e você deveríamos pensar, se comportar e, por fim, viver. Desta maneira, está mais do que na hora de promover um equilíbrio entre forças, uma vez que se há plena liberdade para as pessoas expressarem sua fé, tem que haver necessariamente a mesma liberdade para as pessoas expressarem sua "ausência-fé". E é com esse espírito de justiça que divulgo a Campanha Out no meu blog:

Ateus sempre estiveram na vanguarda do pensamento racional, e agora você pode compartilhar seus ideais fazendo parte da Campanha OUT.

come out

Ateus são muito mais numerosos do que a maioria das pessoas imagina. Saia do armário! Você se sentirá livre, e seu exemplo vai encorajar outros a sair também (Não "tire" ninguém, espere que eles saiam por si mesmos quando estiverem prontos).

reach out

A Campanha OUT permite aos indivíduos mostrar aos outros que não estão sozinhos. Também pode ser uma boa forma de se iniciar uma conversa e ajudar a demolir os estereótipos negativos dos ateus. Deixe o mundo saber que não estamos prestes a desaparecer e que não vamos permitir que aqueles que nos condenam empurrem-nos para as sombras.

speak out

À medida que mais e mais pessoas aderirem à Campanha OUT, menos e menos pessoas se sentirão intimidadas pela religião. Nós podemos ajudar os outros a compreender que existem ateus de todas as formas, tamanhos, cores e personalidades. Somos trabalhadores e profissionais. Somos mães, pais, filhos, filhas, irmãs, irmãos e avós. Nós somos humanos (somos primatas) e somos bons amigos e bons cidadãos. Somos boas pessoas que não têm necessidade de se agarrar ao sobrenatural.

keep out

É tempo de deixar as nossas vozes serem ouvidas quanto à intrusão da religião nas nossas escolas e na política. Ateus, juntamente com milhões de outros estão cansados de ser intimidados por aqueles que empurram seus próprios conceitos religiosos garganta abaixo de nossos filhos e nossos governos. Precisamos manter o sobrenatural fora de nossos princípios morais e políticas públicas.

É hora de dar um passo a frente e... sair do armário.

stand out

Temos muitos planos e atividades para a Campanha OUT, por isso não deixe de visitar OutCampaign.org para as últimas informações.

Sites relacionados:

No Orkut: http://www.orkut.com/Main#Community?cmm=43326894

Site oficial do Richard Dawkins: http://richarddawkins.net/


sábado, 16 de outubro de 2010

O Governo Que Merecemos

Em meio à descomunal imundice política e ao fétido cenário do período de pré-eleição, não resisti à tentação de postar um excelente texto que recebi por e-mail, o qual descreve com bastante maestria e perspicácia a realidade do nosso país. Apesar da autoria ter sido atribuída ao Arnaldo Jabor (coisa que descobri não ser verdade, assim como outros inúmeros textos na Internet erroneamente atribuídos à Eistein, Gandhi e outras ilustres personalidades), isso não tira o brilho do que foi escrito. Eis o referido texto em itálico e meus comentários no final:

"1) Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca.

Eleger para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida; Pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza; Aceitar que ONG's de direitos humanos fiquem dando pitaco na forma como tratamos nossa criminalidade... Não protestar cada vez que o governo compra colchões para presidiários que queimaram os deles de propósito, não é coisa de gente solidária. É coisa de gente otária.

2) Brasileiro é um povo alegre. Mentira. Brasileiro é bobalhão.

Fazer piadinha com as imundices que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada. Depois de um massacre que durou quatro dias em São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça, é o mesmo que contar piada no enterro do pai. Brasileiro tem um sério problema. Quando surge um escândalo, ao invés de protestar e tomar providências como cidadão, ri feito bobo.

3) Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira. Brasileiro é vagabundo por excelência.

O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país, surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade, são oriundos do povo. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês, para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe lá no fundo que se estivesse no lugar dele faria o mesmo. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.

4) Brasileiro é um povo honesto. Mentira. Já foi; hoje é uma qualidade em baixa.

Se você oferecer 50 Euros a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente irá preso. Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.

5) 90% de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira. Já foi.

Historicamente, as favelas se iniciaram nos morros cariocas quando os negros e mulatos retornando da Guerra do Paraguai ali se instalaram. Naquela época quem morava lá era gente honesta, que não tinha outra alternativa e não concordava com o crime. Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como 'aviãozinho' do tráfico para ganhar uma grana legal. Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3 mas não milhares de pessoas. Além disso, cooperariam com a polícia na identificação de criminosos, inibindo-os de montar suas bases de operação nas favelas.

6) O Brasil é um pais democrático. Mentira. Num país democrático a vontade da maioria é Lei.

A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi morto numa troca de tiros, foi executado friamente. Num país onde todos têm direitos mas ninguém tem obrigações, não existe democracia e sim, anarquia. Num país em que a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria barulhenta, não existe democracia, mas um simulacro hipócrita.

Se tirarmos o pano do politicamente correto, veremos que vivemos numa sociedade feudal: um rei que detém o poder central (presidente e suas MPs), seguido de duques, condes, arquiduques e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos, vereadores). Todos sustentados pelo povo que paga tributos que têm como único fim, o pagamento dos privilégios do poder. E ainda somos obrigados a votar. Democracia isso? Pense!

7) O famoso jeitinho brasileiro.

Na minha opinião, um dos maiores responsáveis pelo caos que se tornou a política brasileira. Brasileiro se acha malandro, muito esperto. Faz um 'gato' puxando a TV a cabo do vizinho e acha que está botando pra quebrar. No outro dia o caixa da padaria erra no troco e devolve 6 reais a mais, caramba, silenciosamente ele sai de lá com a felicidade de ter ganhado na loto.... malandrões, esquecem que pagam a maior taxa de juros do planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação, mas e daí? Afinal somos penta campeões do mundo né??? Grande coisa...

8) O Brasil é o país do futuro.

Caramba, meu avô dizia isso em 1950. Muitas vezes cheguei a imaginar em como seria a indignação e revolta dos meus avôs se ainda estivessem vivos. Dessa vergonha eles se safaram... Brasil, o país do futuro !? Hoje o futuro chegou e tivemos uma das piores taxas de crescimento do mundo.

9) Deus é brasileiro.

Puxa, essa eu não vou nem comentar... O que me deixa mais triste e inconformado é ver todos os dias nos jornais a manchete da vitória do governo mais sujo já visto em toda a história brasileira.

Para finalizar tiro minha conclusão:

O brasileiro merece! Como diz o ditado popular, é igual mulher de malandro, gosta de apanhar. Se você não é como o exemplo de brasileiro citado nesse e-mail, meus sentimentos amigo, continue fazendo sua parte, e que um dia pessoas de bem assumam o controle do país novamente. Aí sim, teremos todas as chances de ser a maior potência do planeta. Afinal aqui não tem terremoto, tsunami nem furacão. Temos petróleo, álcool, bio-diesel, e sem dúvida nenhuma o mais importante: Água doce!

Só falta boa vontade. Será que é tão difícil assim?"

Minha opinião:

Aeh o Silvester Stallone vem ao Brasil e depois comenta em uma coletiva nos EUA sobre o que achou do nosso país: "Lá você pode atirar nas pessoas, explodir coisas e eles dizem 'obrigado'! E aqui está um macaco para você levar para casa". E o brasileiro ainda sente-se indignado com a declaração! Indignado com o quê, se é a mais pura verdade? Brasileiro é assim: idiota por natureza.

O que esperar de um país onde as igrejas evangélicas tomam conta de todos os horários da TV aberta ao passo que a educação fica praticamente morta nessas mesmas emissoras? O que esperar de um país em que professores ganham um salário absurdamente ridículo e pastores ganham fábulas de dinheiro? O que esperar de um país onde eu e você, se quisermos ter um emprego público, vamos ter que estudar feito loucos, sabe-se lá durante quanto tempo, ao passo que, para ser político (também cargo público), nem alfabetizada a pessoa precisa ser?

A verdade dói e muito. Mas não há remédio mais forte para iniciar o nosso longo processo de cura do que aceitar a verdade dos fatos... Se a gente não reconhecer humildemente a dura realidade da nossa condição atual, podemos esquecer qualquer promessa de futuro promissor, seja ela oriunda dos discursos megalomaníacos e desvairados de Dilma Rousseff ou das declarações sem sal e sem açúcar de José Serra...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Para Quem Acredita (parte 3)

Finalizando a série de posts “Para Quem” (recomendo a leitura dos últimos 3 posts pois estão todos interligados), nem tudo são flores neste mundo de experiências insólitas daqueles que buscam trilhar o tortuoso caminho do conhecimento. A busca por respostas passa necessariamente por muitos desafios, os quais nem sempre são superados pela gente. E é sobre isso que eu falarei agora.

No post anterior eu fiz uma breve introdução à Missão Rama do Brasil e, apesar dos elogios que fiz e sempre faço à experiência pela qual eu passei, não posso deixar de levantar críticas ao processo. Para quem leu os posts anteriores eu peço licença agora para escrever a respeito de algo que, apesar de ser muito particular de quem participou da Missão Rama, é um problema para todos nós em maior ou menor grau: não assumir nossos inúmeros erros. A Missão Rama do Brasil sofreu com vários erros humanos e seria uma traição absurdamente grande ao próprio discurso original ignorar por completo tais erros. Por isso, passo agora para o questionamento, ferramenta que integrava a espinha dorsal do projeto, para falar de alguns aspectos equivocados que, até hoje, representam a linha de pensamento de muitos ex-integrantes.

A descrição da Missão Rama, seja por escrito ou no discurso falado, sempre foi muito ousada e desafiadora e, por isso mesmo, me atraiu logo de cara. No final do livro “OS Semeadores de Vida”, existem dois trechos que descrevem de uma forma bem resumida o objetivo do trabalho, os quais eu transcrevo em seguida:

O Projeto Rama não é dono de nenhuma verdade, de nada que seja definitivo. O que temos a mostrar é o que agora nos parece mais coerente e mais prático, sendo que amanhã poderá ser substituído por uma nova descoberta, por uma outra conclusão ou até por uma nova proposta. Nós não temos nada determinado ou determinante, a não ser o objetivo de errar menos. Nós não temos verdades, apenas perguntas objetivando respostas. Não temos líderes, apenas seres humanos irmandados na construção e realização de um futuro.”

O Projeto Rama é um movimento sem qualquer vínculo econômico, não existindo circulação de dinheiro em hipótese alguma. Existimos como uma proposta que visa estruturar uma base para o trabalho de reformulação, tanto de parâmetros como de referências e critérios de análise. Questionar os processos convencionais de aprendizagem, assim como os valores convencionalizados. Procuramos refletir sobre as relações culturais que determinam as convenções, para poder evidenciar as falhas que ocorrem no processo formativo psicológico e social do indivíduo, e descobrir o que verdadeiramente existe por detrás do universo material. Buscamos ter acesso aos mistérios da vida e da morte, sem ter, para isso, qualquer compromisso doutrinário. Nossa descoberta é própria e livre, pois não existe para provar se somos melhores, apenas para saber e identificar em que direção nos devemos mover.”

E é partindo dessas descrições que eu questiono agora os próprios mitos e dogmas da Missão Rama. São chavões e linhas de raciocínio que foram criados e sedimentados como verdades ao longo do tempo, indo contra os princípios da própria proposta original. E é por isso que este texto finaliza a série “Para Quem”. Espero que fique claro para quem leu os 3 posts anteriores o quão ingênuas são certas premissas que ainda “pairam no ar” ao redor da cabeça de alguns ex-integrantes do Projeto.

Não pretendo ser completo aqui nestes questionamentos. Cada ponto levantado pode ser esmiuçado de inúmeras formas, existindo ainda outros mitos e senões, os quais eu não exploro por simples falta de tempo e espaço nestes posts cada vez mais longos... Mas vamos à alguns questionamentos mais imediatos na minha mente:

1) NÃO ENTREI NO PROJETO PARA VER NAVE.

Por trás deste argumento, existe uma premissa de que, em primeiro lugar, ver OVNIs seria uma coisa para pessoas baixas, ignorantes, materialistas, preocupadas com fenômenos mas não com o “desenvolvimento humano”. Pessoas que “só estão a fim de bagunça”, ou seja, “arruaceiros” e outras tolices. Quem diz isso geralmente acha-se mais “evoluído” ou “comprometido” que os demais, e coloca sua “busca espiritual” acima de “coisas sem importância”.

Este tipo de raciocínio foi e ainda é bastante comum não só entre os integrantes da falecida Missão Rama mas também na tal da “ufologia mística”. E o pior é que, quem se manifesta desta maneira, realmente não entendeu nada sobre o impacto e/ou grandeza envolvidos em um suposto contato físico. Partindo do princípio (muito benevolente de minha parte, eu confesso) que este tipo de evento é algo extremamente raro (para entender a alegação sobre a extrema raridade de contatos, vide o post “Para Quem Acredita (parte 1)”), nós não temos noção do quão arrebatador, revolucionário e transformador um fenômeno físico autêntico seria. Pensar que, dentro de uma sociedade cuja absoluta maioria das pessoas desconsidera por completo essa possibilidade, um evento físico seria algo irrelevante ou secundário é um raciocínio muito simplista de gente que acha que já aprendeu o suficiente, “conhece” ou “sabe” além da média humana. Falácia pura, traiçoeira e imensamente perigosa. Um eventual contato físico com uma civilização alienígena representaria um evento sem paralelo em nossa sociedade, uma oportunidade única e avassaladora de possuirmos uma referência externa ao nosso próprio planeta, trazendo uma avalanche de questionamentos e indagações que colocariam em xeque os próprios alicerces da nossa civilização como um todo (inclusive as concepções tidas como “avançadas” nas cabeças das pessoas sob influência da visão mística-esotérica). Um evento importantíssimo, acima da capacidade de valorização deste tipo de pessoa, a qual precisaria aprender sobre o quão incrível e bombástico um eventual contato seria para ser capaz de valorizá-lo de forma suficientemente séria. Um acontecimento que representaria um novo paradigma, um novo estilo de vida em nossa sociedade, acima dos paradigmas religiosos, esotéricos, ufológicos e outras "avançadas diferenciações". E é lógico: deduzir que os ETs pensam conforme eu penso, diferentemente da média geral de seres humanos (partindo do princípio que eu fosse partidário deste tipo de raciocínio) seria algo muito conveniente para o meu ego, já que o menosprezo por uma eventual fenomenologia física caracteriza que a pessoa já passou "dessa fase" na qual qualquer réles mortal estaria.

Enfim, quem diz que “contato físico não interessa” é porque ainda não aprendeu a fazer perguntas, justamente por achar que já possui respostas em demasia. Então, nunca se dará o trabalho de se questionar ao ponto de ser obrigado a perguntar o básico novamente. Esta pessoa está em “um outro nível”. Com esse tipo de pessoa, eu não tenho o que trocar.

2) CONTATO É ENDOSSO DE TRABALHO.

Outra falácia própria do discurso de Carlos Roberto Paz Wells, o qual sempre baseou seu trabalho, pelo menos no início, nas saídas a campo com comprovação física. Não questiono este tipo de raciocínio no início da Missão Rama mas depois de anos e anos de trabalho é notório observar que isso virou um dogma de fé. Se considerármos que apenas uma minúscula parte dos relatos de fenomenologia física é verdade (e olha que existem inúmeros relatos), mesmo assim, as condições e perfil dos “contatados” é tão diversa que seria impossível determinar um “padrão humano para o contato”, já que se um “contatado” está mantralizando e outro tomando cachaça (exagerei no exemplo apenas para ficar claro o que eu estou querendo demonstrar) não há padrão a ser seguido. Isso não existe, a não ser que houvesse um jogo no qual as “boas ações” seriam recompensadas e as “más ações” seriam punidas, sendo nós, obviamente, as cobaias dessa história. Do contrário, não dá para estabelecer um nível de entendimento e/ou comportamento humano para que o contato “ocorra como prêmio”. Trocando em miúdos, partindo do pressuposto de que alguns contatos sejam reais, isso dependeria completamente dos alienígenas, e achar que contato é “endosso de trabalho bem-feito”, como era comum de se achar na Missão Rama, é enxergar a riqueza da fenomenologia de uma forma muito linear e conveniente para nós, seres humanos. Os objetivos (nossos e os deles) não teriam que ser necessariamente casados para um encontro ocorrer. No final das contas, sempre dependerá 100% dos alienígenas, quer a gente goste disso ou não.

3) A "ELASTICIDADE" DAS COMPROVAÇÕES

A comprovação física, clara e concreta dos contatos sempre foi muito enfatizada no Projeto. Nada menos do que isso seria reconhecido. Todavia, foi incrível o quanto isso foi sendo "esticado com o tempo", fazendo com que outras coisas mais questionáveis e menos palpáveis acabassem entrando no hall de "comprovações", para nossa boa e velha conveniência, é claro. Desta maneira, eventos mais sutis e questionáveis começaram a fazer parte daquilo que muitos consideraram como "comprovações", transformando a necessária rigidez inicial, "certificado da nossa sanidade mental", em uma condescendência muito generosa. Se bem que tal fenômeno sempre partiu muito mais dos integrantes do que dos instrutores (participantes mais experientes), a falta de comprovação nos moldes iniciais fez com que alguns forçassem a barra ao incluir coisas absurdas na lista de "comprovações físicas".

4) QUEM SAI DO PROJETO É PORQUE NÃO ENTENDEU A PROPOSTA.

Se bem que isso pode ter sido verdade muitas vezes, não foi necessariamente a regra. É fácil concluir que a pessoa que está desistindo do trabalho não entendeu absolutamente nada. Pensar que “o que levaria alguém que entendeu a proposta a sair da própria proposta?” seria o mesmo que admitir que nem tudo são flores ou que a maneira como a “proposta” está sendo conduzida está deixando a desejar. E admitir nossos próprios erros é uma coisa que não gostamos de fazer, seja individualmente ou em grupo.

5) ET É ANJO, GUARDIÃO, MESTRE OU GUIA ESPIRITUAL.

Este é o sintoma mais típico de religião. Foi um problema forte e continua forte até hoje na cabeça de alguns ex-integrantes. A idéia de que os supostos alienígenas zelam pelos seres humanos, se preocupam com nossos interesses ou até mesmo nos protegem “espiritualmente” é um princípio completamente religioso. Esses alienígenas não teriam mais o que fazer no universo? Seríamos assim tão especiais? É muita pretensão da nossa parte achar que eles se envolveriam com nossos problemas cotidianos, intervindo em nossa vida para resolver questões ordinárias, as quais só cabem a nós mesmos resolver. Tais quais as linhas evangélicas apregoam a respeito da influência de Deus nas questões mais idiotas da nossa vida, há aqueles que aplicam os mesmos princípios em suas visões particulares de como seriam os alienígenas: bonzinhos, meigos, angelicais, zelosos e de fala rebuscada (é só ler algumas das supostas mensagens de ETs que existem aos montes por aí na Inernet). Considerando ainda o tema explorado no post “Para Quem Acredita (parte 2)", o qual menciona o absurdo nível de distanciamento entre nós e os eventuais ETs através da analogia das formigas, fica escancaradamente humano pensar que eles falam, pensam ou possuem valores semelhantes e convergentes com os nossos. Essas pessoas, em outras palavras, não cresceram como seres humanos, não se emanciparam, pois necessitam desesperadamente de um “pai” ou “mãe” espiritual para serem responsáveis por eles, posto que assumir que estamos por nossa própria conta e risco seria muito doloroso. Continuam em uma infância expandida, alimentando sonhos de criança ao invés de amadurecerem e assumirem a responsabilidade de suas próprias vidas. Por ser o aspecto mais religioso é o mais perigoso, visto que coloca as pessoas em uma zona de conforto difícil de ser quebrada. Quem quer sair do ventre materno, quentinho, confortável, com comida à vontade e sob total proteção da mamãe? Pois é, seria justamente esse o tamanho do problema...

6) SÓ EU TENHO A VISÃO DO TODO.

Reconheço que existem pessoas com mais experiência e/ou conhecimento do que eu. Claro. Imaginar que eu sou o suprasumo do conhecimento humano seria algo muito deprimente para mim. Todavia, aceitar que fulano está no nível X,Y,Z de consciência e eu, réles mortal, devo aceitar tudo o que ele diz sem questionar, sob o pretexto de que isso seria “respeito” eu não tolero de forma alguma. Esse é outro sintoma típico de religião, constituindo a hierarquização dentro das organizações humanas, fenômenos tão comum e ao mesmo tempo tão nefasto para o nosso desenvolvimento. E o mais inusitado a respeito disso é o fato de eu ter descoberto que não só existem pessoas deseperadas para serem líderes como, em um maior número, existem aqueles desesperados para serem liderados. É impressioante como dentro da Missão Rama esse perfil foi aos poucos aparecendo e crescendo exponencialmente com o tempo, com pessoas sedentas por um líder, um guru, um ET ou qualquer outra “forma superior” que pudesse configurar uma relação hierárquica. Gente querendo ser guiada, orientada, enfim, querendo que alguém dissesse o que elas teriam que fazer. Essa sempre foi uma tendência contra o próprio discurso original, o qual apregoava o crescimento em conjunto, a quebra de hierarquias, o aprendizado não-linear e a ausência de líderes. Mas aprender a ser “intelectualemte independente” não é uma tarefa nada fácil e muito menos óbvia. Na esmagadora maioria das vezes, temos certeza de que somos livres mas dependemos das idéias e discursos alheios para sobreviver. Ter um discurso próprio é um comportamento para poucos nesta vida. E nisso a Missão Rama pecou em deixar de desenvolver nas pessoas, embora eu reconheça que somente o tempo e a maturidade façam as pessoas agirem de uma forma diferente.

Por outro lado, a figura do Carlos Roberto Paz Wells acabou intensificando este tipo de postura algumas vezes, promovendo a hieraquização por mais que seu discurso dissesse o contrário. E quando questionado sobre este tipo de postura, algumas vezes, mostrou-se tão ortodoxo quanto os líderes religiosos ao serem questionados: agindo com destemperamento e refletindo insegurança. Centralização de “poder” (no caso, especificamente, onde se lê “poder” entenda como “conhecimento”) e estruturação hierárquica só intensificam a ignorância e a segregação, fomentando relações verticais baseadas no “cala-a-boca”. O questionamento sempre fez parte da espinha dorsal da Missão Rama e a partir do momento em que o mesmo é “visto com maus olhos”, isto significa que tudo deve parar para ser imediatamente revisto, atitude que infelizmente não ocorreu.

Mas não podemos generalizar. Tanto líderes quanto liderados erraram em maior ou menor grau e dizer que um lado errou mais do que o outro seria muito simplista da minha parte. O Projeto como um todo, sim, perdeu e muito.

Apesar destas dentre outras críticas que eu ainda teria a fazer, a Missão Rama do Brasil foi a proposta que eu conheci cujos integrantes foram mais longe em fomentar a revisão, o questionamento, o aprofundamento, a mudança, o conhecimento e o desenvolvimento real das pessoas. Nunca vi nada igual em qualquer outro grupo ou proposta de desenvolvimento. Nada nem parecido. Por isso, reconheço humildemente que os pontos positivos superaram os pontos negativos do Projeto. Mas a estrutura organizacional infelizmente acabou, talvez em parte por causa dos efeitos dos erros citados anteriormente. Assim, espero que este humilde texto possa servir de inspiração inicial para que outros ex-integrantes espalhados por aí possam se manifestar e, juntos, possamos fazer jus a algo ainda tão ousado e avançado para os padrões atuais da nossa sociedade.


Abs,

Marcio

sábado, 24 de julho de 2010

Para Quem Acredita (parte 2)

Setembro de 1993. Vindo de uma adolescência de muita insatisfação e revolta, além de carregar um passado de forte influência místico-esotérica, chegava em minhas mãos um livro que viria representar um marco na minha vida. Em um período de apenas 1 semana, eu devorei o então recém-publicado “Os Semeadores de Vida”, obra de 413 páginas escrita pelo peruano Carlos Roberto Paz Wells. O livro narrava uma história completamente insana mas ao mesmo tempo fascinante de um grupo de jovens no Peru em 1974, os quais teriam tido contatos físicos e constantes com uma civilização alienígena. Os relatos de contato extraterrestre rodaram o mundo e atraíram jornalistas, um dos quais foi o hoje famoso escritor espanhol Juan José Benítez (Operação Cavalo de Tróia), o qual pouco tempo mais tarde seria protagonista de um encontro programado com os ETs por meio da intervenção desse mesmo grupo de jovens. Sua história foi relatada em uma extensa reportagem do jornal “La Gaceta del Norte” de Bilbao, Espanha, com o título “Não Estamos Sós”. A partir das experiências relatadas em meados da década de 1970, surigiu a Missão Rama, linha de trabalho que objetivava, dentre outras coisas, estender a oportunidade de contato à outras pessoas interessadas. No Brasil, o trabalho chegara pelas mãos de Carlos Roberto Paz Wells em 1977, um dos jovens peruanos que havia participado de toda a experiência e iniciara uma linha de trabalho mais complexa e audaciosa em nosso país.

O livro causou um profundo impacto em minha pesonalidade. E não era para menos. Ainda jovem, inocente e influenciado que eu era por uma forte bagagem místico-esotérica, é lógico que acreditei em toda aquela história como uma possibilidade real, ainda que achasse tudo aquilo muito louco. Todavia, há de se ressaltar que era a primeira vez que eu entrava em contato com um ponto de vista bem diferenciado de outros estudiosos que eu lera. Ele se aventurava a escrever não apenas sobre ufologia, mas também sobre uma abrangente gama de assuntos envolvendo o comportamento humano. Meu interesse inicial pelo livro foi logo recompensado pela oportunidade de assistir algumas palestras ministradas pelo próprio autor e fiquei bastante perplexo com o nível de inteligência, conhecimento e sensatez com que o peruano abordava questões tão abrangentes e polêmicas, algo muito diferente de tudo aquilo que até então eu tivera contato. Não se tratava de um religioso, um hippie, um místico, um guru ou um lunático e sim uma pessoa normal, na época diretor de marketing da Philco, com uma reputação séria a ser defendida e ao mesmo tempo uma coerência e profundidade incomuns, características que me deixaram bastante intrigado. Envolto pela atmosfera do livro e pela figura do Carlos que transmitia muita inteligência, seriedade e sensatez, mostei-me interessado em participar do trabalho, interesse que resultou em uma oportunidade real de integrar-me à Missão Rama do Brasil 2 meses depois. Mal sabia que a minha ingressão no grupo proporcionaria, 12 meses mais tarde, as condições para um encontro com um evento muito insólito em minha vida.

Novembro de 1994. Durante um feriado prolongado, eu estava presente em um acampamento selvagem da Missão Rama do Brasil no perímetro externo do Parque Nacional de Itatiaia, o qual ocupa parte da Serra da Mantiqueira no Estado do Rio de Janeiro. Estávamos afastados da civilização, instalados em um pequeno vale conhecido por Brejo da Lapa, situado a 2.100m de altitude. O lugar era maravilhosamente belo: cercado por montanhas, havia um lago rodeado em parte por um brejo, em parte por terra firme com vegetação rasteira e uma estrada de terra acidentada e de pouquíssimo movimento em um nível mais acima, a qual ligava de um lado o longo trajeto até o asfalto e do outro o caminho até o Parque Nacional de Itatiaia, onde fica o magnífico Pico das Agulhas Negras. Era noite e, naquela época, a região bucólica ainda era um refúgio atraente para a prática de acampamentos selvagens, antes do IBAMA proibir tal atividade na área por causa de visitantes inconsequentes que começaram a degradar o local. Éramos um grupo aproximado de vinte pessoas, sentados em forma de meia-lua perto do lago. A grande maioria das pessoas estava sentada de costas para a estrada, ouvindo nossa amiga Angélica, no centro da meia-lua, comentar sobre certas práticas orientais de respiração e relaxamento. Eu estava na outra extremidade da fileira de pessoas, as poucas que podiam contemplar parte da estrada de terra, junto com a minha namorada na época, Márcia, uma amiga chamada Regina e mais um rapaz cujo nome infelizmente eu não lembro.

Estávamos ouvindo a Angélica falar quando algo estranho chamou a minha atenção próximo a um trailer de um amigo nosso, parado na beira da estrada. Eu calculo que estávamos há mais ou menos uns 40 metros do trailer, quando uma luz branca muito tênue mas visível o suficiente para chamar a minha atenção começou a aparecer. Era incrível… Por detrás do trailer surgiu uma figura humanóide irradiando luz do próprio corpo que começou a caminhar pela estrada. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Tentei localizar qualquer foco de luz que pudesse denunciar uma brincadeira por parte de alguém munido de um “projetor” mas não vi absolutamente nada. Não havia ninguém na estrada além daquela estranha figura. O que era aquilo? A despeito da perplexidade da visão, tive uma inesperada reação de ficar simplesmente quieto. Tinha a sensação, não sei por que, de que poderia perder o espetáculo caso fizesse qualquer estardalhaço. Só tive um impulso de cutucar a Márcia e perguntar em voz baixa se ela estava vendo a mesma coisa que eu, sendo também uma forma de conferir se eu não estava ficando louco. Para meu alívio, ela confirmou que estava vendo tudo também. Permanecemos quietos, atentos e de olhos bem abertos. Tratava-se da silhueta de uma figura humana esguia em forma de luz branca, concentrada, dando para perceber nitidamente a cabeça, o tronco, braços e pernas. Não era possível perceber detalhes tais como fisionomia, roupa, etc. Era como se a criatura fosse um holograma em movimento que emanava luz do próprio corpo, sem qualquer foco de luz visível para fora dos contornos de seus membros (algo parecido com a imagem deste post). Uma luz tênue contida nos perímetros de um formato humanóide, andando pela estrada de terra, sendo visivelmente mais alto que um ser humano comum (depois de terminada a estranha manifestação, calculamos que “a coisa” deveria ter uns 2,5 metros de altura aproximadamente, tendo como referência de comparação a altura do trailer).

Alguns segundos depois de efetuar sua caminhada, a criatura ou seja lá o que fosse parou e voltou-se para a nossa direção, como se soubesse que estávamos vigiando seus passos. Senti um arrepio correr pela espinha mas fiquei estranhamente calmo logo em seguida. Fiquei muito contente por estar observando algo tão diferente mas era um contentamento sereno, contido. Tive uma inesperada sensação de tranquilidade e a criatura começou a caminhar novamente. Um pouco mais para a frente, a luz começou a desvanecer-se, perdendo a sua nitidez original, como se fosse um canal de TV fora do ar e cheio de “chuviscos”, até desaparecer por completo diante dos nossos olhos atônitos. Chequei com a Márcia, com a Regina e com o rapaz ao meu lado após o final da explanação da Angélica e eles confirmaram tudo aquilo que eu tinha acabado de ver. Fiquei muito feliz mas ao mesmo tempo perplexo. Havíamos visto algo totalmente fora dos padrões de qualquer explicação natural, fora dos paradigmas socialmente ou cientificamente aceitos e ninguém acreditaria em nossa estória. Em tempo: estávamos alimentados, não havíamos tomado bebida alcoólica, nunca fomos usuários de drogas, sempre enxergamos muito bem e não estávamos com a expectativa de ver absolutamente nada, último detalhe que inviabilizaria uma suspeita de autosugestão. E embora estivesse certo sobre a natureza incomum do que acabara de observar, percebi que, se estivéssemos dispostos a dividir tal experiência com outras pessoas, deveríamos estar preparados para a inevitável ridicularização do nosso testemunho.

Ciente sobre a ridicularizão ou desdém que um relato sobre o ocorrido poderia causar na esmagadora maioria das pessoas, eu decidi diminuir a margem de erro. Eu queria livrar-me de qualquer possibilidade de engano ou mal-entendido. Foi quando pedi para a Márcia, a Regina e o rapaz ao meu lado permanecerem ali, no local da observação, pois eu gostaria de dirigir-me até a estrada para ver de perto por onde tal forma luminosa acabara de passar. O intuito era fazer o mesmo trajeto do humanóide para saber se não poderíamos ter confundido tal manifestação com algum fenômeno conhecido, tal qual a possibilidade de alguém estar andando por lá com uma lanterna acesa, por exemplo. Eu sabia que era plenamente capaz de diferenciar o estranho fenômeno de uma pessoa andando por ali com uma lanterna, afinal, já tinha visto pessoas passando por ali várias vezes durante a noite. Mas mesmo assim, insisti por pura precaução. Fiz o percurso várias vezes, hora munido de lanterna acesa, hora apagada; com a lanterna acesa dentro do meu casaco e fora dele; andando depressa e andando devagar… Enfim, esgotei todas as formas pelas quais alguém andando por ali pudesse causar algum “efeito visual” fora do normal. Voltei depois para o encontro da Márcia, da Regina e do rapaz e pedi para que me relatassem o que tinham visto. Os três comentaram que em nenhum momento eu sequer havia me aproximado daquilo que havíamos presenciado em conjunto. Para começar, a Márcia disse que eu aparentava ter quase a metade da estatura da coisa em formato de luz. E as peripécias com a lanterna e o casaco tampouco chegaram perto do efeito extraordinário que havíamos visto anteriormente. Senti um grande alívio novamente, afinal, havia confirmado a minha impressão inicial. Por mais que a maioria das pessoas ali presentes não tivesse visto o humanóide luminoso, por uma simples condição de posicionamento físico perante tal acontecimento, estávamos certos de que tínhamos confrontado nossas observações e de que não podíamos negar o que vimos. No dia seguinte ficamos sabendo que um pequeno grupo de pessoas acampadas em uma barraca morro acima, um pouco mais distantes do que nós, havia notado o estranho fenômeno também. Era mais uma confirmação de que não havíamos sido presas fáceis de um engôdo ou de um mal-entendido da nossa mente. Tínhamos apenas sido testemunhas oculares de uma realidade fantástica.

Carrego as lembranças deste evento por onde quer que eu vá. As vezes minha realidade cotidiana choca-se de frente com as lembranças dessa noite tão estranha e procura-se impor impiedosamente, tentando convencer-me de que não vimos o que vimos ou de que tudo não passou de um mero sonho. Se eu não tivesse eliminado certos detalhes passíveis de questionamento logo após o ocorrido talvez hoje fosse um pouco mais fácil convencer-me de que fora um terrível engano. Mas a realidade dos fatos não permite negar o que vimos, embora não saibamos o significado do que vimos.

E é assim que interpretações para “eventos fora do padrão” variam na mesma proporção que variam nossos inúmeros paradigmas, dando conotações místicas, esotéricas, espiritualistas, religiosas ou até mesmo “científicas” para fenômenos que não se encaixam em explicações convencionais. Ou seja, na pressa de achar uma resposta, construimos explicações prematuras baseadas em nossas próprias experiências, crenças e inclinações. Todavia, mesmo levando em conta as armadilhas da mecânica dos paradigmas, tive a impressão de que a aparição insólita tratou-se do subproduto de uma avançada tecnologia holográfica. E antes que os céticos se manifestem a respeito (eu mesmo me considero um deles), eu sei perfeitamente que o ambiente no qual eu estava inserido favorecia enormemente tal associação. Mas vale lembrar que, no momento da aparição, tanto eu quanto as outras pessoas não estavam esperando ver absolutamente nada, sendo também pertinente salientar que a criação de expectativas em relação a eventuais fenômenos estranhos sempre foi muito combatida na Missão Rama do Brasil. Em resumo, o evento pegou a gente de surpresa.

Outra questão importante a ser ressaltada é a de que, somente hoje, 15 anos depois do ocorrido, as primeiras experiências com hologramas nos moldes de "Star Wars" estão sendo efetuadas com sofisticados aparatos tecnológicos, elementos que não exisitiam na época, muito menos ainda em uma estrada de terra sem iluminação no meio do mato e a qual foi checada por mim na sequência do evento com o intuito de encontrar qualquer forma de embuste (e não encontrei absolutamente nada!). Então, de que raio de tecnologia eu estaria falando? A questão desconcertante perturbou-me durante 15 anos e somente hoje vem ter um espaço neste blog, ambiente cuja proposta básica é a consideração da famosa pergunta inglesa “what if?”, como forma de darmos asas ao questionamento criterioso. Ou seja, e se considerarmos, mesmo como sendo uma hipótese altamente improvável, a possibilidade de que o evento insólito descrito anteriormente tenha sido o subproduto de uma tecnologia extraterrestre?

Já posso sentir o sorriso de desdém daqueles que lêm este post ao imaginarem automaticamente que sou mais um lunático neste mundo de gurus e charlatões falando sobre ETs. Mas peço somente um pouco da sua atenção para considerarem a interpretação do que eu vi como uma possibilidade e não a afirmação categórica de que tive um “contato”. Primeiramente, porque embora eu tenha absoluta certeza do que vi, não tenho certeza daquilo que estaria por trás do evento e talvez nunca venha a saber as reais causas daquilo que meus olhos testemunharam. Em segundo lugar, especular sobre a possibilidade de haver vida ou até mesmo a talvez rara vida inteligente além dos limites da Terra abre caminho para a uma boa reflexão sobre como a vida teria se originado em nosso próprio planeta. E não seria somente a segunda consideração um benefício muito válido para não descartarmos prematuramente a hipótese extraterrestre? Levando em conta tudo aquilo que eu escrevi nos posts “Para Quem Não Acredita” e “Para Quem Acredita (parte 1)” (aconselho a paciente leitura de ambos pois são posts interrelacionados), façamos um esforço para além do condicionamento de rejeição automática da idéia. 

É natural o posicionamento cético perante declarações ou especulações tão fantásticas como esta. Eu mesmo me questiono o tempo todo a respeito do que vi mas, o que eu gostaria de salientar, é o contraponto representado pela mecânica dos paradigmas em nosso comportamento diário de distanciamento e indiferença perante as coisas que não vemos, não sentimos ou não percebemos. Se certas pessoas vivem situações perante as quais a ciência ou religião oficial não conseguem dar nenhuma explicação satisfatória, ou se eventos “oficialmente aceitos” ocorrem do outro lado do planeta, isso não parece ser algo real para nossa vidinha particular. Como na história de São Tomé, só acreditamos naquilo que podemos tocar, colocando-nos arrogantemente como referência para aquilo que acontece ou deixa de acontecer no universo. Como pode algo assim existir ou ocorrer sendo que eu nunca fiquei sabendo ou fui avisado? E com a licenca de René Descartes, a equação para a nossa arrogância é bastante simples: “não vejo, logo não existe”. 

A despeito de toda a controvérsia que eu sei que o assunto fomenta, envolvendo de um lado as ridicularizações mais infantis e de outro as reações emocionais mais fanáticas, típicas do universo esotérico/ufológico, não podemos negar que o tema, quando explorado de forma equilibrada, pode ajudar-nos a ter uma visão mais questionadora a respeito de nós mesmos. 

E termino por aqui com uma notícia que li no site Foxnews.com, a qual diz que os cientistas da Missão Kepler declararam no dia de hoje que resultados preliminares da missão indicam uma contagem inicial de um pouco mais de 700 novos planetas extrasolares. Embora ainda sejam dados que requerem confirmação, os cientistas estão empolgados com os resultados, os quais indicam que dos 700 planetas descobertos, 140 constituem planetas rochosos com características similares às da Terra. Isso sugere que planetas como o nosso são muito mais comuns do que se imaginava, ressaltando ainda mais a mudança de paradigma na comunidade científica no que se refere a aceitação da possibilidade de não estarmos sós no universo (vide o post "Para Quem Não Acredita" para maiores detalhes). 

Abs,
Marcio

sábado, 17 de julho de 2010

Para Quem Acredita (parte 1)

No post anterior eu abordei a questão da mudança de cenário no que se refere à ciência oficial aceitar a possibilidade de não estarmos sós no universo, seja na condição de formas de vida bacteriana, formas mais complexas ou até mesmo civilizações extraterrestres. Todavia, existe um grande grupo de pessoas que não somente leva essa possibilidade facilmente em consideração há bastante tempo, como está convicto de que estamos sendo visitados por ETs, que é possível estabelecer contato com tais entidades, saber quais seriam seus objetivos e ainda cultivar um ar de superioridade pelo posicionamento "tão cético e primitivo" da ciência oficial em relação ao assunto. Se você se identifica com esse perfil, este post foi escrito especialmente para você.

Antes da “fenomenologia ufológica”, existe o que eu chamaria de “fenomenologia humana”, questão sobre a qual ninguém menciona nada, sendo a mesma fundamental no entendimento do universo ufológico. Dentro dos meios esotéricos bem como na ufologia assim chamada de “mísitica” (classificação, aliás, que eu acho estúpida), encontramos muitas informações que falam abertamente sobre frotas de naves extraterrestres (de acordo com os seguidores de Ashtar Sheran, suposto comandante extraterrestre, este seria responsável por uma frota de 15 milhões de naves!), inúmeros seres desta e de outras dimensões, constante monitoramento e profundo interesse por parte dos ETs pela raça humana. Além disso, “parcerias” entre o governo americano e os chamados “greys”, “parcerias” entre a Fraternidade Branca e os ETs de “dimensões mais elevadas”, “intraterrenos” e até “ultraterrestres” (o que seria isto afinal?) borbulham em livros, palestras, vivências e vigílias de grupos mistico-esotéricos. Existe uma farta literatura por aí especulando não somente sobre as origens mas também sobre as intenções e atividade de diversas civilizações, sejam elas físicas ou extrafísicas, todas elas com suas atenções voltadas para o planeta Terra. A Internet mesmo é um vasto meio de proliferação dessas idéias e explicações sobre o que seriam e quais seriam as intenções dessas entidades extraterrestres abundam sem controle algum. Se fosse possível catalogar todo material diponível sobre essas crenças, ficaríamos surpresos com a absurda quantidade de seres extraterrestres das mais variadas procedências e condições diferenciadas de existência que é apregoada por aí, sendo que, na somatória, todos teriam interesse nos rumos da raça humana e do planeta Terra.

Mas será que é isso mesmo? No post “Ufologia Dissecada” eu abordo um tema que questiona o seguinte: se toda a fenomenologia dita “ufológica” for levada em consideração, o planeta Terra só pode ser considerado o lugar mais interessante do universo. Seria a Terra, portanto, um lugar muito especial? Vamos ver...

Do ponto de vista do vídeo Pálido Ponto Azul, o qual faz parte do post de apresentação deste blog, a Terra não é nenhum lugar especial. Situados na periferia da Via Láctea contornando uma estrela que está muito longe de ser a maior da galáxia, somos um minúsculo grão de areia em uma praia descomunal. É comum na literatura esotérica o chamamento de atenção para o perigo da raça humana terminar em um grande conflito nuclear, e que a destruição da Terra, através de uma guerra com arsenal atômico, causaria danos às civilizações extraterrestres. Nisto residiria o fato de algumas civilizações extraterrestres estarem monitorando as atividades humanas, com o intuito de evitar uma eventual catástrofe. Este tipo de argumento, embora comum, não passa de um mito pois existem explosões de magnitude infinitamente maior em estrelas gigantes se comparadas com o nosso Sol (de 50 a 100 vezes o tamanho da nossa estrela!), as quais ocorrem o tempo todo no universo. Até onde sabemos, nenhuma delas está sequer perto de afetar minimamente o equilíbrio do universo. Portanto, a pergunta que parece óbvia é a seguinte: porque uma eventual explosão de um planetinha tão diminuto quanto a Terra poderia ter qualquer importância para uma civilização extraterrestre?

Ao assistir um vídeo sobre o documentário do Discovery Channel intitulado “Alien Planet”, eu observei o físico Michio Kaku abordar esta questão com muita lucidez e humildade. Segundo o físico, é possível que haja civilizações extraterrestres muito mais avançadas em nosso universo mas, para a tristeza de muitos humanos, seu interesse por nós seria muito questionável. Ele utilizou uma analogia para exemplificar nossas diferenças, representadas pela distância entre nós e as formigas, supondo que nós, terráqueos, fossemos as formigas e os ETs fossem os humanos. Em nosso hipotético exemplo, foi contruída uma rodovia ao lado de um formigueiro. Do ponto de vista da formiga, há qualquer consciência sobre a existência de uma rodovia, carros e, obviamente, seres humanos dentro desses carros? Existe qualquer interesse por parte da colônia de formigas em detectar seres humanos? Existiria tecnologia na colônia de formigas capaz de detectar a presença de seres humanos e depois estabelecer qualquer forma de contato com eles? E do ponto de vista humano: existe qualquer interesse nas formigas ao lado da rodovia? Estaríamos interessados nelas ou passaríamos por cima das mesmas sem nem perceber que elas estão em nosso caminho? Ou pior: justamente por percebê-las é que teríamos o desejo de eliminá-las?

Não quero ser estraga prazeres do exército de crédulos, insinuando que de toda a fenomenologia ufológica apresentada, nada se salva ao ponto de não sobrar nenhuma possibilidade de estarmos sendo visitados por alienígenas. Se nós já enviamos sondas espaciais e missões robóticas para outros planetas com uma certa frequência e sucesso, imagino que civilizações muito mais antigas possam fazer o mesmo com muito mais competência. Destas maneira, não posso descartar essa possibilidade. Todavia, há de se frisar que tal possibilidade deveria ser em uma proporção imensamente menor ao que é apregoado por aí pelos ufólogos, não importa a linha de interpretação (científicos ou místicos pela estúpida classificação). E com relação aos objetivos das poucas visitas que talvez pudessem ser consideradas, suponho que estas não deveriam ter necessariamente qualquer vínculo com os interesses dos seres humanos. Do ponto de vista alienígena, é possível que estivessem interessados em suas próprias pesquisas, as quais poderiam até envolver seres humanos, mas não pelos motivos que gostaríamos que fossem. Por mais duro que isso possa parecer, a verdade não tem necessariamente qualquer ligação com os nossos desejos, carências, aspirações e megalomanias enebriantes.

Se por um lado, há muitas coisas para além das quais nossa ciência ainda é incapaz de trazer respostas satisfatórias, por outro, existe uma imensa infinidade de crenças, sejam elas místicas, esotéricas, religiosas ou ufológicas que, justamente por serem apenas crenças, só desinformam e desorientam ao invés de trazer o tão almejado conhecimento para a gente. E tais crenças, infelizmente, ocupam a maior parte do material escrito e divulgado em livros, palestras, vídeos, encontros, vivências em grupo e outras manifestações populares. Desta maneira, creio que o nosso papel é o de sermos garimpeiros criteriosos, selecionando muito bem o que lemos, vemos e ouvimos de outros e trabalhando arduamente na "construção do nosso próprio conhecimento", sem deixar-nos influenciar pelo religioso V, pelo guru X, pelo movimento Y ou pelo ufólogo Z.

A comparação é sempre uma ferramente muito válida e, ao observar as pessoas à minha volta, pude notar o pouco conhecimento histórico que possuímos. Não se trata apenas de uma ignorância generalizada sobre História Antiga mas também uma falta de conhecimento sobre nossa história recente, fator ainda mais pertubador na minha opinião. Por exemplo: a Internet é parte integrante de nossas vidas, utilizamos a grande rede todos os dias e é impressionante o quanto que nós desconhemos sobre os inúmeros esforços, descobertas e conquistas em diferentes campos do conhecimento humano que tiveram que ocorrer para viabilizar o uso da Internet da forma como nós a conhecemos hoje. Nós apenas sentamos na frente do computador e utilizamos a grande rede, sem fazer idéia do quanto isso é revolucionário. Peguem qualquer artigo sobre a história da tecnologia e vocês terão uma idéia do que estou tentando transmitir. Em outras palavras, 50 anos de história já parecem ser coisa demais para nossas humildes cabecinhas, preocupadas que elas estão com os problemas diários e a sobrevivência quase sempre com muito sacrifício. Agora, imaginem uma civilização não com 100 ou 200 anos de desenvolvimento a nossa frente mas sim uns 100.000, 200.000 ou até mesmo 1 milhão de anos à nossa frente. Somos péssimos para lidar com números, então, cito os 6.000 anos de civilização humana só para pôr essa questão em uma perspectiva mais realista. Um milhão de anos seria absurdamente mais do que toda a história da civilização humana reunida, a qual a maioria de nós desconhece em maior ou menor grau. Qual seria então a história de uma civilização com 1 milhão de anos? Que processos, dificuldades e privações tiveram que enfrentar? Qual seria o real tamanho de suas conquistas civilizatórias? O que descobriram, inventaram e superaram ao longo de tanto tempo? Qual seria a visão de mundo e de vida desses seres? Qual seria o poder dessas civilizações? Se foram necessários 6.000 anos de civilização para chegarmos ao ponto de tentar descobrir se existem planetas como o nosso nas imediações da nossa galáxia (vide as informações sobre a Missão Kepler no post "Para Quem Não Acredita"), qual seria o tempo de existência e o poder correspondente de uma civilização capaz de deslocar-se por distâncias tão absurdas, as quais nós ainda nem vencemos com o alcance do olhar dos nossos mais avançados telescópios!?!?!

Uma especulação que eu gosto de fazer, baseado nas hipóteses sobre o tempo de existência das civilizações mais avançadas (novamente a escala Kardashev), e em conformidade com o nome deste blog, é tentar perceber as coisas sob o ponto de vista de uma hipotética civilização extraterrestre. Explico: se nós, terráqueos, tivéssemos a oportunidade de estudar um planeta distante com uma população de macacos alienígenas, de que forma agiríamos? Supondo que eu fosse algo parecido com um biólogo ou psicólogo behaviorista, talvez eu quisesse observar de perto o comportamento desses macacos sob 2 perspectivas diferentes: observando-os em suas condições naturais, sem qualquer tipo de intervenção, ou aplicando-lhes diferentes estímulos. E entendam estímulos aqui como um "contato" da nossa parte. Sim, imaginem um suposto contato alienígena como um estímulo e/ou intervenção, com o objetivo de efetuar alguma espécie de análise ou estudo. E apesar do argumento sempre presente de que "os ETs respeitam nosso livre-arbítrio" (idéia comum nos meios ufológicos), é preciso lembrar que intervimos sempre no reino animal com nossas próprias pesquisas, mesmo que estejamos apenas filmando um macaco à distância no meio da selva para produzir um documentário. Do ponto de vista do macaco, poderíamos parecer "alienígenas" com uma avançada tecnologia de monitoramento.

E já posso ouvir aquele velho argumento dentro da minha mente por parte dos crédulos: "mas será que eles não fizeram pesquisas o suficiente neste planeta com a gente? Não posso aceitar tal hipótese." Quanto a isso, eu diria o seguinte: em primeiro lugar, não temos moral para ser contra supostas pesquisas alienígenas, uma vez que nós mesmos fazemos isso o tempo todo, seja com seres humanos ou com animais. Em segundo lugar, partindo do pressuposto de que somos visitados por entidades alienígenas, não temos condições de saber se foram feitas muitas pesquisas ou não (não temos acesso ao banco de dados alienígena para saber há quanto tempo isso estaria sendo feito). Em terceiro lugar, existe uma premissa muito errada de que o conhecimento é finito e, a partir de certo momento, qualquer estudo ou análise deixam de ser necessários porque partimos do princípio que "já aprendemos tudo sobre determinado assunto". Falácia inocente da nossa mente. Se assim o fosse, estaríamos plenamente satisfeitos com as explicações sobre nossa origem e vida que são encontradas às pencas na Bíblia. Além disso, nossa tecnologia se desenvolve exponencialmente a cada dia, revelando-nos aspectos da vida que até então eram completamente desconsiderados. Portanto, voltemos à experiência com os macacos alienígenas.

Se a hipótese de que estamos sendo visitados for correta, não seria nem um pouco insensato pensar que pareceríamos fósseis vivos para tais civilizações. Lembrem-se do exemplo das formigas e vocês entenderão onde quero chegar com isso. Utilizando mais uma vez a comparação, não seríamos mais do que macacos superdesenvolvidos para tais seres, com comportamento agressivo, temperamento altamente emotivo, limitação mental, baixa expectativa de vida, desorganizados socialmente, predominantemente supersticiosos e com um estilo de vida inegavelmente suicida. Como no exemplo das formigas, o distanciamento entre nós e eles seria tão incomensuravelmente grande que inviabilizaria qualquer conversa ou outra forma de comunicação. Não acredito que a comunicação em si seria o problema e sim a ausência de referências, de padrões de comparação viáveis ao nosso entendimento. Ou se por um acaso eles tomassem a iniciativa de um contato, com um suposto "conhecimento do nosso nível de entendimento", nossa capacidade de distorção, devido às nossas limitações, estragaria qualquer tipo de diálogo.

Isso trás à tona uma outra questão muito polêmica para os crédulos: a crença de que algumas pessoas estariam recebendo mensagens dos extraterrestres por vias telepáticas. Em conformidade com o parágrafo anterior, fica muito difícil aceitar o conteúdo dessas supostas mensagens, as quais parecem proliferar como uma doença nos meios místico-esotéricos. Mensagens com conteúdo previsível, visivelmente influenciadas pelo contexto humano e com uma forte carga de influência messiânica-religiosa. Como poderia, por exemplo, uma civilização extraterrestre sabe-se lá quanto tempo mais avançada que a nossa entrar em contato conosco para endossar nossas crenças, reforçar nossas superstições, ressaltar nosso ego e causar ainda mais ignorância ao "dizerem que devemos seguir nossos mestres terráqueos"? Se seguir tais ensinamentos fosse a resposta para nossos problemas, há muito nosso planeta teria se transfomado em um lugar melhor para se viver. Levando-se em conta o distanciamento ressaltado pela analogia da formiga, fica extremamente óbvio que as pessoas estão, mesmo incoscientemente, criando essas mensagens dentro das suas próprias cabeças do início ao fim. Não há, na esmagadora maioria dos casos, qualquer evidência de um eventual contato alienígena, por mais que as pessoas estejam afetadas emocionalmente pela "experiência". Mesmo se houvesse uma possibilidade de contato real por vias telepáticas, a mensagem resultante teria enormes chances de ser distorcida pela nossa mente, comprometendo seriamente o conteúdo original.

Desta maneira, termino este post da mesma forma que terminei o post "Para Quem Não Acredita". Longe de querer encerrar a questão abordada, ficará a critério do leitor chegar às suas próprias conclusões, as quais serão inevitavelmente temporárias. Explorando o outro lado da balança, do ponto de vista de quem acredita nos discos voadores, deixo aqui o meu profundo alerta sobre um assunto que há muito virou um dogma de fé. Na verdade, este post terá uma sequência onde tratarei melhor deste ponto, ficando aqui apenas uma reflexão: apesar do aparente pessimismo em relação a espécie humana, eu acredito sim em um futuro melhor. Mas acredito que o mesmo só será realizável, quando a gente descer do nosso enorme pedestal e encarar humildemente a nossa condição de completa ignorância.

Abs,

Marcio