quinta-feira, 3 de junho de 2010

Abaixo o Mistério

Aos poucos que acompanham este blog eu gostaria de pedir desculpas pelos quase 2 meses sem nenhum post novo. A justificativa para isso é que minha vida pessoal mudou rápida e radicalmente neste período, deixando-me sem condições psicológicas de exercitar minha escrita e dar continuidade ao espírito inquieto e questionador deste blog. A todos minhas sinceras desculpas...

Mas hoje, finalmente, tive um lampejo de inspiração para voltar a escrever. Ao zapear com meu controle remoto pelos canais da TV via satélite, parei por um momento na TV Paraná Educativa e observei atentamente a pregação de um padre na Missa de Corpus Christi realizada em Curitiba. Não tive paciência de ver muito tempo mas, durante o período que durou meu interesse, o padre mencionou sobre a importância de celebrar o “mistério da eucarisitia”. Sobre a importância de se comemorar o “mistério pascoal”. E é sobre a exaltação do conceito de mistério que eu gostaria de escrever um pouco por aqui. Trata-se de um conceito até bastante simples mas pouquíssimo difundido dentro das religiões por razões que tornar-se-ão óbvias logo em seguida.

As bases das religiões encontram-se fundamentadas na preservação e porque não dizer na intensificação da importância do conceito de mistério. E não é para menos. Se as religiões pregassem o conhecimento, a evolução e a transformação da sociedade em algo melhor qualquer tipo de mistério deveria ser necessariamente dissolvido.

Não existe nada de errado com o mistério desde que essa seja uma condição temporária. É natural haver situações para as quais o nosso nível de conhecimento não possui acesso. Não sabemos uma infinidade de coisas e a ciência, pelas suas próprias características indagadoras, objetiva conhecer esses “nichos de ignorância” e assim eliminar as “zonas de mistério”, promovendo a ampliação do conhecimento e a melhoria da sociedade. Todavia, preservar, celebrar e até exaltar a condição de mistério são comportamentos altamente retrógados e prejudiciais, pois objetivam manter as pessoas sob os véus da ignorância, tirando das mesmas o direito de entender os acontecimentos e checar se as informações correspondentes são verdadeiras ou não. Neste ponto específico, ciência e religião tornam-se aspectos totalmente incompatíveis da cultura humana.

Se temos a intenção de evoluir e melhorar em todos os sentidos, não podemos nos contentar com a existência do mistério. Se fôssemos levar em conta o que as religiões dizem a respeito do mistério, principalmente as 3 religiões irmãs (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), o mundo estaria ainda chafurdando nos pântanos negros da Idade Média. É muito comum, por exemplo, o argumento de que “Deus atua de forma misteriosas” ou “o mistério só faz sentido perante os desígneos de Deus” além de outras justificativas que objetivam varrer para longe o acesso ao conhecimento humano. Se Deus atua de formas misteriosas e se o mesmo só pode ser conhecido pelas "suas obras", como podemos ter a certeza de que Ele existe e que ainda atua de formas misteriosas? Tudo isso seria completamente desconhecido se fosse realmente verdade. Não é um absurdo contrasenso? Pensem nisso...

Não se deixem levar pelo argumento de que algo é misterioso. Pior ainda: não se convençam de que o mistério deva ser algo a ser celebrado e exaltado. Não deixem que isso vire um ponto final em suas buscas e indagações pessoais. Não aceitem isso como um “calem-a-boca” e “voltem para suas vidinhas de cordeiros submissos”. Questionem, ousem e busquem conhecer cada vez mais. Exterminem o mistério. Lembrem-se que, em pouco mais de 300 anos de existência, a ciência tal qual a conhecemos hoje já fez muito mais pela humanidade do que as religiões fizeram há milênios. Vocês só estão sendo aptos a ler este post por causa da existência da ciência, a qual proveu vocês com saneamento básico, remédios, vacinas, energia elétrica, computadores, Internet, etc. Já pensaram o que seria do mundo se os desbravadores do conhecimento estivessem satisfeitos com o conceito de mistério?

Abs,

Marcio