terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Valor de Uma Formiga

Dando sequência ao aspecto literal da temática deste blog, eu gostaria de abordar uma questão um tanto quanto filosófica que vemos ser muito comum nos campos do misticismo, do esoterismo e até mesmo em alguns segmentos da ufologia: a crença de que estamos sendo visitados e monitorados por seres extraterrestres "muito evoluídos". A questão filosófica que eu quero questionar aqui não seria a hipótese de que talvez sejamos realmente visitados e sim a quantidade de visitas e as motivações que estariam por trás delas.

Dentro dos meios esotéricos bem como na ufologia assim chamada de “mísitica” (classificação, aliás, que eu acho estúpida), encontramos muitas informações que falam abertamente sobre frotas de naves extraterrestres (de acordo com os seguidores de Ashtar Sheran, suposto comandante extraterrestre, este seria responsável por uma frota de 15 milhões de naves!), inúmeros seres desta e de outras dimensões, constante monitoramento e profundo interesse por parte dos ETs pela raça humana. Além disso, “parcerias” entre o governo americano e os chamados “greys”, “parceiras” entre a Fraternidade Branca e os ETs de “dimensões mais elevadas”, “intraterrenos” e até “ultraterrestres” (o que seria isto afinal?) borbulham em livros, palestras, vivências e vigílias de grupos mistico-esotéricos. Existe uma farta literatura por aí especulando não somente sobre as origens mas também sobre as intenções e atividade de diversas civilizações, sejam elas físicas ou extrafísicas, todas elas com suas atenções voltadas para o planeta Terra. A Internet mesmo é um vasto meio de proliferação dessas idéias e explicações sobre o que seriam e quais seriam as intenções dessas entidades extraterrestres não faltam. Se fosse possível catalogar todo material diponível sobre essas crenças, ficaríamos surpresos com a absurda quantidade de seres extraterrestres das mais variadas procedências e condições diferenciadas de existência que é apregoada por aí, sendo que, na somatória, todos teriam interesse nos rumos da raça humana e do planeta Terra.

Mas será que é isso mesmo? No post “Ufologia Dissecada” eu abordo um tema que questiona o seguinte: se toda a fenomenologia dita “ufológica” for levada em consideração, o planeta Terra só pode ser considerado o lugar mais interessante do universo. Seria a Terra, portanto, um lugar muito especial? Vamos ver...

Do ponto de vista do vídeo Pálido Ponto Azul, o qual faz parte do post de apresentação deste blog, a Terra não é nenhum lugar especial. Situados na periferia da Via Láctea contornando uma estrela que está muito longe de ser a maior da galáxia, somos um minúsculo grão de areia em uma praia descomunal. É comum na literatura esotérica o chamamento de atenção para o perigo da raça humana terminar em um grande conflito nuclear, e que a destruição da Terra, através de uma guerra com arsenal atômico, causaria danos às civilizações extraterrestres. Nisto residiria o fato de algumas civilizações extraterrestres estarem monitorando as atividades humanas, com o intuito de evitar uma eventual catástrofe. Este tipo de argumento, embora comum, não passa de um mito pois existem explosões de magnitude infinitamente maior em estrelas gigantes se comparadas com o nosso Sol (de 50 a 100 vezes o tamanho da nossa estrela!), as quais ocorrem o tempo todo no universo. Até onde sabemos, nenhuma delas está sequer perto de afetar minimamente o equilíbrio do universo. Portanto, a pergunta que parece óbvia é a seguinte: porque uma eventual explosão de um planetinha tão diminuto quanto a Terra poderia ter qualquer importância para uma civilização extraterrestre?

Ao assistir um vídeo sobre o documentário do Discovery Channel intitulado “Alien Planet, eu observei o físico Michio Kaku abordar esta questão com muita lucidez e humildade. Segundo o físico, é possível que haja civilizações inteligentes muito mais avançadas em nosso universo mas, para a tristeza de muitos humanos, seu interesse por nós seria muito questionável. Ele utilizou uma analogia para exemplificar nossas diferenças, representadas pela distância entre nós e as formigas, supondo que nós, terráqueos, fossemos as formigas e os ETs fossem os humanos. Do ponto de vista da formiga, há qualquer consciência sobre a existência de seres humanos? Existe qualquer interesse da colônia como um todo para detectar seres humanos? Existiria tecnologia na colônia de formigas capaz de detectar a presença de seres humanos e depois estabelecer qualquer forma de contato com eles? E do ponto de vista humano: existe qualquer interesse nas formigas em nosso quintal? Estaríamos interessados nelas ou pisaríamos nas mesmas sem nem perceber que elas estão em nosso caminho? Ou pior: justamente por percebê-las é que teríamos o desejo de eliminá-las?

Não quero ser estraga prazeres do exército de crédulos, insinuando que de toda a fenomenologia ufológica apresentada, nada se salva ao ponto de não sobrar nenhuma possibilidade de estarmos sendo visitados por alienígenas. Eu creio que tal possibilidade existe mas em uma proporção imensamente menor ao que é apregoado por aí pelos ufólogos, não importa a linha de interpretação (científicos ou místicos). E com relação aos objetivos das poucas visitas que talvez pudessem ser consideradas, suponho que estes não devem ter necessariamente qualquer vínculo com os interesses dos seres humanos. Do ponto de vista alienígena, é possível que estejam interessados em suas próprias pesquisas, as quais podem até envolver seres humanos, mas não pelos motivos que gostaríamos que fossem. Justamente por reconhecer nas argumentações anteriores uma alta necessidade de humildade frente aos números e dimensões apresentados (vide as imagens comparativas entre as estrelas) é que não há como aceitar uma importância que a Terra efetivamente não tem. Por mais duro que isso possa parecer, a verdade não tem necessariamente qualquer ligação com os nossos desejos, carências, aspirações e megalomanias.

E é com este espírito de humildade que eu finalizo este post propondo um exercício moral para aqueles que tiveram a paciência de chegar até aqui: que valor daremos para uma formiga a partir de agora?

Abs:
Marcio

2 comentários:

  1. Caro Márcio, em princípio gostaria de dizer que tenho uma grande apreciação pelas formigas... rs. É sério. Mas não é nenhuma exclusividade. Tenho a mesma admiração por todo reino animal e verdadeiro fascínio pela natureza como um todo. Presto muita atenção nas "informações" que ela pode passar a quem a observa mais atentamente.

    O mito de sermos muito importantes para o universo ainda está muito presente em nossa cultura. Há pouco tempo atrás ainda nos considerávamos o centro do universo. Hã muitos grupos religiosos, assim como muitas pessoas ligadas ou não a eles, que ainda acredita nisso em teoria e principalmente na prática. Além de nos acharmos o centro do universo também nos vemos como os únicos. Como única obra de Deus, além de ignorarmos o que mais possa existir no universo, nos consideramos a única forma de vida realmente importante no planeta, o que justificaria qualquer coisa que venhamos a causar nas demais.

    Nossa premissa, consciente ou inconsciente, de que somos o centro do universo parece contaminar qualquer coisa. A ufologia não ficaria de fora é claro. Comoo você disse, se formos levar em consideração tudo que já foi dito em relação a visitas de seres extraterrestres chegaremos à conclusão mais uma vez que estamos certos. Todas as demais espécies parecem querer vir para o planeta Terra. Muitas querem nos proteger. Outras querem nos ajudar a mudar de vibração e várias querem fazer com que aceitemos Deus e Jesus. Impressionante nossa interpretação de qualquer fenômeno desconhecido. Sempre distorcemos os mesmos para que o resultado seja sempre o mesmo: sermos especiais.

    Mas ainda bem que existe a tecnologia. Com o pouco que descobrimos sobre o universo já possível derrubar alguns mitos. Dentre eles os que dizem sermos o centro do universo e sermos importantíssimos e especiais. Somente o vídeo "Pálido Ponto Azul" já serviria para derrubar isso. Quer aceitemos ou não, quer gostemos ou não, o que ocorre é que durante o tempo em que escrevemos estas palavras inúmeros planetas e estrelas são destruídos no universo ou nos universos. Isso é uma constante. E a Terra não tem nada de especial que a retire de um conjunto de regras naturais que movimentam o universo. Como já lemos num livro bem conhecido, o universo não tem escrúpulos. De fato tudo está sujeito a um conjunto de regras intrínsecas e pré-existentes desde o início do universo que conhecemos. De uma hora para outra podemos deixar de existir, assim como ocorre aos montes a cada segundo, sem que isso tenha qualquer importância fora de nossas mentes desesperadas por salvação.

    A teoria mencionada pelo físico Michio Kaku, quer gostemos ou não, parece ser de longe a mais inteligente, adequada e a que melhor explica até o momento a questão da relação de interação de qualquer civilização mais inteligente com a nossa. O problema mais uma vez é ver até onde temos a capacidade de viver bem com as coisas como elas parecem ser ou se vamos continuar inadaptáveis a isso e criando nossas próprias fantasias para conseguir continuar suportanto o dia-a-dia.

    Roni Adame

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  2. Legal o seu texto, achei muito bacana a reflexão, também gostei do comentário do colega acima.

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