terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Em Verdade Vos Digo (parte 2)

Dando sequência ao post “Em Verdade Vos Digo”, vamos especular sobre o que seria o conceito de verdade (aqueles que não leram o post anterior, eu aconselho sua leitura antes deste). Convido os leitores que tomaram a pílula vermelha à uma viagem no tempo de 13,5 bilhões de anos, em busca das origens do universo...

Imaginem o maior evento conhecido do universo, o "big-bang" que deu origem a tudo e, mais precisamente, originou nossa galáxia, o Sistema Solar e a formação do planeta Terra. Bilhões de anos se passaram, um paradoxal número de acontecimentos teve que ocorrer para gerar as condições necessárias à formação da vida e é óbvio que o ponto de vista humano a respeito de tudo isso só veio surgir muito tempo depois. O Universo, portanto, existe há bilhões de anos antes de nós e continuará a existir depois da nossa extinção, não havendo qualquer nível de perturbação na realidade pelo fato da gente existir ou deixar de existir. Desta maneira, o universo existe de uma forma independente da gente, havendo uma explicação plausível para cada evento ocorrido sem a interferência do ponto de vista humano, constituindo a única explicação possível para a realidade. E notem que pelo termo ”explicação” eu quero dizer “descrição”, “identificação” e não “sentido”. Ou seja, diante do cenário universal, é o ser humano quem deve buscar as explicações para tudo aquilo que já existia antes de nós e não forjar as explicações de acordo com suas convicções pessoais, interesses particulares ou interpretações limitadas pelo espaço, cultura ou momento histórico.

Devemos estar alertas, todavia, para a explicação ser necessariamente condizente a algo que de fato existe e não condizente com uma coisa manipulada, um cenário criado apenas em nossas mentes. Isto é, uma mentira pode ser real enquanto informação mas, definitivamente, não representa um fato. Existem explicações para as coisas que não existem, sendo plenamente discutível as razões que motivaram a criação de algo irreal. Mas se algo é irreal, isso não existe de fato, sendo contraproducente dar explicações sobre algo baseado apenas em uma superstição, crença, fé ou tradição, ainda mais se as explicações objetivam afirmar que a farsa é algo que de fato existe. Nessa mesma linha de raciocínio, não é pelo fato de uma coisa ser desconhecida que isso acaba sendo prova de que é também algo irreal. Há um incontável número de coisas que desconhecemos, levando-se em conta nossa desvantajosa posição no tempo e no espaço (para melhor entender essa desvantagem, vejam os posts "Apresentação" e "Não Sabemos Nada"). Logo, como o universo existe independentemente de nós, há um inconcebível nível de realidade para o qual nós estamos longe de ter acesso com o conhecimento atual.

Mas vamos a um exemplo mais pontual com a finalidade de esclarecer o nível de abstração no qual nós acabamos entrando:

Ninguém pode negar a existência do Sol. Ele está aí quer a gente goste ou não há bilhões de anos, promovendo as condições necessárias à nossa existência muito antes da gente botar nossos pés por aqui. Então, o Sol é uma realidade que não pode ser negada. Caso contrário, seria papo de louco, sendo o mesmo que dizer que não existe computador, energia elétrica, automóvel, etc. Pois bem, em cima dessa realidade, qual seria a verdade correspondente? Eis a explicação:

"O Sol é a estrela mais próxima de nós, sendo uma anã vermelha responsável por 99,86% da massa do Sistema Solar, possuindo uma massa 332 900 vezes maior que a da Terra e um volume 1 300 000 vezes maior que o do nosso planeta. É composto primariamente de hidrogênio (74% de sua massa, ou 92% de seu volume) e hélio (24% da massa solar, 7% do volume solar), com traços de outros elementos, incluindo ferro, níquel, oxigênio, silício, enxofre, magnésio, néon, cálcio e crômio. A estrela gera sua energia através da fusão de núcleos de hidrogênio para a formação de hélio, resultando na emanação de uma corrente de partículas carregadas que se expandem até os limites de uma bolha conhecida por heliosfera, a maior estrutura contínua do Sistema Solar.” (fonte: Wikipedia)

Muitas outras informações seriam necessárias para dar conta de uma completa descrição do Sol, tornando a explicação acima incompleta mas verdadeira, sendo contraproducente me estender muito neste exemplo. Há de se concordar, todavia, que tais descrições não poderiam ser a de um "Deus cuspindo fogo" embora povos do passado possam ter dado este tipo de explicação para o Sol, considerando as limitações da época. Desta maneira, só existe uma explicação possível para todas as coisas existentes no universo, sendo todas as outras "explicações" apenas interpretações pessoais, grupais ou até culturais, dependendo do momento histórico em que tais explicações são criadas. Tais explicações não são condizentes com a realidade, ou seja, um "Deus cuspindo fogo" pode ser uma explicação individual, grupal ou coletiva mas está longe de representar a realidade dos fatos. É possível ainda que não saibamos tudo a respeito do Sol e que novas informações venham completar o quadro descritivo do nosso "astro rei" no futuro mas, seria muito improvável que dados adicionais invalidassem as descrições oficiais de hoje. Se for esse realmente o caso, a ciência se encarregará de rever seus conceitos mais cedo ou mais tarde, conforme orientam suas características céticas e questionadoras.

A verdade, portanto, seria a única explicação válida para cada detalhe da realidade. Este seria seu conceito. Ou seja, um copo d'água tem que ser um copo d'água aqui e em qualquer outro lugar do universo. Pode ser que, no planeta X, a civilização Y chame copo de "litu" e água de "burga". Pode ser que a água seja utilizada para outras coisas, pode ser que os elementos químicos de sua composição sejam representados graficamente de uma forma diferenciada mas, continuará a ser H2O como é aqui na Terra. Logo, o copo d'água nunca poderá ser relativizado como sendo um elefante, um sofá ou uma montanha. A despeito da extrema obviedade da afirmação, mesmo com todos os avanços em várias áreas do conhecimento humano, tem muita gente achando que o Sol continua sendo "Deus cuspindo fogo", ignorando por completo a única explicação válida sobre o Sol por causa de todas as coisas mencionadas acima e também no post anterior. Ou seja, “Deus cuspindo fogo” é muito mais humano, atraente, mágico, divertido e reconfortante, mantendo-me no “país das maravilhas” de uma infância expandida que eu nego até o último segundo a abandonar. Neste exato momento, eu opto por tomar a pílula azul, pois não estou a fim de largar o mundo que eu criei como sendo "o real".

Esta concepção de verdade está longe de ser invenção minha, sei que contraria muitas linhas filosóficas e até certos ramos da psicologia moderna mas creio ser a concepção mais sensata e coerente com o meu nível de conhecimento atual. Até que me provem o contrário, é o conceito temporário de verdade que eu considero em minha vida. Sendo a verdade a única explicação possível da realidade, podemos concluir que enquanto estivermos lutando por verdades relativas, viveremos em uma Torre de Babel planetária que levará a sociedade humana inevitavelmente para o caos.

Abs:

Marcio

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Em Verdade Vos Digo

No final do post ”Futebol, Política e Religião” eu mencionei que, de uma forma geral, a humanidade não está compromissada com a verdade. Muito pelo contrário, vivemos em um universo de farsas, mentiras e enganações e, paradoxalmente, estamos tão viciados na dissimulação que não interessa mais saber a verdade.

Embora pareça uma alegação pesada, parte disso é possível de ser checada no universo virtual da Internet. Gosto de utilizar duas redes socias: Orkut e Facebook. A primeira rede social passou por uma recente reformulação, assemelhando-se agora com o Facebook. Em ambas, todavia, é impressionante como o famoso ”confete” é utilizado. Adjetivos do tipo "lindo(a)", "maravilhoso(a)" e elogios do tipo "curti", "adorei" ou "amei" dão o tão difundido tom de exaltação e superficialidade que predominam em testemunhais, scraps, comentários, comunidades e mensagens instantâneas. E o elogio, por sua vez, não é necessariamente fundamental; faz parte da cada vez maior necessidade de sermos enganados. Lutamos por isso de maneira doentia, com medo de encarar a verdade dos fatos: não somos o que achamos que somos, pisamos na bola como todo mundo, cometemos inúmeros erros, não vivemos da forma que gostaríamos de viver e o mundo não é da forma que gostaríamos que fosse. Em resumo, as redes sociais são estruturas virtuais sobre as quais criamos mundos virtuais imaginários, de acordo com as nossas carências, desejos e vontades que sentimos no mundo real. Tudo bem que as redes sociais são utilizadas predominantemente para o entreterimento e, sendo assim, não poderiam deixar de ter essa característica de interação humana superficial. Ainda assim, é impressionante como o tom de "enfeite", "máscara" ou "ilusão" é largamente disseminado, com temas que exaltam a alienação e a superficialidade ao ponto das pessoas não se interessarem mais por questões importantes e, portanto, da necessária profundidade exigida em tais situações, muito além do simples "lindo" ou "maravilhoso". Escrevo isso porque tentei várias vezes levar adiante conversas um pouco mais aprofundadas em uma certa comunidade do Orkut e não tive sucesso. Tentando entender não somente a falta de interesse como também a repulsa por conversas mais significativas, refleti sobre o conceito de verdade. Não que eu ache que seja dono da verdade e sim porque percebo que isso parece ser cada vez mais um conceito irrelevante em nossas vidas, sendo mais importante levar adiante um universo de mentiras do que debatermos questões realmente fundamentais, as quais já consideramos equivocadamente como superadas. Ou seja, o mundo é assim, o estilo de vida que levamos é esse mesmo, nossa visão de mundo é a ideal e não me importune com esse papo besta de verdade... Mas será que a vida é assim mesmo e ponto final?

No primeiro filme da trilogia Matrix, sucesso de bilheteria do final dos anos 90, o personagem Morpheus oferece ao personagem Neo uma decisiva oportunidade de escolha representada por duas pílulas: uma vermelha e uma azul. Tomando a pílula vermelha, Neo teria acesso à verdade por detrás dos acontecimentos estranhos que ele estava vivenciando. Tomando a pílula azul ele continuaria "sonhando acordado", levando sua vida adiante no mundo das ilusões criado pelo sistema da Matrix. Tomando a pílula vermelha ele teria acesso à verdade, nua e crua, fosse como fosse, agradável ou desagradável... não importa. Tomando a pílula azul ele continuaria a viver em um mundo de mentiras e ilusões. Quem viu o filme sabe que Neo, por suas características pessoais indagadoras, escolheu a pílula vermelha. E a realidade revelada a ele mostrou-se desagradável mas ao mesmo tempo poderosa e libertadora.

Não muito diferente do que a idéia de alienação do filme, somos todos vítimas da "síndrome do papagaio" no mundo real. Ou seja, nos apropriamos de idéias, conceitos e informações que chegam até nós sem sequer checar a origem e o histórico para saber se são dados verdadeiros ou processos ilusórios provocados por inúmeras distorções ao longo do tempo. Na esmagadora maioria das vezes, repetimos idéias alheias feito papagaios, sem saber se aquilo é algo real ou uma invenção. Começa tudo por aí: não estamos habituados a buscar a verdade e confiamos em praticamente tudo o que chega até nós de forma incondicional. Em segundo lugar, não estamos habituados a reconhecer nossos erros, comportamento que praticamente sepulta a checagem das informações, haja visto que não reconhecemos que uma grande parte das coisas que consideramos certas são meias-verdades ou simplesmente conclusões equivocadas. Em terceiro lugar, sofremos de um acentuado nível de preguiça coletiva: em plena era da informação, na qual tudo acontece de forma automática, toda atividade que requer um pouco mais de tempo e trabalho intelectual é simplesmente descartada por nós. E por último mas não menos importante, não estamos a fim de saber a verdade: nosso medo do desconhecido (é melhor um "ruim conhecido" do que um "bom a ser conhecido") reforça a tradição e impede a quebra dos paradigmas que nos aprisionam. Como resultado, passamos por um incontável número de situações como aquela pela qual Neo passou e, na maioria das vezes, preferimos tomar a pílula azul ao invés da vermelha...

Para aqueles poucos que tiveram paciência de chegar até aqui e se aventuram a tomar a pílula vermelha, eu perguntaria o seguinte: qual seria então o conceito de verdade? Como poderíamos definir esse conceito? A pergunta é óbvia demais? Presunçosa demais? Ou merece um pouco mais da nossa devida atenção?

Aguardem o próximo post...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Blog Reformado

Ao questionar as possíveis razões deste espaço ser tão pouco visitado e comentado eu decidi alterar o aspecto visual e mudar o nome do blog. Agora os textos estão melhor distribuídos nas páginas com um visual que tende a favorecer uma visita mais confortável, facilitando assim a leitura. Em relação ao nome do blog eu tentei utilizar o título "Alien Vision", simplesmente porque gosto de Inglês mas, infelizmente, já tinha alguém utilizando esse nome. Então resolvi adotar a expressão “Visão Alienígena” no lugar do velho "Alien Puzzle". Ficou assim o novo endereço: http://visaoalienigena.blogspot.com.


A primeira razão para a mudança de nome é que andei lendo sobre o tema “analfabetismo funcional”, fiquei bastante deprimido com o assunto (isso se transformará em um post brevemente) e conclui que deveria utilizar um nome de mais fácil assimilação e memorização em Português mesmo. A segunda razão é que o novo nome tem maior ligação com os rumos que este blog acabou tomando, ligeiramente diferente daquilo que eu imaginei no começo (veja aqui o post de apresentação do blog).


Com relação a algumas sugestões que eu ouvi sobre o tamanho dos textos e o tom “ácido” e “crítico” das minhas palavras, me perdõem... Sei que podem ser justamente esses os fatores desencadeantes da falta de interesse pelo blog mas isso faz parte do meu estilo e continuará um item inalterado, pois não acredito em fórmulas carinhosas e tampouco saberia agir de um jeito diferente. Lembro-me de que as conversas e textos que provocaram as influências mais profundas na minha vida foram os de característica longa, configuração mais do que natural das situações importantes que exigem a explanação de uma linha de raciocínio. Desta maneira, simplifiquei o nome do blog mas estou longe de simplificar o que eu escrevo ou de mudar a minha maneira de abordar os assuntos como venho fazendo até o momento. Para aqueles que não gostam de textos grandes ou têm preguiça de ler, eu aconselho uma boa pesquisa sobre o tema “analfalbetismo funcional” pois, muito de repente, podem estar com um problema sério e não fazem idéia disso.


Abs:

Marcio

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Jesus Te Ama!

No final da tarde de ontem, fui surpreendido pelo som de mais uma passeata na Avenida Paulista com direito a muita gritaria e histeria. Lembrei-me na hora do conteúdo do post “Cadê a Rebeldia?”, o qual discorre sobre os conflitos entre gerações e o universo rebelde dos jovem nos dias de hoje. E confesso que fiquei até empolgado, achando que finalmente alguém estava expressando seu repúdio ao governo, combatendo a opressão, lutando pelos seus direitos de cidadão, apelando para que as autoridades exercessem seu trabalho de uma forma mais humana e justa mas, infelizmente, levei um balde de água fria gigante…

Ao olhar para fora da janela do prédio, vi que um grande número de pessoas, na maioria jovens, estava gritando algo sem parar, pulando abraçados uns aos outros enquanto caminhavam pela calçada da Paulista sentido Consolação. E qual não foi meu desencanto ao perceber que eles estavam cantando em alto e bom som: “Jê - sus te ama!”. Era somente isso... Um bando de jovens pulando ao som de tambores e gritando: “Jesus te ama!”

Os leitores conseguem perceber a total inversão de valores presentes em um evento como este? Se antes eram a razão e a consciência que levavam as pessoas às ruas para protestar contra o sistema, agora são a emoção e alienação a favor do sistema dominante que comandam o espetáculo! Se antes era a capacidade de pensar, de articular pessoas em pról de uma luta com objetivos racionais, clamando por mudanças sérias e concretas que ditavam as manifestações de rua, hoje temos um bando de jovens pulando e gritando abraçados para simplemente dizer que Jesus me ama! E o pior é que eu sei que essa não foi a primeira e muito menos a última das “marchas para Jesus” que eu testemunharei, todas elas, de uma forma ou de outra, engendradas para dizer que Jesus me ama e isso ser razão suficiente para eu me juntar ao coro em estado de torpor.

Resumindo tudo, se ontem era a consciência que levava os jovens às ruas, hoje é a alienação, “sinal dos tempos” de uma sociedade cada vez mais dependente de concepções religiosas para levar sua vida adiante. E uma sociedade alienada é uma ameaça à diversidade de idéias, ao estado de direito e às instituições democráticas, sendo mais uma dica de que estamos caminhando às pressas para uma Segunda Idade das Trevas...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Pior dos EUA

A ex-governadora do Alasca e ex-candidata à Vice-Presidência pelo partido republicano, Sarah Palin (foto ao lado), pediu na última quarta-feira (dia 09/12) ao presidente Barack Obama que "boicote" a cúpula sobre a mudança climática, a qual acontece em Copenhaguen, Dinamarca (fonte:site G1). Segundo a ex-governadora, a conferência é politizada e todas as propostas de redução da emissão de gases causadores do efeito estufa estão longe de recompensar os custos econômicos. Acrescentou ainda que não há provas de que o aquecimento global está sendo causado por atividades humanas, que a cúpula do clima não trará nenhum benefício concreto e que ainda causará prejuízos à economia americana. A política baseou seus "sensatos" argumentos no recente escândalo que vem sendo chamado de "Climagate", no qual o roubo de e-mails comprometedores sobre a mudança climática trocados entre cientistas britânicos revelou uma suposta manipulação de dados para dar uma "aparência" mais grave ao aquecimento global.


As absurdas declarações dessa "decente senhora" refletem muito bem um perfil bastante desprezível de norteamericanos, os quais só enxergam o próprio umbigo, lutam com todas as armas disponíveis para proteger seus interesses imediatistas e acreditam que o mundo deveria ser regido pelas leis da Bíblia. Conforme mencionei no post "Segunda Idade das Trevas", existe um tipo específico de norteamericano que mora no interior, dirige sua caminhonete altamente poluidora, consome tudo em demasia e acha que a Terra acabará em breve mas ele, como bom cristão, estará são e salvo para viver eternamente ao lado de Deus. Já teve até político no congresso americano dizendo que o aquecimento global é fruto da vontade de Deus e não os efeitos da ação do homem sobre o mundo. Esse perfil é bastante representativo da ala de extrema direita do partido republicano, concentrando aquilo de pior que existe nos EUA através de pessoas com pensamentos tão obtusos, tradicionais e fundamentalistas quanto aqueles que orientam os interesses dos terroristas islâmicos.


Nem mesmo os americanos gostam de Sarah Palin, sendo frequente alvo de ridicularização no programa Late Show de David Letterman (que no Brasil é veiculado pelo canal por assinatura GNT). Portanto, nada mais justo do que dedicar um post em repúdio ao comportamento retrógrado, inaceitável nos dias de hoje, o qual representa um perigo real para as tomadas de decisão em assuntos importantes para o presente e futuro do planeta.


Em relação à utilização do caso "Climagate" para justificar a continuidade de um estilo de vida imediatista e predatório eu peço desculpas mas não vou nem comentar... Existe uma incontável quantidade de evidências, oriundas de diversas fontes científicas ao redor do mundo que alertam-nos para as causas humanas envolvidas no aquecimento global. Está tudo aí disponível há anos para quem estiver a fim de pesquisar em livros, revistas, documentários, Internet, etc. Mais do que querer tapar o Sol com a peneira, não querer encarar a realidade dos fatos é simplesmente um crime contra o planeta e suas futuras gerações.


Abs:

Marcio

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Água na Bunda


O presidente do painel da ONU sobre mudanças climáticas, Rajendra Pachauri, advertiu que a humanidade tem mais cinco anos para corrigir o rumo. Se nada for feito, segundo os cientistas, a desordem climática poderá ser irremediável. Diante de tal cenário, seria contraproducente tentar enumerar aqui todas as advertências sobre os riscos que corremos ao não darmos total atenção para a urgência de uma mudança radical no estilo de vida predatório que a humanidade insiste em levar adiante. Todavia, creio que vale ressaltar o furor causado pelo documentário "Uma Verdade Inconveniente", de Al Gore, o qual recebeu o Oscar de melhor documentário em 2007 e o crescente engajamento de institutos educacionais, ONGs e empresas em todo o mundo para promover práticas sustentáveis através de inovações tecnológicas diversas. Em meio ao esforço multilateral em busca por soluções, os efeitos do aquecimento global terão agora mais uma chance de serem minimizados na 5ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a qual será realizada entre os dias 7 e 19 de Dezembro, em Copenhagen, Dinamarca.

Enquanto isso, nosso ignorante presidente diz "...não podemos pensar na Amazônia como se fosse um santuário da humanidade" e a Petrobrás investe pesados recursos na exploração de combustível fóssil, seja com o tão alardeado pré-sal ou no recente arremate de duas provincias para exploração de petróleo na região da Patagônia. Essa visão do desenvolvimento humano totalmente míope e arrogante, a qual coloca o ser humano acima das outras espécies animais e vegetais, embora oportunista e conveniente em termos políticos, é ridiculamente obsoleta em termos científicos, morais e filosóficos (e que no final são os aspectos que realmente importam). Em plena contramão da História, o governo brasileiro está respondendo da seguinte maneira ao vídeo postado logo acima: danem-se os ursos polares!

E você? Vai esperar um governo cego, surdo e imediatista fazer algo para você assumir sua parcela de responsabilidade no grau de severidade do aquecimento global? Vai esperar o problema bater em sua porta como no video logo acima? Quantos ursos polares perecerão até a água bater na sua bunda e somente então você perceber que precisa fazer algo a respeito?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Liberdade de Expressão

De vez em quando sou questionado sobre a razão de eu manifestar meu posicionamento cético e agnóstico abertamente na Internet por meio deste blog. Alguns até acham que os textos que eu escrevo por aqui são desrespeitosos e que seria conveniente eu calar minha boca (no caso seria melhor dizer “calar o teclado”) e guardar minhas opiniões apenas para o meu próprio proveito intelectual.

Por causa disso, eu já estava pensando em escrever um post para explicar essa minha necessidade de expressar o que penso quando me deparei com um texto do blog “Um Ateu de Mau Humor, blog do qual eu sou seguidor e recomendo a leitura. Embora eu não me considere um ateu propriamente dito, sou um “simpatizante” da “causa” por considerar mais do que legítimo entender o mundo e a vida de uma forma diferente daquela que é apregoada pela maioria. E não é que lá no blog de autoria de Vides Júnior eu achei um texto que vem ao encontro, pelo menos em parte, daquilo que eu estava pensando em escrever por aqui?

Não costumo “copiar e colar” os textos de terceiros; prefiro criar os meus próprios mas o Vides conseguiu descrever aquilo que eu penso com tamanha perspicácia e sensatez que eu não resisti a tentação de copiá-lo na íntegra logo abaixo. Segue o texto que é a síntese da minha forma de ver o mundo:


“Oi você,
meu nome é Vides Júnior.
Eu tenho 38 anos e há 10 deles ganho a vida como jornalista e escritor.

Eu posso dizer com alguma segurança que a característica mais marcante da minha personalidade é o ceticismo. Eu geralmente não aceito as coisas por osmose ou por memética e acredito que o questionamento e a busca por respostas nos dão fundamentos e bases sólidas para enfrentar as adversidades que a vida nos impõe.

Atualmente, parte dos meus esforços de trabalho está voltada à divulgação do pensamento racional e do ceticismo. Por quê? Porque eu acredito que já tem gente demais defendendo o contrário.

Já tem gente demais falando sobre deus, tem gente demais traçando mapas astrais, tem gente demais realizando curas através das cores, das pedras e dos cheiros.

O mundo está tão cheio de logias e logias suspeitas, que a Terra parece se comportar como uma encruzilhada do Universo onde tudo é possível, de alienígenas a espíritos, de monstros a reencarnações. E por aí vai.

Por que eu decidi falar sobre ceticismo?

Por que eu acredito que o mundo possa ser tão mais mágico com os pés no chão do que voando num aviãozinho capenga chamado fé.

Eu te convido, você que ainda acredita em deus, mas tem dúvidas a respeito, a buscar algumas respostas junto comigo e descobrir que muitas das coisas que você considera milagre só o são porquê você não foi atrás das verdadeiras respostas.

O mundo não é tão mágico quanto você imagina, amigo. Eu digo isso porque eu tive minhas ilusões derrubadas pelo ceticismo. E a despeito do quadro ser meio assustador no início, eu posso dizer com mais segurança ainda que não existe nada mais confortável do que a verdade pra te dar as respostas que você procura.

A ilusão e a fé são só um paliativo para você continuar levando a sua vida como um carneirinho atrás do seu pastor. Se não é assim que você quer continuar vivendo, eu sugiro que você abra alguns livros e procure algumas respostas.

Nem todas as suas dúvidas são tão banais assim que não mereçam a sua reflexão. Mas talvez elas façam a sua vida ter um sentido maior do que você acredita que tem hoje.

Eu te deixo o meu abraço e espero continuar te vendo por aqui. (fonte: blog "Um Ateu de Mau Humor")

Sei que o aspecto cético do texto do Vides envolveu também a questão extraterrestre e não vejo isso como uma ameaça ao que escrevo por aqui. Afinal de contas, se sou contra as religiões, não posso ver um posicionamento contrário ao meu como uma ameaça àquilo que eu acredito, pois estaria simplesmente agindo da mesma forma que um religioso age. Sim, embora aparentemente contraditório, eu também tenho minhas crenças pessoais. Mas procuro crer cada vez menos e compreender cada vez mais. Para tudo aquilo que eu ainda não compreendo eu prefiro tomar uma postura indefinida ao invés de forjar uma resposta. Essa é a minha filosofia de vida.


Mas como bem salientou o Vides, já existem pastores demais divulgando o evangelho, padres demais divulgando o catolicismo, pais de santo demais divulgando o espiritismo, gurus demais divulgando as leis da “nova era”, ufólogos demais divulgando os “objetivos dos extraterrestres”... Enfim, pessoas demais divulgando as vantagens da crença em detrimento da razão.


Se todos esses indivíduos gozam de plena liberdade para expressarem suas convicções porque eu não posso divulgar as minhas? São seres humanos igualzinhos a mim, vivendo no mesmo mundo em que eu vivo, compartilhando da mesma matéria da qual eu sou feito, urinando e defecando da mesma forma como eu faço. Por qual razão então eu não posso ter o direito de expressar aquilo que eu penso? Seria porque tais pessoas possuem autoridade para tal e eu não? Seria essa uma resposta aceitável? Em caso positivo, quem deu essa autoridade à elas? Para responder essa questão, vale aquela velha frase: “só existem líderes porque existem liderados em nosso mundo”. Ou seja, não é pelo fato da maioria abdicar de seu intransferível direito de pensar por conta própria e expressar aquilo que pensa que isso vira justificativa para eu calar a minha boca.


E o mais paradoxal dessa estória é que quando um religioso expressa seu ponto de vista abertamente, seja de que forma for, ele próprio considera isso como o exercício da sua liberdade religiosa. Porém, quando alguém expressa um pensamento contrário, o religioso encara isso como preconceito ou desrespeito. Até a evangelização é encarada como "liberdade de culto", ao passo que uma pessoa divulgando o pensamento ateísta é comumente interpretado como um ato de ofensa. Muito conveniente esse tipo de postura, vocês não acham?


É por essas e outras que eu termino muito atipicamente um post neste blog parafraseando Richard Dawkins (“Ateus, saiam do armário!”) e o nosso velho Zagallo (“Vocês vão ter que me engolir!”).


Nunca fui tão pessoal utilizando os pensamentos dos outros...


Abs:

Marcio

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Novidade no Blog

Devido ao meu ideal por fomentar discussões e exercitar nosso atrofiado intelecto eu decidi criar um espaço para discussões dentro do blog. Chama-se "Fórum" e encontra-se entre a caixa de pesquisa do blog e o meu perfil, do lado direito dos posts. O intuito, como já adiantei, é gerar discussões, no estilo e profundidade por mim almejadas nos posts, mas de uma forma um pouco mais centralizada e democrática, abrangendo desde de um post específico até o blog como um todo. Vamos ver se essa experiência dá certo. Para tanto, conto com a colaboração de seguidores e internautas em geral. Não deixem de escrever...

Liberdade de expressão! Aqui, todos tem espaço!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Água na Lua

Na última sexta-feira, dia 13 de Novembro, a NASA divulgou os resultados iniciais da análise dos dados fornecidos pela sonda LCROSS ao chocar-se intencionalmente contra a cratera lunar Cabeus, no dia 09 de Outubro de 2009 (detalhes no site oficial da NASA). E a novidade é que existe muita água na Lua, ao contrário do que imaginavam os cientistas antes de terem acesso aos dados obtidos com a missão. A cratera, que fica em uma região próxima ao pólo sul (detalhe do impacto na foto acima), possui sombra permanente e temperaturas que ficam por volta de 170 graus negativos. Ao chocar-se contra o local, a sonda LCROSS levantou um jato de vapor e outros elementos ainda não identificados à uma altura de 1,6km, dimensão equivalente a aproximados 100 litros de água. A notícia empolgou os cientistas mas estes ainda permanecem cautelosos em relação a outros tipos de elementos presentes na amostragem, pois a imensa quantidade de dados ainda está sendo analisada pelos técnicos. Se existe um sistema natural de distribuição de água por baixo da superfície ou se a amostragem descoberta representa apenas um caso isolado, os cientistas ainda não sabem responder. Toda a análise vai exigir tempo.


De qualquer maneira, a descoberta é um marco histórico na exploração espacial pois é fundamental para tornar viável, no futuro, a existência de uma ou mais bases permanentes no único satélite natural da Terra. Além da água poder ser usada para consumo humano e para a fabricação de combustível, essa notícia aumenta muito a possibilidade de ser descoberta uma forma de vida extraterrestre, ainda que de natureza bacteriana. Isso porque, até onde vai o conhecimento humano contemporâneo, a água é um componente essencial à geração da vida. E tudo isso em nosso vizinho mais próximo, praticamente “na porta de casa” se for comparado com as dimensões astronômicas com as quais os cientistas estão acostumados a lidar.


Assim, cada vez mais, aumenta minha perplexidade diante da descomunal ignorância humana, fazendo-me refletir acerca do quanto nós desconhecemos sobre o restante do universo...


Abs:

Marcio

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Futebol, Política e Religião

Lembro-me de ouvir a expressão "futebol, política e religião não se discutem" desde criança e o seu uso continua firme e forte até hoje, dando muita segurança para quem se utiliza dela. Como na esmagadora maioria das vezes, repetimos essa frase feito papagaios sem sequer pensar no sentido subjacente, como forma de proteger algo que consideramos valioso e inquestionável. De uma forma geral, tanto futebol quanto a política são encarados como religião (a política, depois da guerra fria e da queda do muro de Berlim, vem perdendo as características de religião vertiginosamente) e a religião, por sua vez, nunca foi fundamentada sobre os pilares da razão. A utilização da frase denota uma ligação puramente apaixonada e de reação automática que não envolve qualquer processo de ponderação ou raciocínio lógico. E a verdade, na maioria das vezes inconveniente, é que não existem assuntos inquestionáveis. Não há assunto acima da condição humana, acima do bem e do mal ou de abrangência hunanimamente universal. A alegação de que algo é inquestionável esconde sentimentos de segurança e conforto a respeito dos quais os usuários da expressão não querem abrir mão, pois apegaram-se apaixonadamente à uma idéia ou conceito sem questionar os fundamentos desses elementos.

Todo processo humano é passível de erro e não é pelo fato de sermos religiosos que nós estaremos livres dos erros, enganos, problemas, incertezas, teimosias, mal-entendidos, etc. Aliás, tais elementos participam da nossa vida de uma forma muito mais ativa do que nós podemos sequer imaginar, uma vez constatado que as nossas chances de acerto são mínimas frente ao fato das condições de erro serem proporcionalmente imensas. Tal afirmação fundamenta-se na constatação de que nosso conhecimento sobre a realidade é extremamente pequeno e precário (vejam o vídeo Pálido Ponto Azul e o post "Não Sabemos Nada"). Desta maneira, a disposição para estar aceitando essas limitações inerentes ao ser humano, independentemente de qualquer agremiação, filosofia, crença ou visão particular acerca das coisas poderia ser o primeiro passo para estarmos revendo todos os nossos referenciais existentes. E quando escrevo "todos" são "todos mesmo". Não é pelo fato de torcermos para um time específico, estarmos filiados a um partido X,Y ou Z ou seguirmos a religião mais popular que estaremos livres de enganos. Muito pelo contrário, a religião existe desde que o mundo é mundo e nem por isso nosso planeta deixou de ser um lugar de muito sofrimento. De vez em quando, ouço alguém comentar que o mundo melhorou muito depois que o Crisitianismo surgiu, sendo esta mais uma afirmação falaciosa, bem ao estilo "futebol, política e religião não se discutem". Quem diz isso ou está defendendo "seu time" ou desconhece por completo a história da civilização ocidental para entender que o mundo, na verdade, piorou muito depois que o Cristianismo surgiu. Mas quem vai se dar o luxo de estudar a fundo a história do mundo ocidental, não é mesmo? Aliás, recentemente o Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, ironizou ao comentar que os cristãos não lêm a Bíblia. Embora ele tenha generalizado, devo concordar que existe pouquíssimo interesse por parte dos cristãos em conhecer as origens ou desenrolar da própria história do Cristianismo.

Mas afinal, que posicionamento é esse? Por que partimos do princípio de que existem coisas que não devem ser discutidas? É o apego à tradição, na ilusão de que tais premissas, amplamente aceitas pela sociedade, representam uma base sólida sobre a qual nós podemos nos acomodar com segurança. E isso sempre foi uma percepção muito falha: a esmagadora maioria das pessoas acreditava que o Sol girava ao redor da Terra quando Copérnico defendeu as bases de um modelo heliocêntrico. E a maioria estava certa? É óbvio que não... Sob o ponto de vista religioso, é claro que a sabedoria e os ensinamentos presentes em muitas filosofias milenares não deveriam ser desconsiderados, porém, há que se reconhecer humildemente as inúmeras limitações decorrentes de modelos arcaicos cujas estruturas há muito não correspondem mais com as conquistas, descobertas e necessidades do mundo moderno. Assim eu volto à questão atual do chavão que dá título a este post: se uma idéia ou conceito são realmente bem fundamentados, não há questionamento que possa colocá-los em xeque, não havendo nenhuma razão para temermos qualquer discussão. Porém, não é isso o que acontece. Buscamos sim defender o nosso ponto de vista, sem ao menos considerar a mais remota possibilidade de que ele possa estar errado. E ao utilizarmos o referido clichê estamos querendo dizer, na verdade, que estamos protegendo algo sagrado. Se esse "algo", todavia, fosse real e bem estruturado em bases sólidas, não precisaria da nossa desesperada proteção...

Em suma, a triste realidade é a seguinte: não há um compromisso com a verdade. No fundo, não estamos a fim de descobrir a verdade sobre as coisas. Se assim o fosse, não haveria mais religiões se proliferando pelo nosso mundo e nós não teríamos tanto medo de ter acesso ao conhecimento.

Abs:

Marcio

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Não Sabemos Nada

Ao assistir a série de documentários em andamento no History Channel chamada "Como Nasceu o Planeta Terra", refleti acerca de como nós, seres humanos, não sabemos absolutamente nada a respeito do mundo e da vida. Os episódios mostram, através de estudos geológicos, metereológicos e outras disciplinas correlatas, o que aconteceu em regiões específicas do nosso planeta (Deserto do Atacama no Chile, região de Nova Iorque nos EUA, Lago Ness na Escócia e Indonésia no Pacífico Sul até o momento) ao longo da linha do tempo. Só que a concepção de tempo geológico é completamente diferente da concepção humana, dando-nos uma absurda noção de insignificância diante da imensidão do tempo de existência do planeta Terra: 4,5 bilhões de anos!

O estudo dessas regiões revela-nos que a superfície do planeta mundou muito antes de nós botarmos nossos pés por aqui. Poderosos processos geológicos moldaram os continentes durante milhões de anos. O movimento das placas tectônicas geraram forças absurdas, elevaram grandes cordilheiras, geraram terremotos e expeliram muita lava através de erupções vulcânicas gigantescas. As eras glaciais mudaram completamente a superfície do planeta, influenciando correntes marítimas que, por sua vez, influenciaram o clima em outras regiões de forma interconectada.

Apenas a titulo de exemplo, a região de Nova Iorque, antes fazendo parte do extinto continente de Pangea, era formada por uma enorme cadeia de montanhas que depois foi destruída por uma geleira ainda mais alta ao longo de um processo demorado mas drámatico para a formação da região. Se fôssemos capazes de viajar em uma máquina do tempo para a região de Nova Iorque há alguns milhões de anos atrás, essa região seria absolutamente irreconhecível para nós não somente pela óbvia ausência de civilização, mas também pela drástica mudança em toda a paisagem natural.

Se por um lado o documentário "Como Nasceu o Planeta Terra" nos dá uma vasta visão do que foi o passado, outro programa do History Channel chamado "O Mundo Sem Ninguém" nos dá uma vasta idéia de como será o futuro. Nesta última série, é mostrado o que aconteceria com o mundo se, repentinamente, toda a humanidade desaparessesse. O documentário simula o que aconteceria ao longo dos anos, com as cidades sendo tomadas por plantas e animais e as construções ruindo por causa do castigo das intempéries e da falta de manutenção. Em poucos anos sem humanos, as metrópoles ficariam bem diferentes e tudo o que fosse construído pelo homem ruiria após poucas centenas de anos. Após 1000 anos sem ninguém (tempo que para o planeta Terra não significaria praticamente nada), não haveria mais nenhum sinal visível de que o mundo fora outrora habitado por criaturas inteligentes. Se o nosso mundo fosse visitado por seres de outros planetas, seria preciso uma investigação mais minuciosa para descobrir os restos de fundação das edificações sob a espessa vegetação e deduzirem em seguida que a Terra fora outrora o lar de uma civilização. Enfim, as estimativas científicas apontam para uma longa jornada de mais 5 bilhões de anos para o planeta Terra (tempo limite imposto pela morte do nosso Sol), não fazendo a menor diferença se havará ou não seres humanos para ocupá-la.

Todas essas informações me fizeram pensar em uma linha do tempo contínua, na forma de uma régua de alguns kilômetros e na qual a nossa espectativa de vida (por volta de 100 anos), um pouco estendida para ser honesto, fosse representada por apenas 1 milímetro no meio da régua. Mantenham bem esses valores em suas mentes: 100 anos representados em 1 mísero milímetro e 2009 como ponto de partida. Proporcionalmente, o nascimento oficialmente aceito de Jesus Cristo estaria localizado à uma distância aproximada de 2 centímetros antes da nossa marcação. O tempo de vida da civilização humana, conforme oficialmente aceita pelos meios acadêmicos, talvez pudesse representar algo em torno de 6 centímetros nessa régua. A existência do Homo Sapiens (o que conhecemos por Homem Moderno), representaria algo por volta de 20 centímetros antes da nossa marca. A existência dos dinossauros, espantosamente, ocuparia algo em torno de 160 metros nessa régua, finalizada dramaticamente pela queda de uma asteróide a 65 metros de nós. O tempo de existência do planeta Terra, 4,54 bilhões de anos, levaría-nos à absurda marca de 4,54 km, ao passo que o início do universo, paradoxalmente, estenderia-se até a marca de 13,5 km nessa mesma régua! E por último, de acordo com a teroria do "Big Rip", nosso universo continuará sua jornada por mais 22 km à frente da nossa marca nessa régua hipotética impressionante!

O que eu quero dizer com tudo isso é que, na maioria das vezes, tudo aquilo que sabemos está baseado em apenas 1 milímetro dessa régua de 35,5 km de extensão e tem gente achando que descobriu a verdade sobre a vida ou o sentido do universo! Religiões, seitas, movimentos e filosofias alegam ter todas as respostas. Pastores, monges, sacerdotes, rabinos, padres e gurus da nova era afirmam conhecer a verdade absoluta, aparentemente sem a devida noção sobre o quão ignorantes nós somos em relação à própria Terra (isso sem falarmos sobre o nosso completo desconhecido universo). Eu mesmo conheço gente que afirma ter a certeza de que descobriu a verdade sobre tudo. Simples assim! Muitos religiosos, inclusive, fazem questão de ignorar abertamente tudo aquilo que ocorreu antes de seus mestres surgirem sobre o mundo, como se tudo que tivesse acontecido antes desses marcos religiosos (vimos que ocorreu um assombroso universo de coisas) não tivesse serventia alguma. Ignorante, absurda e inaceitável presunção!

Se por um lado o vídeo Pálido Ponto Azul (recomendo assistir), mostrado no post de apresentação deste blog, fornece-nos uma boa idéia sobre a paradoxal vastidão do espaço, este post objetiva dar uma boa noção sobre a absurda vastidão do tempo. É só fazer uma simples comparação entre os nossos 6 centímetros de civilização e os 160 metros de pleno dominío dos dinossauros para os leitores entenderem onde eu quero chegar.


Espero que este pequeno exercício possa arranhar o nosso bom senso e fazer de nós pessoas um pouco mais inteligentes e, consequentemente, um pouco mais humildes também.

Abs:

Marcio

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Arautos da Idade Média

No post Brasil Abre As Pernas Para O Vaticano”, eu fiz um comentário sobre a extinção de uma linha mais socialista dentro da Igreja, tal qual foi a Teologia da Libertação nos anos 1970, em detrimento do crescimento da direita, focado muito mais no indivíduo e na família. Falei sobre o crescimento de um movimento ultra-tradicional e mencionei até uma eventual volta do falecido movimento TFP (Tradição, Família e Propriedade). Opa! Falecido movimento? É... Infelizmente, me enganei feio... Esse grupo não só ainda existe como está ganhando cada vez mais força, só que agora utilizando uma outra denominação: Arautos do Evangelho. Ironicamente (seria cômico se não fosse trágico), neste final de semana prolongado, um grande amigo meu foi vítima de uma associação católica de extrema direita que, para a minha surpresa, descobri ser uma dissidência do TFP (pasmém!). Mas vamos ao incidente do meu amigo com o "ressuscitado" grupo fundamentalista cristão:

Meu amigo é casado, sua mulher compartilha do seu ponto de vista "filosófico" e ambos são pais de uma filhinha de 6 anos. Constituem uma família agnóstica que vive de forma pacífica em um condomínio fechado cuja localização será omitida em respeito aos envolvidos. Ao receber no domingo, dia 11 de Outubro, uma ligação dos Arautos do Evangelho dizendo que os membros dessa organização estariam fazendo uma visita à sua casa, levando a imagem da Virgem Maria numa espécie de novena, meu amigo, respeitosamente, agradeceu e disse que não estava interessado. Questionado sobre as razões desse seu desinteresse (até então ele não havia sentido qualquer necessidade de entrar no mérito da questão), meu amigo mencionou que era ateu. Pronto! A partir de então, começou uma série de ligações, insistindo para que meu amigo aceitasse a visita deles, dizendo que tinham aberto uma paróquia dentro do condomínio (pasmém!) e até oferencendo presentes em nome do bispo deles como forma de chantagem. Meu amigo, irritado com tamanha insistência, disse que não gostaria de ser mais importunado e que era para deixarem ele e sua família em paz. Pouco tempo depois, ao sairem em pleno domingo para almoçar e já do lado de fora da casa, preparando-se para entrar no carro da família, um automóvel com 4 homens vestidos à caráter (túnicas de cor marrom e uma cruz estilizada no peito) apareceu na frente da sua casa e os estranhos ocupantes começaram a olhar para ele de forma ameaçadora. Tudo isso dentro de um condomínio fechado, local ecolhido pelo meu amigo justamente para ser um refúgio seguro para sua família!


Meu amigo relatou-me esse absurdo acontecimento hoje e, por pura curiosidade, decidi investigar sobre os Arautos do Evangelho na Internet – e fiquei embasbacado com o que eu descobri! Não se trata de uma pequena associação religiosa sem grande expressão e sim um poderoso grupo católico reconhecido pelo Vaticano e com presença confirmada em 78 países. Os caras são uma bem-sucedida dissidência do TFP, resultado de um racha ocorrido por ocasião da morte do então presidente da organização, Plínio Corrêa de Oliveira. E para quem não faz a mínima idéia do que foi o TFP e acha o teor deste post algo sem a menor importância, vale aqui um pequeno mas importante histórico:

Baluarte do anticomunismo, cultuadora de ícones medievais, propagandista da castidade, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a TFP, foi um dos movimentos mais conservadores e reacionários do Brasil até meados da década de 1990. Com forte envolvimento na política da sociedade brasileira, colaborando inclusive com o regime da ditadura militar, se dependesse da organização direitista o mundo de hoje continuaria chafurdando nos negros pântanos da Idade Média. Desde a morte de seu criador, Plinio Corrêa de Oliveira, a entidade vinha sendo tocada pelos seus oito sócios-fundadores, como mandava o regulamento criado em 1960. Um movimento rebelde, no entanto, anulou o estatuto da TFP, valendo-se de um dispositivo legal segundo o qual uma sociedade civil sem fins lucrativos não pode ser gerida sem consulta a seus integrantes. Em meio a várias idas e vindas jurídicas, os rebeldes convocaram uma assembléia, elegeram uma nova diretoria e, em plena quarta-feira santa, tomaram posse do casarão do bairro paulistano de Higienópolis onde funciona a sede da entidade. Chegaram acompanhados de cinqüenta policiais – e, ao entrar, constataram que vários tapetes e imagens haviam sido levados pelos seus antecessores. Os antigos gestores da TFP perderam o direito não apenas ao teto, mas também à sigla e até ao brasão. O leão rampante sobre fundo vermelho estampado nos estandartes da entidade era referência a um grupo de militantes da Igreja tradicionalista do início do século XX. Impossibilitados de usá-lo, os sócios-fundadores adotaram um leão parecido, só que com cara de bravo e segurando uma espada de fogo – talvez para mostrar que não irão desistir da briga facilmente.

Quem entra no site da associação e da faculdade dos Arautos do Evangelho não deixa de notar com espanto o apelo medieval da sua arquitetura, ornamentos, roupas e adereços. Impressiona também a utilização de coturnos (botas do exército) por debaixo da túnicas, fazendo clara alusão à disciplina militar e utilização de força, caso seja necessário defender aquilo que for considerado como "sagrado" (vale reforçar aqui o comportamento ameaçador na frente da casa do meu amigo). Para quem leu o Código da Vinci, as imagens dos seguidores remete-nos muito às descrições do obscuro personagem de Dan Brown, Silas, integrante da organização cristã conhecida por Opus Dei em sua famosa obra. Enfim, trata-se de um movimento fundamentalista de extrema direita, retrógado e altamente poderoso, o qual ganha cada vez mais espaço na região metropolitana de São Paulo. Com uma grande escola na região da Granja Viana e uma monumental construção conhecida no local como "castelo", a qual devastou 12 mil metros quadrados de mata nativa próximo aos condomínios de alto padrão da Serra da Cantareira, a estratégia de crescimento da organização visa apelar para as classes mais abastadas, já que a própria associação é proprietária de 250 imóveis somente no Brasil.

Fica aqui o meu protesto contra essa abordagem desrespeitosa e entimidadora por parte dos Arautos do Evangelho bem como nossa atenção redobrada para o perigoso crescimento de inúmeras seitas no Brasil, especialmente movimentos já conhecidos e com passado condenável. A expressão "o brasileiro tem memória curta" nunca foi tão atual e pertinente, sendo muito assustador organizações como esta voltarem à tona com a omissão e consentimento da nossa sociedade. A constituição brasileira prega a liberdade de culto mas não menciona nada sobre "liberdade para evangelizar", sendo este segundo item o objeto de crítica mais fundamental deste post. Sendo um país altamente religioso, tendemos a fazer vista grossa para os processos de evangelização, coniventes que somos com a conversão de novos adeptos sob a alegação de que vivemos em um país que goza de liberdade religiosa. E tal argumento é utilizado para justificar a crescente escalada do Cristianismo nas suas mais diferentes formas e pelos mais condenáveis meios, sendo que, por outro lado, a liberdade areligiosa não é mencionada em canto algum. Ateus e agnósticos não estão com seus direitos assegurados pela constituição também?

Embora seja infantil insinuar que a Opus Dei nos moldes da descrição de Dan Brown e os Arautos do Evangelho constituem a mesma coisa, o Código da Vinci não parece ser mais assim algo tão ficcional. Logo, espero que os leitores não sejam abordados por um "Silas" da próxima vez que estiverem saindo para almoçar em um lindo domingo de sol. Se derem esse tremendo azar, não venham dizer depois que foram pegos de surpresa...

Abs:

Marcio