terça-feira, 24 de novembro de 2009

Liberdade de Expressão

De vez em quando sou questionado sobre a razão de eu manifestar meu posicionamento cético e agnóstico abertamente na Internet por meio deste blog. Alguns até acham que os textos que eu escrevo por aqui são desrespeitosos e que seria conveniente eu calar minha boca (no caso seria melhor dizer “calar o teclado”) e guardar minhas opiniões apenas para o meu próprio proveito intelectual.

Por causa disso, eu já estava pensando em escrever um post para explicar essa minha necessidade de expressar o que penso quando me deparei com um texto do blog “Um Ateu de Mau Humor, blog do qual eu sou seguidor e recomendo a leitura. Embora eu não me considere um ateu propriamente dito, sou um “simpatizante” da “causa” por considerar mais do que legítimo entender o mundo e a vida de uma forma diferente daquela que é apregoada pela maioria. E não é que lá no blog de autoria de Vides Júnior eu achei um texto que vem ao encontro, pelo menos em parte, daquilo que eu estava pensando em escrever por aqui?

Não costumo “copiar e colar” os textos de terceiros; prefiro criar os meus próprios mas o Vides conseguiu descrever aquilo que eu penso com tamanha perspicácia e sensatez que eu não resisti a tentação de copiá-lo na íntegra logo abaixo. Segue o texto que é a síntese da minha forma de ver o mundo:


“Oi você,
meu nome é Vides Júnior.
Eu tenho 38 anos e há 10 deles ganho a vida como jornalista e escritor.

Eu posso dizer com alguma segurança que a característica mais marcante da minha personalidade é o ceticismo. Eu geralmente não aceito as coisas por osmose ou por memética e acredito que o questionamento e a busca por respostas nos dão fundamentos e bases sólidas para enfrentar as adversidades que a vida nos impõe.

Atualmente, parte dos meus esforços de trabalho está voltada à divulgação do pensamento racional e do ceticismo. Por quê? Porque eu acredito que já tem gente demais defendendo o contrário.

Já tem gente demais falando sobre deus, tem gente demais traçando mapas astrais, tem gente demais realizando curas através das cores, das pedras e dos cheiros.

O mundo está tão cheio de logias e logias suspeitas, que a Terra parece se comportar como uma encruzilhada do Universo onde tudo é possível, de alienígenas a espíritos, de monstros a reencarnações. E por aí vai.

Por que eu decidi falar sobre ceticismo?

Por que eu acredito que o mundo possa ser tão mais mágico com os pés no chão do que voando num aviãozinho capenga chamado fé.

Eu te convido, você que ainda acredita em deus, mas tem dúvidas a respeito, a buscar algumas respostas junto comigo e descobrir que muitas das coisas que você considera milagre só o são porquê você não foi atrás das verdadeiras respostas.

O mundo não é tão mágico quanto você imagina, amigo. Eu digo isso porque eu tive minhas ilusões derrubadas pelo ceticismo. E a despeito do quadro ser meio assustador no início, eu posso dizer com mais segurança ainda que não existe nada mais confortável do que a verdade pra te dar as respostas que você procura.

A ilusão e a fé são só um paliativo para você continuar levando a sua vida como um carneirinho atrás do seu pastor. Se não é assim que você quer continuar vivendo, eu sugiro que você abra alguns livros e procure algumas respostas.

Nem todas as suas dúvidas são tão banais assim que não mereçam a sua reflexão. Mas talvez elas façam a sua vida ter um sentido maior do que você acredita que tem hoje.

Eu te deixo o meu abraço e espero continuar te vendo por aqui. (fonte: blog "Um Ateu de Mau Humor")

Sei que o aspecto cético do texto do Vides envolveu também a questão extraterrestre e não vejo isso como uma ameaça ao que escrevo por aqui. Afinal de contas, se sou contra as religiões, não posso ver um posicionamento contrário ao meu como uma ameaça àquilo que eu acredito, pois estaria simplesmente agindo da mesma forma que um religioso age. Sim, embora aparentemente contraditório, eu também tenho minhas crenças pessoais. Mas procuro crer cada vez menos e compreender cada vez mais. Para tudo aquilo que eu ainda não compreendo eu prefiro tomar uma postura indefinida ao invés de forjar uma resposta. Essa é a minha filosofia de vida.


Mas como bem salientou o Vides, já existem pastores demais divulgando o evangelho, padres demais divulgando o catolicismo, pais de santo demais divulgando o espiritismo, gurus demais divulgando as leis da “nova era”, ufólogos demais divulgando os “objetivos dos extraterrestres”... Enfim, pessoas demais divulgando as vantagens da crença em detrimento da razão.


Se todos esses indivíduos gozam de plena liberdade para expressarem suas convicções porque eu não posso divulgar as minhas? São seres humanos igualzinhos a mim, vivendo no mesmo mundo em que eu vivo, compartilhando da mesma matéria da qual eu sou feito, urinando e defecando da mesma forma como eu faço. Por qual razão então eu não posso ter o direito de expressar aquilo que eu penso? Seria porque tais pessoas possuem autoridade para tal e eu não? Seria essa uma resposta aceitável? Em caso positivo, quem deu essa autoridade à elas? Para responder essa questão, vale aquela velha frase: “só existem líderes porque existem liderados em nosso mundo”. Ou seja, não é pelo fato da maioria abdicar de seu intransferível direito de pensar por conta própria e expressar aquilo que pensa que isso vira justificativa para eu calar a minha boca.


E o mais paradoxal dessa estória é que quando um religioso expressa seu ponto de vista abertamente, seja de que forma for, ele próprio considera isso como o exercício da sua liberdade religiosa. Porém, quando alguém expressa um pensamento contrário, o religioso encara isso como preconceito ou desrespeito. Até a evangelização é encarada como "liberdade de culto", ao passo que uma pessoa divulgando o pensamento ateísta é comumente interpretado como um ato de ofensa. Muito conveniente esse tipo de postura, vocês não acham?


É por essas e outras que eu termino muito atipicamente um post neste blog parafraseando Richard Dawkins (“Ateus, saiam do armário!”) e o nosso velho Zagallo (“Vocês vão ter que me engolir!”).


Nunca fui tão pessoal utilizando os pensamentos dos outros...


Abs:

Marcio

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Novidade no Blog

Devido ao meu ideal por fomentar discussões e exercitar nosso atrofiado intelecto eu decidi criar um espaço para discussões dentro do blog. Chama-se "Fórum" e encontra-se entre a caixa de pesquisa do blog e o meu perfil, do lado direito dos posts. O intuito, como já adiantei, é gerar discussões, no estilo e profundidade por mim almejadas nos posts, mas de uma forma um pouco mais centralizada e democrática, abrangendo desde de um post específico até o blog como um todo. Vamos ver se essa experiência dá certo. Para tanto, conto com a colaboração de seguidores e internautas em geral. Não deixem de escrever...

Liberdade de expressão! Aqui, todos tem espaço!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Água na Lua

Na última sexta-feira, dia 13 de Novembro, a NASA divulgou os resultados iniciais da análise dos dados fornecidos pela sonda LCROSS ao chocar-se intencionalmente contra a cratera lunar Cabeus, no dia 09 de Outubro de 2009 (detalhes no site oficial da NASA). E a novidade é que existe muita água na Lua, ao contrário do que imaginavam os cientistas antes de terem acesso aos dados obtidos com a missão. A cratera, que fica em uma região próxima ao pólo sul (detalhe do impacto na foto acima), possui sombra permanente e temperaturas que ficam por volta de 170 graus negativos. Ao chocar-se contra o local, a sonda LCROSS levantou um jato de vapor e outros elementos ainda não identificados à uma altura de 1,6km, dimensão equivalente a aproximados 100 litros de água. A notícia empolgou os cientistas mas estes ainda permanecem cautelosos em relação a outros tipos de elementos presentes na amostragem, pois a imensa quantidade de dados ainda está sendo analisada pelos técnicos. Se existe um sistema natural de distribuição de água por baixo da superfície ou se a amostragem descoberta representa apenas um caso isolado, os cientistas ainda não sabem responder. Toda a análise vai exigir tempo.


De qualquer maneira, a descoberta é um marco histórico na exploração espacial pois é fundamental para tornar viável, no futuro, a existência de uma ou mais bases permanentes no único satélite natural da Terra. Além da água poder ser usada para consumo humano e para a fabricação de combustível, essa notícia aumenta muito a possibilidade de ser descoberta uma forma de vida extraterrestre, ainda que de natureza bacteriana. Isso porque, até onde vai o conhecimento humano contemporâneo, a água é um componente essencial à geração da vida. E tudo isso em nosso vizinho mais próximo, praticamente “na porta de casa” se for comparado com as dimensões astronômicas com as quais os cientistas estão acostumados a lidar.


Assim, cada vez mais, aumenta minha perplexidade diante da descomunal ignorância humana, fazendo-me refletir acerca do quanto nós desconhecemos sobre o restante do universo...


Abs:

Marcio

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Futebol, Política e Religião

Lembro-me de ouvir a expressão "futebol, política e religião não se discutem" desde criança e o seu uso continua firme e forte até hoje, dando muita segurança para quem se utiliza dela. Como na esmagadora maioria das vezes, repetimos essa frase feito papagaios sem sequer pensar no sentido subjacente, como forma de proteger algo que consideramos valioso e inquestionável. De uma forma geral, tanto futebol quanto a política são encarados como religião (a política, depois da guerra fria e da queda do muro de Berlim, vem perdendo as características de religião vertiginosamente) e a religião, por sua vez, nunca foi fundamentada sobre os pilares da razão. A utilização da frase denota uma ligação puramente apaixonada e de reação automática que não envolve qualquer processo de ponderação ou raciocínio lógico. E a verdade, na maioria das vezes inconveniente, é que não existem assuntos inquestionáveis. Não há assunto acima da condição humana, acima do bem e do mal ou de abrangência hunanimamente universal. A alegação de que algo é inquestionável esconde sentimentos de segurança e conforto a respeito dos quais os usuários da expressão não querem abrir mão, pois apegaram-se apaixonadamente à uma idéia ou conceito sem questionar os fundamentos desses elementos.

Todo processo humano é passível de erro e não é pelo fato de sermos religiosos que nós estaremos livres dos erros, enganos, problemas, incertezas, teimosias, mal-entendidos, etc. Aliás, tais elementos participam da nossa vida de uma forma muito mais ativa do que nós podemos sequer imaginar, uma vez constatado que as nossas chances de acerto são mínimas frente ao fato das condições de erro serem proporcionalmente imensas. Tal afirmação fundamenta-se na constatação de que nosso conhecimento sobre a realidade é extremamente pequeno e precário (vejam o vídeo Pálido Ponto Azul e o post "Não Sabemos Nada"). Desta maneira, a disposição para estar aceitando essas limitações inerentes ao ser humano, independentemente de qualquer agremiação, filosofia, crença ou visão particular acerca das coisas poderia ser o primeiro passo para estarmos revendo todos os nossos referenciais existentes. E quando escrevo "todos" são "todos mesmo". Não é pelo fato de torcermos para um time específico, estarmos filiados a um partido X,Y ou Z ou seguirmos a religião mais popular que estaremos livres de enganos. Muito pelo contrário, a religião existe desde que o mundo é mundo e nem por isso nosso planeta deixou de ser um lugar de muito sofrimento. De vez em quando, ouço alguém comentar que o mundo melhorou muito depois que o Crisitianismo surgiu, sendo esta mais uma afirmação falaciosa, bem ao estilo "futebol, política e religião não se discutem". Quem diz isso ou está defendendo "seu time" ou desconhece por completo a história da civilização ocidental para entender que o mundo, na verdade, piorou muito depois que o Cristianismo surgiu. Mas quem vai se dar o luxo de estudar a fundo a história do mundo ocidental, não é mesmo? Aliás, recentemente o Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, ironizou ao comentar que os cristãos não lêm a Bíblia. Embora ele tenha generalizado, devo concordar que existe pouquíssimo interesse por parte dos cristãos em conhecer as origens ou desenrolar da própria história do Cristianismo.

Mas afinal, que posicionamento é esse? Por que partimos do princípio de que existem coisas que não devem ser discutidas? É o apego à tradição, na ilusão de que tais premissas, amplamente aceitas pela sociedade, representam uma base sólida sobre a qual nós podemos nos acomodar com segurança. E isso sempre foi uma percepção muito falha: a esmagadora maioria das pessoas acreditava que o Sol girava ao redor da Terra quando Copérnico defendeu as bases de um modelo heliocêntrico. E a maioria estava certa? É óbvio que não... Sob o ponto de vista religioso, é claro que a sabedoria e os ensinamentos presentes em muitas filosofias milenares não deveriam ser desconsiderados, porém, há que se reconhecer humildemente as inúmeras limitações decorrentes de modelos arcaicos cujas estruturas há muito não correspondem mais com as conquistas, descobertas e necessidades do mundo moderno. Assim eu volto à questão atual do chavão que dá título a este post: se uma idéia ou conceito são realmente bem fundamentados, não há questionamento que possa colocá-los em xeque, não havendo nenhuma razão para temermos qualquer discussão. Porém, não é isso o que acontece. Buscamos sim defender o nosso ponto de vista, sem ao menos considerar a mais remota possibilidade de que ele possa estar errado. E ao utilizarmos o referido clichê estamos querendo dizer, na verdade, que estamos protegendo algo sagrado. Se esse "algo", todavia, fosse real e bem estruturado em bases sólidas, não precisaria da nossa desesperada proteção...

Em suma, a triste realidade é a seguinte: não há um compromisso com a verdade. No fundo, não estamos a fim de descobrir a verdade sobre as coisas. Se assim o fosse, não haveria mais religiões se proliferando pelo nosso mundo e nós não teríamos tanto medo de ter acesso ao conhecimento.

Abs:

Marcio