sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Não Sabemos Nada

Ao assistir a série de documentários em andamento no History Channel chamada "Como Nasceu o Planeta Terra", refleti acerca de como nós, seres humanos, não sabemos absolutamente nada a respeito do mundo e da vida. Os episódios mostram, através de estudos geológicos, metereológicos e outras disciplinas correlatas, o que aconteceu em regiões específicas do nosso planeta (Deserto do Atacama no Chile, região de Nova Iorque nos EUA, Lago Ness na Escócia e Indonésia no Pacífico Sul até o momento) ao longo da linha do tempo. Só que a concepção de tempo geológico é completamente diferente da concepção humana, dando-nos uma absurda noção de insignificância diante da imensidão do tempo de existência do planeta Terra: 4,5 bilhões de anos!

O estudo dessas regiões revela-nos que a superfície do planeta mundou muito antes de nós botarmos nossos pés por aqui. Poderosos processos geológicos moldaram os continentes durante milhões de anos. O movimento das placas tectônicas geraram forças absurdas, elevaram grandes cordilheiras, geraram terremotos e expeliram muita lava através de erupções vulcânicas gigantescas. As eras glaciais mudaram completamente a superfície do planeta, influenciando correntes marítimas que, por sua vez, influenciaram o clima em outras regiões de forma interconectada.

Apenas a titulo de exemplo, a região de Nova Iorque, antes fazendo parte do extinto continente de Pangea, era formada por uma enorme cadeia de montanhas que depois foi destruída por uma geleira ainda mais alta ao longo de um processo demorado mas drámatico para a formação da região. Se fôssemos capazes de viajar em uma máquina do tempo para a região de Nova Iorque há alguns milhões de anos atrás, essa região seria absolutamente irreconhecível para nós não somente pela óbvia ausência de civilização, mas também pela drástica mudança em toda a paisagem natural.

Se por um lado o documentário "Como Nasceu o Planeta Terra" nos dá uma vasta visão do que foi o passado, outro programa do History Channel chamado "O Mundo Sem Ninguém" nos dá uma vasta idéia de como será o futuro. Nesta última série, é mostrado o que aconteceria com o mundo se, repentinamente, toda a humanidade desaparessesse. O documentário simula o que aconteceria ao longo dos anos, com as cidades sendo tomadas por plantas e animais e as construções ruindo por causa do castigo das intempéries e da falta de manutenção. Em poucos anos sem humanos, as metrópoles ficariam bem diferentes e tudo o que fosse construído pelo homem ruiria após poucas centenas de anos. Após 1000 anos sem ninguém (tempo que para o planeta Terra não significaria praticamente nada), não haveria mais nenhum sinal visível de que o mundo fora outrora habitado por criaturas inteligentes. Se o nosso mundo fosse visitado por seres de outros planetas, seria preciso uma investigação mais minuciosa para descobrir os restos de fundação das edificações sob a espessa vegetação e deduzirem em seguida que a Terra fora outrora o lar de uma civilização. Enfim, as estimativas científicas apontam para uma longa jornada de mais 5 bilhões de anos para o planeta Terra (tempo limite imposto pela morte do nosso Sol), não fazendo a menor diferença se havará ou não seres humanos para ocupá-la.

Todas essas informações me fizeram pensar em uma linha do tempo contínua, na forma de uma régua de alguns kilômetros e na qual a nossa espectativa de vida (por volta de 100 anos), um pouco estendida para ser honesto, fosse representada por apenas 1 milímetro no meio da régua. Mantenham bem esses valores em suas mentes: 100 anos representados em 1 mísero milímetro e 2009 como ponto de partida. Proporcionalmente, o nascimento oficialmente aceito de Jesus Cristo estaria localizado à uma distância aproximada de 2 centímetros antes da nossa marcação. O tempo de vida da civilização humana, conforme oficialmente aceita pelos meios acadêmicos, talvez pudesse representar algo em torno de 6 centímetros nessa régua. A existência do Homo Sapiens (o que conhecemos por Homem Moderno), representaria algo por volta de 20 centímetros antes da nossa marca. A existência dos dinossauros, espantosamente, ocuparia algo em torno de 160 metros nessa régua, finalizada dramaticamente pela queda de uma asteróide a 65 metros de nós. O tempo de existência do planeta Terra, 4,54 bilhões de anos, levaría-nos à absurda marca de 4,54 km, ao passo que o início do universo, paradoxalmente, estenderia-se até a marca de 13,5 km nessa mesma régua! E por último, de acordo com a teroria do "Big Rip", nosso universo continuará sua jornada por mais 22 km à frente da nossa marca nessa régua hipotética impressionante!

O que eu quero dizer com tudo isso é que, na maioria das vezes, tudo aquilo que sabemos está baseado em apenas 1 milímetro dessa régua de 35,5 km de extensão e tem gente achando que descobriu a verdade sobre a vida ou o sentido do universo! Religiões, seitas, movimentos e filosofias alegam ter todas as respostas. Pastores, monges, sacerdotes, rabinos, padres e gurus da nova era afirmam conhecer a verdade absoluta, aparentemente sem a devida noção sobre o quão ignorantes nós somos em relação à própria Terra (isso sem falarmos sobre o nosso completo desconhecido universo). Eu mesmo conheço gente que afirma ter a certeza de que descobriu a verdade sobre tudo. Simples assim! Muitos religiosos, inclusive, fazem questão de ignorar abertamente tudo aquilo que ocorreu antes de seus mestres surgirem sobre o mundo, como se tudo que tivesse acontecido antes desses marcos religiosos (vimos que ocorreu um assombroso universo de coisas) não tivesse serventia alguma. Ignorante, absurda e inaceitável presunção!

Se por um lado o vídeo Pálido Ponto Azul (recomendo assistir), mostrado no post de apresentação deste blog, fornece-nos uma boa idéia sobre a paradoxal vastidão do espaço, este post objetiva dar uma boa noção sobre a absurda vastidão do tempo. É só fazer uma simples comparação entre os nossos 6 centímetros de civilização e os 160 metros de pleno dominío dos dinossauros para os leitores entenderem onde eu quero chegar.


Espero que este pequeno exercício possa arranhar o nosso bom senso e fazer de nós pessoas um pouco mais inteligentes e, consequentemente, um pouco mais humildes também.

Abs:

Marcio

Nenhum comentário:

Postar um comentário