domingo, 13 de março de 2011

Dor de Barriga dos Deuses

Impressionante como os crédulos de plantão se aproveitam dos desastres e catástrofes naturais para justificarem suas crenças. A cada erupção vulcânica, terremoto, tsunami e todas as suas conseqüências para a vida humana, existe uma justificativa muito plausível (segundo as premissas de quem interpreta os fenômenos) para os acontecimentos: expurgação do mundo, apocalipse bíblico, profecias, calendário Maia, transição planetária, alinhamento galático, era de aquário, 2012, etc. Apelamos e fortalecemos nossas crenças nesses momentos de profunda comoção, esquecendo-nos que devemos ser atores e não telespectadores do grande filme da vida.

A analogia cinematográfica para tais situações deve-se ao fato dos crédulos acreditarem em agentes externos à nossa vida, os quais orquestrariam acontecimentos fora do nosso controle. A falta de conhecimento é um outro ingrediente que adiciona ainda mais cegueira ao problema ao sermos testemunhas das interpretações equivocadas de que “as coisas estão piorando”, “os desastres estão se multiplicando”, sendo que, na verdade, coisas deste tipo sempre ocorreram mas o que mudou de forma exponencial foi o nosso poder de comunicação e cobertura de tais eventos. Assim, na tentativa desesperada de “criar uma zona de conforto psicológico”, procuramos justificar tais desastres pela ótica da intervenção de uma força maior, a qual define quem deve morrer e quem deve prosseguir em nossa jornada sobre a Terra. A interpretação de uma catástrofe, portanto, seria da perspectiva de quem assiste um filme, sem ter nada o que fazer para mudar o enredo.

A questão totalmente equivocada é a de que podemos fazer algo sim, se não para mudar a situação, pelo menos para minimizar os impactos de cada catástrofe. Para isso temos inteligência, a qual nos fez descer das árvores e estar aqui agora lendo este texto na Internet. Estou longe de ser um otimista desvairado, daquele tipo que usa lentes cor-de-rosa e enxerga tudo de forma harmoniosa. Aliás, combato justamente isso da forma que eu posso em meu dia-a-dia. Mas devemos ser otimistas realistas e utilizar mais o nosso intelecto para aprimorar nossos sistemas de prevenção ou antecipação dos desastres (Japão é um bom exemplo disso) e abandonar definitivamente tecnologias obsoletas por causa do maldito poder econômico como a utilização de combustíveis fósseis e de energia nuclear (Japão é um mal exemplo disso).

Parte das ações necessárias para que tais mudanças ocorram depende do muito mais complexo abandono de nossas próprias crenças em como o mundo e a vida se movem. Crenças de que existam forças, energias ou planos além do domínio humano conspirando para que desastres ocorram. Desta forma, deixamos de ser telespectadores e passamos a ser atores de um grande filme chamado vida, tomando as rédeas de nosso próprio futuro.

Parafraseando o grande Peter Diamandis, criador do X Prize, projeto que viabilizou a primeira viagem privada de uma aeronave para fora da órbita terrestre: “A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo pelas nossas próprias mãos”. Se acreditamos fortemente em destino, em uma força maior que controla absolutamente tudo, mais catástrofes ocorrerão, mais pessoas morrerão e mais pessoas justificarão tudo pela perspectiva de uma "força superior”. Está mais do que na hora de sermos mais responsáveis pelos nossos atos, de acreditarmos na capacidade do ser humano e de parar de acreditar que as coisas que acontecem ao nosso redor são o fruto da dor de barriga dos deuses...

Abs,
Marcio

2 comentários:

  1. O que você sugere é muito difícil. As pessoas gostam de ser como são. Gostam de acreditar no que acreditam. Gostam de encontrar pseudo-explicações em desígnios divinos quando a realidade como ela é parece não fazer sentido algum. Mas o que não faz sentido? A realidade como ela é? Ou nossa percepção atual da mesma? Que nível de percepção da realidade temos hoje com tantas distrações espirituais desviando nossos olhares do mundo real? Muito difícil isso que você sugere. Mas não porque exista real dificuldade nisso que você pede. A real dificuldade está na quebra do ciclo vicioso da distração espiritual, do além-mundo. Mas, mesmo sendo quase impossível, desejo a mesma coisa que você. Que passemos a ser os verdadeiros donos de nossos atos. Abraço...

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  2. De fato Roni, concordo que a mudança sugerida é muito difícil. Isso porque muito dificilmente as pessoas param para reavaliar a sua forma de ver o mundo e a vida. Na maior parte do tempo acreditamos que estamos 100% certos, crença que está muito longe de ser verdadeira haja visto que cada um pensa de um jeito diferente, prejudicando o bem coletivo.

    Concordo com a expressão ”distrações espirituais”, as quais representam uma sociedade demasiadamente supersticiosa cujas características nos remetem ao tempo das cavernas, quando o homem provavelmente achava que as tempestades eram o reflexo do mau-humor dos deuses. Psicologicamente, evoluímos muito pouco.

    Como humanista, contudo, prefiro “manter a minha fé” no potencial humano e acreditar que, embora muito difícil, o ser humano será um dia capaz de superar a si próprio para finalmente amadurecer.

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