quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Anatomia de Um Segredo

Não é a primeira vez que exploro a temática dos paradigmas neste blog mas confesso que é a primeira vez que tenho dificuldades em lidar com o assunto em questão, visto que fui testemunha ocular de uma realidade muito raramente aceita como algo possível, vivenciando na prática a violenta quebra de um paradigma. Conforme foi mencionado nos posts "Evangelização" e "Tudo é Bolha", nossos velhos paradigmas, como sempre, procuram atuar de uma forma castradora, inibindo qualquer explicação fora do contexto padrão. No campo da ciência, por exemplo, os critérios de aceitação daquilo que subentende-se por “experiência real” na cultura do ocidente devem obedecer o mundo objetivo descrito por Descartes e Newton. Qualquer afastamento na descrição dessa “realidade objetiva” é encarado como consequência de uma imaginação fértil ou até mesmo de uma anomalia mental. As vezes, porém, um evento ou elemento novo podem entrar em nossa vida, resultando num verdadeiro “choque de realidades” que faz cair por terra as nossas velhas concepções acerca da realidade. A estória a ser descrita a seguir é verídica porque fui testemunha ocular do evento em questão. Local, data, pessoas, circunstâncias e sequência cronólogica são todos reais. Trata-se da descrição fiel de um evento que realmente aconteceu mas que muitos interpretarão como uma obra de ficção científica, produto de alguém que quer chamar a atenção ou até mesmo o resultado do uso de drogas. Todavia, saliento que o alcance do meu blog em termos de audiência é simplesmente insignificante, nunca fui usuário de drogas, o evento não foi inventado e é um exemplo bastante útil de como a nossa percepção sobre o conceito de “realidade” pode estar “desfocada”.

Em Novembro de 1994, durante um feriado prolongado, eu estava no perímetro externo do Parque Nacional de Itatiaia, que cobre parte da Serra da Mantiqueira no estado do Rio de Janeiro, acampando com um grupo de amigos. Estávamos instalados num local conhecido por Brejo da Lapa. O lugar era maravilhosamente belo: cercado por montanhas, havia um pequeno lago rodeado em parte por um brejo, em parte por terra firme com vegetação rasteira e uma estrada de terra num nível um pouco mais acima, ligando de um lado o longo trajeto até o asfalto e do outro o caminho até o Parque Nacional de Itatiaia, onde fica o magnífico Pico das Agulhas Negras. Era noite e, naquela época, a região bucólica ainda era um refúgio ideal para a prática de acampamentos selvagens, antes do IBAMA proibir tal atividade na área por causa de visitantes inconsequentes que começaram a poluir o local. Éramos um grupo aproximado de vinte pessoas, sentados em forma de meia-lua ao lado do lago. A grande maioria das pessoas estava sentada de costas para a estrada, ouvindo nossa amiga Angélica, no centro, comentar sobre certos exercícios orientais de respiração e relaxamento. Eu estava na outra extremidade da fileira de pessoas, as poucas que podiam contemplar parte da estrada de terra, junto com a minha namorada na época, Márcia, uma amiga chamada Regina e mais um rapaz cujo nome infelizmente eu não lembro.

Estávamos ouvindo a Angélica falar quando algo estranho chamou a minha atenção próximo a um trailer de um amigo nosso, parado na beira da estrada. Eu calculo que estávamos mais ou menos uns 40 metros do trailer, quando uma luz muito tênue mas visível o suficiente para chamar a minha atenção começou a aparecer. Era incrível… Por detrás do trailer surgiu uma figura humanóide irradiando luz do próprio corpo que começou a caminhar pela estrada. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Tentei localizar qualquer foco de luz que pudesse denunciar uma brincadeira por parte de alguém munido de um “projetor” mas não vi absolutamente nada. Não havia ninguém na estrada além daquela estranha figura. O que era aquilo? A despeito da peplexidade da visão tive uma inesperada reação de ficar simplesmente quieto. Tinha a sensação, não sei porque, de que poderia perder o espetáculo caso fizesse qualquer estardalhaço. Só tive um impulso de cutucar a Márcia e perguntar em voz baixa se ela estava vendo a mesma coisa que eu, sendo uma forma também de conferir se eu não estava ficando louco. Para meu alívio, ela confirmou que estava vendo tudo também. Permanecemos quietos, atentos e de olhos bem abertos. Tratava-se da silhueta de uma figura humana esguia em forma de luz branca, concentrada, dando para perceber nitidamente a cabeça, o tronco, braços e pernas. Não era possível perceber detalhes tais como fisionomia, roupa, etc. Era como se a criatura fosse um holograma em movimento que emanava luz do próprio corpo, sem qualquer foco de luz visível fora dos contornos de seus membros. Uma luz contida nos perímetros de um formato humanóide, andando pela estrada de terra, sendo visivelmente mais alto que um ser humano comum (depois de terminada a estranha manifestação, calculamos que a figura deveria ter uns 2,5 metros de altura aproximadamente, tendo como referência de comparação a altura do trailer).

Alguns segundos depois de efetuar sua caminhada, a criatura parou e voltou-se para nós, como se estivesse olhando em nossa direção, como se soubesse que estávamos vigiando seus passos. Senti um arrepio correr pela espinha mas fiquei estranhamento calmo logo em seguida. Fiquei muito contente por estar observando algo tão inusitado mas era uma alegria serena, contida. Tive uma estranha sensação de tranquilidade e a criatura começou a caminhar novamente. Um pouco mais para a frente, a luz começou a desvanecer-se, perdendo a sua nitidez original, semelhante a um canal de TV fora do ar e cheio de “chuviscos”, até desaparecer por completo diante dos nossos olhos atônitos. Chequei com a Márcia, com a Regina e com o rapaz ao meu lado após o final da explanação da Angélica e eles confirmaram tudo aquilo que eu tinha acabado de ver. Fiquei muito feliz mas ao mesmo tempo perplexo. Havíamos visto algo totalmente fora dos padrões de qualquer explicação natural ou científica e ninguém acreditaria em nossa estória. Vale ressaltar que não havíamos bebido nada, nunca fomos usuários de drogas e sempre enxergamos muito bem. Mas a partir de agora, se estivéssemos dispostos a dividir tal experiência com outras pessoas, deveríamos estar preparados para a ridicularização do nosso testemunho.

Embora estivesse certo do que acabara de ver eu ainda não estava satisfeito. Eu queria livrar-me de qualquer possibilidade de engano ou mal-entendido. Foi quando pedi para a Márcia, a Regina e o rapaz ao meu lado permanecerem ali, no local da observação, pois eu gostaria de dirigir-me até a estrada para ver de perto por onde tal forma luminosa acabara de passar. O intuito era fazer o mesmo trajeto do humanóide para saber se não poderíamos ter confundido tal manifestação com algum fenômeno conhecido, tal qual a possibilidade de alguém estar andando por lá com uma lanterna acesa, por exemplo. Eu sabia que era plenamente capaz de diferenciar o estranho fenômeno de uma pessoa andando por ali com uma lanterna, afinal, já tinha visto pessoas passando por ali várias vezes durante a noite. Mas mesmo assim, insisti por pura precaução. Fiz o trajeto várias vezes, hora munido de lanterna acesa, hora apagada; com a lanterna acesa dentro do meu casaco e fora dele; andando depressa e andando devagar… Enfim, esgotei todas as formas pelas quais alguém andando por ali pudesse causar algum “efeito visual” fora do normal. Voltei depois para o encontro da Márcia, da Regina e do rapaz e pedi para que me relatassem o que tinham visto. Os três comentaram que em nenhum momento eu sequer havia me aproximado daquilo que havíamos presenciado. Para começar, a Márcia disse que eu aparentava ter quase a metade da estatura do indivíduo em formato de luz. E as peripécias com a lanterna e o casaco tampouco chegaram perto do efeito extraordinário que havíamos visto anteriormente. Senti um grande alívio novamente, afinal, havia confirmado a minha impressão inicial. Por mais que a maioria das pessoas ali presentes não tivesse visto o humanóide luminoso, por uma simples condição de posicionamento físico perante tal acontecimento, estávamos certos de que tínhamos confrontado nossas observações e de que não podíamos negar o que vimos. No dia seguinte ficamos sabendo que um grupo de pessoas acampadas numa barraca morro acima, um pouco mais distantes do que nós, haviam notado o estranho fenômeno também. Era mais uma confirmação de que não havíamos sido presas de um engôdo ou de um mal-entendido. Tínhamos apenas sido testemunhas oculares de uma realidade fantástica.

Carrego as lembranças deste acontecimento comigo por onde quer que eu vá. As vezes minha realidade diária choca-se de frente com as lembranças deste evento e procura-se impor, tentando convencer-me de que não vimos o que vimos ou de que tudo não passou de um sonho. Talvez se eu não tivesse eliminado na hora certos detalhes passíveis de questionamento hoje fosse um pouco mais fácil convencer-me de que fora um engano. Mas a realidade dos fatos não permite negar o que vimos. Interpretações para tal evento podem variar tanto quanto variam os nossos paradigmas, dando conotações esotéricas, espiritualistas ou religiosas para uma coisa não se enquadra na explicação culturalmente aceita. Pela minha perspectiva, porém, fiquei com a impressão de que tratava-se do subproduto de uma avançada tecnologia holográfica. E de onde tal tecnologia teria vindo os seguidores deste blog já devem estar montando a imagem em suas cabeças. Todavia, antes que os céticos se manifestem a respeito (eu mesmo sou um deles), vale lembrar que somente hoje, 15 anos depois do ocorrido, as primeiras experiências com hologramas nos moldes de "Star Wars" estão sendo efetuadas com sofisticados aparatos tecnológicos, elementos que não exisitiam na época, muito menos ainda em uma estrada de terra sem luz no meio do mato e a qual eu mesmo chequei em seguida com o intuito de encontrar qualquer forma de embuste (e não encontrei nada!).

Mas o que importa, no momento, é a dinâmica subjacente que faz tal manifestação ser apenas um dos exemplos do nosso comportamento diário de distanciamento e indiferença perante as coisas que não vemos, não sentimos ou não percebemos. Se certas pessoas vivem situações perante as quais a ciência oficial não consegue dar nenhuma explicação ou se eventos “oficialmente aceitos” ocorrem no país vizinho ou do outro lado do planeta isso não parece ser algo real. Como a estória de São Tomé retratada logo acima, só acreditamos naquilo que podemos tocar, colocando-nos arrogantemente como referência para aquilo que acontece ou deixa de acontecer sobre o mundo. E com a licenca de René Descartes, a equação para a arrogância é bastante simples: “não vejo, logo não existe”. Obviamente, nosso cotidiano implacável já encarrega-se de preencher o nosso tempo com problemas suficientemente grandes ao ponto de ficarmos preocupados apenas com aquilo que possui relação direta com a nossa vida. Por isso, não é preciso ser muito inteligente para entender porque tal evento virou um segredo praticamente intocável em minha lembrança. Com exceção de talvez meia-dúzia de pessoas, ninguém mais tem a mínima idéia do ocorrido. E não é para menos.

Por que estou abrindo o jogo agora? Não sei... talvez uma incapacidade em lidar com o insólito em um mundo cada vez mais padronizado culturalmente pelo continuismo da tradição em suas mais variadas formas. Está na hora de quebrarmos alguns paradigmas...

Abs:

Marcio

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