quinta-feira, 23 de abril de 2009

Atentado à Razão

Hoje fui "agraciado" com um folheto de divulgação de uma igreja evangélica. Sabe aqueles folhetos que objetivam atrair novos seguidores na base do susto e/ou ameaça? Pois bem, eu já estava prestes a jogar o folheto fora quando o primeiro parágrafo chamou minha atenção:

"Confie no Senhor de todo o coração e não se apóie na sua própria inteligência. Lembre de Deus em tudo o que fizer, e ele lhe mostrará o caminho certo." - Provérbios 3.5-6

Ao ler essa passagem bíblica, a primeira coisa que me veio à cabeça foi escrever por aqui. Por quê? Porque ela sintetiza com muita maestria muitas coisas que odiamos em uma única frase: autoritarismo, fanatismo, manipulação, abuso de poder, menosprezo pela individualidade e aniquilação da razão. Como uma das propostas deste blog é questionar os paradigmas tradicionais, nada mais justo do que começar por um dos livros mais remexidos de toda a História: "A Bíblia".

Em outras palavras, a primeira frase diz: "Não pense com sua própria cabeça, oriente-se pelo que Deus (a Bíblia, por consequência) tem a dizer." E muitos dirão: "Ora, a Bíblia não deve ser interpretada ao pé da letra". E aí eu pergunto: se não, porque certas passagens são tomadas livremente como verdades literais (de acordo com o gosto do freguês) e outras são consideradas livremente como licenças poéticas? Quais os critérios utilizados para considerar uma ou outra possibilidade? E que raio de interpretação subjetiva uma frase como essa poderia ter? Será que não tendemos a defender com unhas e dentes um texto, mesmo que totalmente inaceitável, só pelo fato dele estar associado com os nossos mais arraigados conceitos de "sagrado"? Em que ponto estamos traindo a nossa própria razão? Até onde fomos programados a negar veementemente as evidências contra as coisas que consideramos como "intocáveis"? Até que ponto estaríamos realmente a fim de saber?

A Bíblia está cheia de absurdos como este. A partir de hoje, eu farei uma visita à certas passagens bíblicas com o intuito de, ao contrário do que prega a frase supracitada, incentivar muito o exercício da nossa inteligência.

Abs:
Marcio

7 comentários:

  1. É isso ae Cruz !!!
    Mete o dedo na ferida cara !!!
    Rsrsrsrs

    Abraxxx...
    Fio

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  2. Grande Escritor Marcio,

    Parabéns pela iniciativa de criar um blog e, compartilhar suas idéias.

    Quanto a Bíblia, eu sou um daqueles ignorantes que não conseguem acreditar que devemos seguí-la, sou o único da minha família, por exemplo, que não acredita em tal escritura sagrada e, tenho percebido que cada vez mais pessoas estão aderindo às igrejas evangélicas.

    Será interessante sua análise e, prováveis discussões a respeito das passagens bíblicas que pretende postar aqui.

    Abraço!

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  3. Grande Fiô! Valeu cara por passar por aqui. Grande escritor Wagner! Obrigado por virar meu seguidor. Fiquem à vontade para comentarem ou criticarem minhas postagens. Chamem mais pessoas se acharem que estas possam contribuir com as idéias aqui colocadas. Este blog também será feito por vcs!

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  4. não sigo uma religião, não tenho uma biblia na cabeceira e não criei meu filho na igreja... muito embora ele seja um Ser ótimo e especial.Sou mãe, então sou suspeita.
    quanto a Biblia, bem... ela e facas, em si são inertes, dependendo do uso que delas for feito...ambas as coisas foram inventadas ou criadas por "humanos", infimos e imperfeitos... acho a fé essencial, embora também ache isso em relação a liberdade. É preciso ser livre para crer, embora também, para questionar, sempre. Acho que se não resistir ou consentir na investigação séria e persistente, não vale a pena acreditar.
    Então salve a dúvida, a investigação e a fé.
    Gosto daquela música: "Andar com fé eu vou... que a fé não costuma falhar..."

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  5. Cruz, decidi dar mais tempero ao seu tópico com uma notícia "interessante" sobre a igreja. O papa, neste domingo, 26/04/2009, acaba de canonizar mais 5 santos. E um deles, o Sr. Nuno Álvares Pereira, comandou a morte de mais de 30.000 pessoas em guerra, mas sua canonização foi "aprovada" devido a, depois de morto, ter "curado" o olho de uma mulher... Achei muito engraçado. Mas o papa justifica com uma frase mais surreal ainda. Veja: "... em qualquer situação, mesmo uma de natureza militar e guerreira, é possível agir e viver dentro dos valores e princípios da vida cristã...". Rs... Essa foi uma das pérolas que nem eu esperava que a igreja fosse capaz de pronunciar. E então? O que achas? Rs... Bom, você pode ver essa notícia e seus detalhes no seguinte link: http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid360779,0.htm

    Abraço...

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  6. Olá Luci. Obrigado por opinar e permita-me utilizar seu comentário como forma de expansão do tema que, para mim, é muito fascinante. Concordo com você que a liberdade, aqui, seja a palavra-chave. Conforme você citou que é preciso ser livre para crer eu defendo aqui a liberdade de não crer, a qual eu explicarei logo abaixo.

    Embora façamos uso das mesmas palavras, estas possuem conotações diferentes que variam de pessoa para pessoa. É fácil notar esse fenômeno ao propormos um experimento de conceituação de palavras simples presentes em nosso cotidiano com um pequeno grupo de amigos. Ficaríamos surpresos com a variedade de conotações que uma única palavra teria ao perguntarmos para todos os envolvidos o seu significado mais básico.

    Poderíamos especular, por exemplo, a respeito do significado da palavra "fé". Ela pode ter várias conotações e normalmente é associada com o conceito de religião. Como você, acredito que a fé seja fundamental em nossa vida: fé no potencial da gente, fé na sociedade, fé no poder das artes, fé na humanidade, fé de que conseguiremos construir um futuro melhor, etc. O problema, no meu modo de entender, é a fé religiosa ou a fé nos dogmas. Quando depositamos nossa fé em um conjunto de regras absolutas e imutáveis, não há espaço para a reflexão, questionamento, reconhecimento dos erros, revisão e subsequente mudança. Nosso comprometimento com os dogmas faz com que sejamos responsáveis pela perpetuação dessas leis, passando a tradição para os nossos filhos, sem que haja qualquer ligação necessária entre tais dogmas e o conceito de verdade.

    Desta forma, o risco de sermos grandes defensores e disseminadores de inverdades é monstruosamente grande e, embora isso mexa profundamente com nosso lado emocional, precisamos parar para perguntar o quanto estamos contribuindo para deixar o nosso mundo exatamente igual pelo reforço dos paradigmas preexistentes ao nosso nascimento. Precisamos de alternativas para um mundo plano, igual, massificado e continuista.

    Vivemos em um mundo predominantemente religioso. Defendo a idéia de que existe uma minoria que vê o mundo de uma forma diferente. Que a voz dessas pessoas não seja calada pela unanimidade de idéias e que estas possam ter a total liberdade de simplesmente não crer.

    Abs:
    Marcio

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  7. Adorei! Realmente algumas coisas "inocentes" visam mais ao controle que à libertação...

    Beijos!

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