terça-feira, 5 de maio de 2009

Liberdade!?!?!

Em matéria da sessão "Vida e Religião" do site do Estadão, temos o seguinte parágrafo:

"Bento XVI também se referiu à liberdade conseguida por esses países nos últimos 20 anos, assinalando que a experiência da adquirida liberdade traz às vezes consigo "o risco de que os valores cristãos e humanos, tão arraigados na história e na cultura desses povos e de todo o continente europeu, possam ser suplantados por outros."

Indo direto ao ponto, de acordo com a maior autoridade do Cristianismo, a liberdade traz o risco de que os valores cristãos sejam substituídos por outros. É isso mesmo o que ele disse ou eu estou ficando louco? Ou seja, a liberdade é boa até certo ponto, desde que ela não permita que as pessoas escolham valores diferentes daqueles defendidos pelo Cristianismo. Foi exatamente isso que o Papa disse. Então, que raio de liberdade é essa? Desde de quando a liberdade é condicional? Desde quando existe liberdade se a mesma é considerada "um risco" quando alguém escolhe outra coisa que não seja aquilo que a Igreja prega? Isso é uma afirmação perigosíssima. Em pleno século XXI, ainda somos obrigados a ouvir coisas deste tipo, de alguém que deveria dar o exemplo de defensor da humildade, do humanismo, da diversidade de credos e, principalmente, da liberdade. Não é a primeira vez que Bento XVI "solta" asneiras como essa; um dos seguidores deste blog, o Roni, disponibilizou um link no post "Atentado à Razão" com declarações muito infelizes do Pontífice mas, desta vez, eu fiquei realmente indignado. Liberdade desde que seja condicionada aos preceitos religiosos? NÃO! É inaceitável pelas palavras oficiais do Cristianismo e pelas palavras de qualquer outra autoridade representando qualquer outra religião.

Lembro-me que fui educado em escola pública de um país laico. Hoje, o ensino religioso é comum nas escolas públicas espalhadas pelo país com a disseminação de toda sorte de equívocos, despreparo, inclinações, parcialidades, tendencionalismos, pressões, fanatismos e abuso de poder sobre nossas crianças. É um retrocesso sem tamanho e para quem quiser maiores detalhes sobre tais afirmações, vide a matéria "Jesus Vai A Escola" da revista Época, clicando nas 3 páginas com links abaixo do texto. Cadê a nossa liberdade? Somos ou não somos livres para escolher aquilo que bem entendemos? Colocar nossas crianças em plena fase de formação para receberem esse tipo de influência que, como a própria matéria demonstra, está longe de ser imparcial é um atentado à um direito que já tínhamos conquistado e agora sabe-se lá que tipo de consequência isso pode ter sobre nossa sociedade. Liberdade certamente não será...

Vejam também o post "Segunda Idade das Trevas" deste blog para começarmos a montar a imagem do que o futuro pode estar reservando para gente. Espero estar muito enganado...

Abs:
Marcio

2 comentários:

  1. Grande Márcio,

    Muito interessante a matéria da revista Época e, no meu caso concordo, a grosso modo, com o que diz o sociólogo Luiz Antônio Cunha: “Essa coisa de ensino religioso científico na escola não existe”. “Quem quer dar Antropologia da Religião, que o faça no ensino médio, com alunos que podem entender”. “Há modelos que dissimulam mais, outros menos. No fim, todos são doutrina”. E também estou de acordo com os defensores do ensino laico: “o debate de como incluir Deus nas aulas é um retrocesso ao século XIX”. Sei que, como alguém não religioso, minha opinião pode ser parcial e, entendo isso, porém estou apenas exercendo a minha liberdade de crer ou não crer garantida na Constituição.
    Quanto ao tal papa, que me desculpem os católicos que porventura passarem por aqui, é alguém que não reconheço autoridade nenhuma em nada, ou melhor, não reconheço nada que venha da igreja católica. Não vou perder tempo pesquisando mas, acredito que esse tipo de pensamento não é exclusividade da igreja católica, a fonte de contaminação é bem maior.
    Mais absurdo que a idéia desse papa, ao menos para mim, foi quando um tal deputado federal, acho que aqui de São Paulo, quis proibir a exibição do filme O Código Da Vinci nos cinemas brasileiros. O fulano alegava a inconstitucionalidade da exibição do filme pois, segundo ele, agredia a liberdade de crença e ainda, indo mais longe em sua justificativa, afirmava que a obra era uma afronta à fé cristã pois, colocava em xeque as histórias oficiais de Jesus e de toda a igreja católica. Além de ser pedante, mostrava sua ignorância no que diz a Constituição, que ele não deve ter lido, pois, com certeza lera um de maior “importância” a bíblia sagrada.
    E ainda, diga-se de passagem, e para finalizar, O Código Da Vinci, o livro ou o filme, tanto faz, apesar de um ser best seller e o outro um blockbuster, só devem ter abalado a fé de quem ainda não tem a certeza em que acredita. O livro é divertido, o filme nem tanto e, na minha opinião, não têm como levá-los a sério.

    Abs.

    ResponderExcluir
  2. Pois é Wagner. Quando se fala de religião, é absurdamente fácil confundir o conceito de "respeito" com "coorporativismo" e "censura". Foi o caso do tal deputado e assim é em relação à postura dos altos dignatários das instituções religiosas. Quando nos referimos às estruturas oficiais religiosas esse comportamento infeliz é até esperado mas, o mais asustador, é observar como um cidadão comum pode agir de igual maneira para defender aquilo que ele acredita com unhas e dentes. E isso, no meu modo de entender, está cada vez mais notório em nossa sociedade...

    ResponderExcluir