sábado, 17 de julho de 2010

Para Quem Acredita (parte 1)

No post anterior eu abordei a questão da mudança de cenário no que se refere à ciência oficial aceitar a possibilidade de não estarmos sós no universo, seja na condição de formas de vida bacteriana, formas mais complexas ou até mesmo civilizações extraterrestres. Todavia, existe um grande grupo de pessoas que não somente leva essa possibilidade facilmente em consideração há bastante tempo, como está convicto de que estamos sendo visitados por ETs, que é possível estabelecer contato com tais entidades, saber quais seriam seus objetivos e ainda cultivar um ar de superioridade pelo posicionamento "tão cético e primitivo" da ciência oficial em relação ao assunto. Se você se identifica com esse perfil, este post foi escrito especialmente para você.

Antes da “fenomenologia ufológica”, existe o que eu chamaria de “fenomenologia humana”, questão sobre a qual ninguém menciona nada, sendo a mesma fundamental no entendimento do universo ufológico. Dentro dos meios esotéricos bem como na ufologia assim chamada de “mísitica” (classificação, aliás, que eu acho estúpida), encontramos muitas informações que falam abertamente sobre frotas de naves extraterrestres (de acordo com os seguidores de Ashtar Sheran, suposto comandante extraterrestre, este seria responsável por uma frota de 15 milhões de naves!), inúmeros seres desta e de outras dimensões, constante monitoramento e profundo interesse por parte dos ETs pela raça humana. Além disso, “parcerias” entre o governo americano e os chamados “greys”, “parcerias” entre a Fraternidade Branca e os ETs de “dimensões mais elevadas”, “intraterrenos” e até “ultraterrestres” (o que seria isto afinal?) borbulham em livros, palestras, vivências e vigílias de grupos mistico-esotéricos. Existe uma farta literatura por aí especulando não somente sobre as origens mas também sobre as intenções e atividade de diversas civilizações, sejam elas físicas ou extrafísicas, todas elas com suas atenções voltadas para o planeta Terra. A Internet mesmo é um vasto meio de proliferação dessas idéias e explicações sobre o que seriam e quais seriam as intenções dessas entidades extraterrestres abundam sem controle algum. Se fosse possível catalogar todo material diponível sobre essas crenças, ficaríamos surpresos com a absurda quantidade de seres extraterrestres das mais variadas procedências e condições diferenciadas de existência que é apregoada por aí, sendo que, na somatória, todos teriam interesse nos rumos da raça humana e do planeta Terra.

Mas será que é isso mesmo? No post “Ufologia Dissecada” eu abordo um tema que questiona o seguinte: se toda a fenomenologia dita “ufológica” for levada em consideração, o planeta Terra só pode ser considerado o lugar mais interessante do universo. Seria a Terra, portanto, um lugar muito especial? Vamos ver...

Do ponto de vista do vídeo Pálido Ponto Azul, o qual faz parte do post de apresentação deste blog, a Terra não é nenhum lugar especial. Situados na periferia da Via Láctea contornando uma estrela que está muito longe de ser a maior da galáxia, somos um minúsculo grão de areia em uma praia descomunal. É comum na literatura esotérica o chamamento de atenção para o perigo da raça humana terminar em um grande conflito nuclear, e que a destruição da Terra, através de uma guerra com arsenal atômico, causaria danos às civilizações extraterrestres. Nisto residiria o fato de algumas civilizações extraterrestres estarem monitorando as atividades humanas, com o intuito de evitar uma eventual catástrofe. Este tipo de argumento, embora comum, não passa de um mito pois existem explosões de magnitude infinitamente maior em estrelas gigantes se comparadas com o nosso Sol (de 50 a 100 vezes o tamanho da nossa estrela!), as quais ocorrem o tempo todo no universo. Até onde sabemos, nenhuma delas está sequer perto de afetar minimamente o equilíbrio do universo. Portanto, a pergunta que parece óbvia é a seguinte: porque uma eventual explosão de um planetinha tão diminuto quanto a Terra poderia ter qualquer importância para uma civilização extraterrestre?

Ao assistir um vídeo sobre o documentário do Discovery Channel intitulado “Alien Planet”, eu observei o físico Michio Kaku abordar esta questão com muita lucidez e humildade. Segundo o físico, é possível que haja civilizações extraterrestres muito mais avançadas em nosso universo mas, para a tristeza de muitos humanos, seu interesse por nós seria muito questionável. Ele utilizou uma analogia para exemplificar nossas diferenças, representadas pela distância entre nós e as formigas, supondo que nós, terráqueos, fossemos as formigas e os ETs fossem os humanos. Em nosso hipotético exemplo, foi contruída uma rodovia ao lado de um formigueiro. Do ponto de vista da formiga, há qualquer consciência sobre a existência de uma rodovia, carros e, obviamente, seres humanos dentro desses carros? Existe qualquer interesse por parte da colônia de formigas em detectar seres humanos? Existiria tecnologia na colônia de formigas capaz de detectar a presença de seres humanos e depois estabelecer qualquer forma de contato com eles? E do ponto de vista humano: existe qualquer interesse nas formigas ao lado da rodovia? Estaríamos interessados nelas ou passaríamos por cima das mesmas sem nem perceber que elas estão em nosso caminho? Ou pior: justamente por percebê-las é que teríamos o desejo de eliminá-las?

Não quero ser estraga prazeres do exército de crédulos, insinuando que de toda a fenomenologia ufológica apresentada, nada se salva ao ponto de não sobrar nenhuma possibilidade de estarmos sendo visitados por alienígenas. Se nós já enviamos sondas espaciais e missões robóticas para outros planetas com uma certa frequência e sucesso, imagino que civilizações muito mais antigas possam fazer o mesmo com muito mais competência. Destas maneira, não posso descartar essa possibilidade. Todavia, há de se frisar que tal possibilidade deveria ser em uma proporção imensamente menor ao que é apregoado por aí pelos ufólogos, não importa a linha de interpretação (científicos ou místicos pela estúpida classificação). E com relação aos objetivos das poucas visitas que talvez pudessem ser consideradas, suponho que estas não deveriam ter necessariamente qualquer vínculo com os interesses dos seres humanos. Do ponto de vista alienígena, é possível que estivessem interessados em suas próprias pesquisas, as quais poderiam até envolver seres humanos, mas não pelos motivos que gostaríamos que fossem. Por mais duro que isso possa parecer, a verdade não tem necessariamente qualquer ligação com os nossos desejos, carências, aspirações e megalomanias enebriantes.

Se por um lado, há muitas coisas para além das quais nossa ciência ainda é incapaz de trazer respostas satisfatórias, por outro, existe uma imensa infinidade de crenças, sejam elas místicas, esotéricas, religiosas ou ufológicas que, justamente por serem apenas crenças, só desinformam e desorientam ao invés de trazer o tão almejado conhecimento para a gente. E tais crenças, infelizmente, ocupam a maior parte do material escrito e divulgado em livros, palestras, vídeos, encontros, vivências em grupo e outras manifestações populares. Desta maneira, creio que o nosso papel é o de sermos garimpeiros criteriosos, selecionando muito bem o que lemos, vemos e ouvimos de outros e trabalhando arduamente na "construção do nosso próprio conhecimento", sem deixar-nos influenciar pelo religioso V, pelo guru X, pelo movimento Y ou pelo ufólogo Z.

A comparação é sempre uma ferramente muito válida e, ao observar as pessoas à minha volta, pude notar o pouco conhecimento histórico que possuímos. Não se trata apenas de uma ignorância generalizada sobre História Antiga mas também uma falta de conhecimento sobre nossa história recente, fator ainda mais pertubador na minha opinião. Por exemplo: a Internet é parte integrante de nossas vidas, utilizamos a grande rede todos os dias e é impressionante o quanto que nós desconhemos sobre os inúmeros esforços, descobertas e conquistas em diferentes campos do conhecimento humano que tiveram que ocorrer para viabilizar o uso da Internet da forma como nós a conhecemos hoje. Nós apenas sentamos na frente do computador e utilizamos a grande rede, sem fazer idéia do quanto isso é revolucionário. Peguem qualquer artigo sobre a história da tecnologia e vocês terão uma idéia do que estou tentando transmitir. Em outras palavras, 50 anos de história já parecem ser coisa demais para nossas humildes cabecinhas, preocupadas que elas estão com os problemas diários e a sobrevivência quase sempre com muito sacrifício. Agora, imaginem uma civilização não com 100 ou 200 anos de desenvolvimento a nossa frente mas sim uns 100.000, 200.000 ou até mesmo 1 milhão de anos à nossa frente. Somos péssimos para lidar com números, então, cito os 6.000 anos de civilização humana só para pôr essa questão em uma perspectiva mais realista. Um milhão de anos seria absurdamente mais do que toda a história da civilização humana reunida, a qual a maioria de nós desconhece em maior ou menor grau. Qual seria então a história de uma civilização com 1 milhão de anos? Que processos, dificuldades e privações tiveram que enfrentar? Qual seria o real tamanho de suas conquistas civilizatórias? O que descobriram, inventaram e superaram ao longo de tanto tempo? Qual seria a visão de mundo e de vida desses seres? Qual seria o poder dessas civilizações? Se foram necessários 6.000 anos de civilização para chegarmos ao ponto de tentar descobrir se existem planetas como o nosso nas imediações da nossa galáxia (vide as informações sobre a Missão Kepler no post "Para Quem Não Acredita"), qual seria o tempo de existência e o poder correspondente de uma civilização capaz de deslocar-se por distâncias tão absurdas, as quais nós ainda nem vencemos com o alcance do olhar dos nossos mais avançados telescópios!?!?!

Uma especulação que eu gosto de fazer, baseado nas hipóteses sobre o tempo de existência das civilizações mais avançadas (novamente a escala Kardashev), e em conformidade com o nome deste blog, é tentar perceber as coisas sob o ponto de vista de uma hipotética civilização extraterrestre. Explico: se nós, terráqueos, tivéssemos a oportunidade de estudar um planeta distante com uma população de macacos alienígenas, de que forma agiríamos? Supondo que eu fosse algo parecido com um biólogo ou psicólogo behaviorista, talvez eu quisesse observar de perto o comportamento desses macacos sob 2 perspectivas diferentes: observando-os em suas condições naturais, sem qualquer tipo de intervenção, ou aplicando-lhes diferentes estímulos. E entendam estímulos aqui como um "contato" da nossa parte. Sim, imaginem um suposto contato alienígena como um estímulo e/ou intervenção, com o objetivo de efetuar alguma espécie de análise ou estudo. E apesar do argumento sempre presente de que "os ETs respeitam nosso livre-arbítrio" (idéia comum nos meios ufológicos), é preciso lembrar que intervimos sempre no reino animal com nossas próprias pesquisas, mesmo que estejamos apenas filmando um macaco à distância no meio da selva para produzir um documentário. Do ponto de vista do macaco, poderíamos parecer "alienígenas" com uma avançada tecnologia de monitoramento.

E já posso ouvir aquele velho argumento dentro da minha mente por parte dos crédulos: "mas será que eles não fizeram pesquisas o suficiente neste planeta com a gente? Não posso aceitar tal hipótese." Quanto a isso, eu diria o seguinte: em primeiro lugar, não temos moral para ser contra supostas pesquisas alienígenas, uma vez que nós mesmos fazemos isso o tempo todo, seja com seres humanos ou com animais. Em segundo lugar, partindo do pressuposto de que somos visitados por entidades alienígenas, não temos condições de saber se foram feitas muitas pesquisas ou não (não temos acesso ao banco de dados alienígena para saber há quanto tempo isso estaria sendo feito). Em terceiro lugar, existe uma premissa muito errada de que o conhecimento é finito e, a partir de certo momento, qualquer estudo ou análise deixam de ser necessários porque partimos do princípio que "já aprendemos tudo sobre determinado assunto". Falácia inocente da nossa mente. Se assim o fosse, estaríamos plenamente satisfeitos com as explicações sobre nossa origem e vida que são encontradas às pencas na Bíblia. Além disso, nossa tecnologia se desenvolve exponencialmente a cada dia, revelando-nos aspectos da vida que até então eram completamente desconsiderados. Portanto, voltemos à experiência com os macacos alienígenas.

Se a hipótese de que estamos sendo visitados for correta, não seria nem um pouco insensato pensar que pareceríamos fósseis vivos para tais civilizações. Lembrem-se do exemplo das formigas e vocês entenderão onde quero chegar com isso. Utilizando mais uma vez a comparação, não seríamos mais do que macacos superdesenvolvidos para tais seres, com comportamento agressivo, temperamento altamente emotivo, limitação mental, baixa expectativa de vida, desorganizados socialmente, predominantemente supersticiosos e com um estilo de vida inegavelmente suicida. Como no exemplo das formigas, o distanciamento entre nós e eles seria tão incomensuravelmente grande que inviabilizaria qualquer conversa ou outra forma de comunicação. Não acredito que a comunicação em si seria o problema e sim a ausência de referências, de padrões de comparação viáveis ao nosso entendimento. Ou se por um acaso eles tomassem a iniciativa de um contato, com um suposto "conhecimento do nosso nível de entendimento", nossa capacidade de distorção, devido às nossas limitações, estragaria qualquer tipo de diálogo.

Isso trás à tona uma outra questão muito polêmica para os crédulos: a crença de que algumas pessoas estariam recebendo mensagens dos extraterrestres por vias telepáticas. Em conformidade com o parágrafo anterior, fica muito difícil aceitar o conteúdo dessas supostas mensagens, as quais parecem proliferar como uma doença nos meios místico-esotéricos. Mensagens com conteúdo previsível, visivelmente influenciadas pelo contexto humano e com uma forte carga de influência messiânica-religiosa. Como poderia, por exemplo, uma civilização extraterrestre sabe-se lá quanto tempo mais avançada que a nossa entrar em contato conosco para endossar nossas crenças, reforçar nossas superstições, ressaltar nosso ego e causar ainda mais ignorância ao "dizerem que devemos seguir nossos mestres terráqueos"? Se seguir tais ensinamentos fosse a resposta para nossos problemas, há muito nosso planeta teria se transfomado em um lugar melhor para se viver. Levando-se em conta o distanciamento ressaltado pela analogia da formiga, fica extremamente óbvio que as pessoas estão, mesmo incoscientemente, criando essas mensagens dentro das suas próprias cabeças do início ao fim. Não há, na esmagadora maioria dos casos, qualquer evidência de um eventual contato alienígena, por mais que as pessoas estejam afetadas emocionalmente pela "experiência". Mesmo se houvesse uma possibilidade de contato real por vias telepáticas, a mensagem resultante teria enormes chances de ser distorcida pela nossa mente, comprometendo seriamente o conteúdo original.

Desta maneira, termino este post da mesma forma que terminei o post "Para Quem Não Acredita". Longe de querer encerrar a questão abordada, ficará a critério do leitor chegar às suas próprias conclusões, as quais serão inevitavelmente temporárias. Explorando o outro lado da balança, do ponto de vista de quem acredita nos discos voadores, deixo aqui o meu profundo alerta sobre um assunto que há muito virou um dogma de fé. Na verdade, este post terá uma sequência onde tratarei melhor deste ponto, ficando aqui apenas uma reflexão: apesar do aparente pessimismo em relação a espécie humana, eu acredito sim em um futuro melhor. Mas acredito que o mesmo só será realizável, quando a gente descer do nosso enorme pedestal e encarar humildemente a nossa condição de completa ignorância.

Abs,

Marcio

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