sábado, 24 de julho de 2010

Para Quem Acredita (parte 2)

Setembro de 1993. Vindo de uma adolescência de muita insatisfação e revolta, além de carregar um passado de forte influência místico-esotérica, chegava em minhas mãos um livro que viria representar um marco na minha vida. Em um período de apenas 1 semana, eu devorei o então recém-publicado “Os Semeadores de Vida”, obra de 413 páginas escrita pelo peruano Carlos Roberto Paz Wells. O livro narrava uma história completamente insana mas ao mesmo tempo fascinante de um grupo de jovens no Peru em 1974, os quais teriam tido contatos físicos e constantes com uma civilização alienígena. Os relatos de contato extraterrestre rodaram o mundo e atraíram jornalistas, um dos quais foi o hoje famoso escritor espanhol Juan José Benítez (Operação Cavalo de Tróia), o qual pouco tempo mais tarde seria protagonista de um encontro programado com os ETs por meio da intervenção desse mesmo grupo de jovens. Sua história foi relatada em uma extensa reportagem do jornal “La Gaceta del Norte” de Bilbao, Espanha, com o título “Não Estamos Sós”. A partir das experiências relatadas em meados da década de 1970, surigiu a Missão Rama, linha de trabalho que objetivava, dentre outras coisas, estender a oportunidade de contato à outras pessoas interessadas. No Brasil, o trabalho chegara pelas mãos de Carlos Roberto Paz Wells em 1977, um dos jovens peruanos que havia participado de toda a experiência e iniciara uma linha de trabalho mais complexa e audaciosa em nosso país.

O livro causou um profundo impacto em minha pesonalidade. E não era para menos. Ainda jovem, inocente e influenciado que eu era por uma forte bagagem místico-esotérica, é lógico que acreditei em toda aquela história como uma possibilidade real, ainda que achasse tudo aquilo muito louco. Todavia, há de se ressaltar que era a primeira vez que eu entrava em contato com um ponto de vista bem diferenciado de outros estudiosos que eu lera. Ele se aventurava a escrever não apenas sobre ufologia, mas também sobre uma abrangente gama de assuntos envolvendo o comportamento humano. Meu interesse inicial pelo livro foi logo recompensado pela oportunidade de assistir algumas palestras ministradas pelo próprio autor e fiquei bastante perplexo com o nível de inteligência, conhecimento e sensatez com que o peruano abordava questões tão abrangentes e polêmicas, algo muito diferente de tudo aquilo que até então eu tivera contato. Não se tratava de um religioso, um hippie, um místico, um guru ou um lunático e sim uma pessoa normal, na época diretor de marketing da Philco, com uma reputação séria a ser defendida e ao mesmo tempo uma coerência e profundidade incomuns, características que me deixaram bastante intrigado. Envolto pela atmosfera do livro e pela figura do Carlos que transmitia muita inteligência, seriedade e sensatez, mostei-me interessado em participar do trabalho, interesse que resultou em uma oportunidade real de integrar-me à Missão Rama do Brasil 2 meses depois. Mal sabia que a minha ingressão no grupo proporcionaria, 12 meses mais tarde, as condições para um encontro com um evento muito insólito em minha vida.

Novembro de 1994. Durante um feriado prolongado, eu estava presente em um acampamento selvagem da Missão Rama do Brasil no perímetro externo do Parque Nacional de Itatiaia, o qual ocupa parte da Serra da Mantiqueira no Estado do Rio de Janeiro. Estávamos afastados da civilização, instalados em um pequeno vale conhecido por Brejo da Lapa, situado a 2.100m de altitude. O lugar era maravilhosamente belo: cercado por montanhas, havia um lago rodeado em parte por um brejo, em parte por terra firme com vegetação rasteira e uma estrada de terra acidentada e de pouquíssimo movimento em um nível mais acima, a qual ligava de um lado o longo trajeto até o asfalto e do outro o caminho até o Parque Nacional de Itatiaia, onde fica o magnífico Pico das Agulhas Negras. Era noite e, naquela época, a região bucólica ainda era um refúgio atraente para a prática de acampamentos selvagens, antes do IBAMA proibir tal atividade na área por causa de visitantes inconsequentes que começaram a degradar o local. Éramos um grupo aproximado de vinte pessoas, sentados em forma de meia-lua perto do lago. A grande maioria das pessoas estava sentada de costas para a estrada, ouvindo nossa amiga Angélica, no centro da meia-lua, comentar sobre certas práticas orientais de respiração e relaxamento. Eu estava na outra extremidade da fileira de pessoas, as poucas que podiam contemplar parte da estrada de terra, junto com a minha namorada na época, Márcia, uma amiga chamada Regina e mais um rapaz cujo nome infelizmente eu não lembro.

Estávamos ouvindo a Angélica falar quando algo estranho chamou a minha atenção próximo a um trailer de um amigo nosso, parado na beira da estrada. Eu calculo que estávamos há mais ou menos uns 40 metros do trailer, quando uma luz branca muito tênue mas visível o suficiente para chamar a minha atenção começou a aparecer. Era incrível… Por detrás do trailer surgiu uma figura humanóide irradiando luz do próprio corpo que começou a caminhar pela estrada. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Tentei localizar qualquer foco de luz que pudesse denunciar uma brincadeira por parte de alguém munido de um “projetor” mas não vi absolutamente nada. Não havia ninguém na estrada além daquela estranha figura. O que era aquilo? A despeito da perplexidade da visão, tive uma inesperada reação de ficar simplesmente quieto. Tinha a sensação, não sei por que, de que poderia perder o espetáculo caso fizesse qualquer estardalhaço. Só tive um impulso de cutucar a Márcia e perguntar em voz baixa se ela estava vendo a mesma coisa que eu, sendo também uma forma de conferir se eu não estava ficando louco. Para meu alívio, ela confirmou que estava vendo tudo também. Permanecemos quietos, atentos e de olhos bem abertos. Tratava-se da silhueta de uma figura humana esguia em forma de luz branca, concentrada, dando para perceber nitidamente a cabeça, o tronco, braços e pernas. Não era possível perceber detalhes tais como fisionomia, roupa, etc. Era como se a criatura fosse um holograma em movimento que emanava luz do próprio corpo, sem qualquer foco de luz visível para fora dos contornos de seus membros (algo parecido com a imagem deste post). Uma luz tênue contida nos perímetros de um formato humanóide, andando pela estrada de terra, sendo visivelmente mais alto que um ser humano comum (depois de terminada a estranha manifestação, calculamos que “a coisa” deveria ter uns 2,5 metros de altura aproximadamente, tendo como referência de comparação a altura do trailer).

Alguns segundos depois de efetuar sua caminhada, a criatura ou seja lá o que fosse parou e voltou-se para a nossa direção, como se soubesse que estávamos vigiando seus passos. Senti um arrepio correr pela espinha mas fiquei estranhamente calmo logo em seguida. Fiquei muito contente por estar observando algo tão diferente mas era um contentamento sereno, contido. Tive uma inesperada sensação de tranquilidade e a criatura começou a caminhar novamente. Um pouco mais para a frente, a luz começou a desvanecer-se, perdendo a sua nitidez original, como se fosse um canal de TV fora do ar e cheio de “chuviscos”, até desaparecer por completo diante dos nossos olhos atônitos. Chequei com a Márcia, com a Regina e com o rapaz ao meu lado após o final da explanação da Angélica e eles confirmaram tudo aquilo que eu tinha acabado de ver. Fiquei muito feliz mas ao mesmo tempo perplexo. Havíamos visto algo totalmente fora dos padrões de qualquer explicação natural, fora dos paradigmas socialmente ou cientificamente aceitos e ninguém acreditaria em nossa estória. Em tempo: estávamos alimentados, não havíamos tomado bebida alcoólica, nunca fomos usuários de drogas, sempre enxergamos muito bem e não estávamos com a expectativa de ver absolutamente nada, último detalhe que inviabilizaria uma suspeita de autosugestão. E embora estivesse certo sobre a natureza incomum do que acabara de observar, percebi que, se estivéssemos dispostos a dividir tal experiência com outras pessoas, deveríamos estar preparados para a inevitável ridicularização do nosso testemunho.

Ciente sobre a ridicularizão ou desdém que um relato sobre o ocorrido poderia causar na esmagadora maioria das pessoas, eu decidi diminuir a margem de erro. Eu queria livrar-me de qualquer possibilidade de engano ou mal-entendido. Foi quando pedi para a Márcia, a Regina e o rapaz ao meu lado permanecerem ali, no local da observação, pois eu gostaria de dirigir-me até a estrada para ver de perto por onde tal forma luminosa acabara de passar. O intuito era fazer o mesmo trajeto do humanóide para saber se não poderíamos ter confundido tal manifestação com algum fenômeno conhecido, tal qual a possibilidade de alguém estar andando por lá com uma lanterna acesa, por exemplo. Eu sabia que era plenamente capaz de diferenciar o estranho fenômeno de uma pessoa andando por ali com uma lanterna, afinal, já tinha visto pessoas passando por ali várias vezes durante a noite. Mas mesmo assim, insisti por pura precaução. Fiz o percurso várias vezes, hora munido de lanterna acesa, hora apagada; com a lanterna acesa dentro do meu casaco e fora dele; andando depressa e andando devagar… Enfim, esgotei todas as formas pelas quais alguém andando por ali pudesse causar algum “efeito visual” fora do normal. Voltei depois para o encontro da Márcia, da Regina e do rapaz e pedi para que me relatassem o que tinham visto. Os três comentaram que em nenhum momento eu sequer havia me aproximado daquilo que havíamos presenciado em conjunto. Para começar, a Márcia disse que eu aparentava ter quase a metade da estatura da coisa em formato de luz. E as peripécias com a lanterna e o casaco tampouco chegaram perto do efeito extraordinário que havíamos visto anteriormente. Senti um grande alívio novamente, afinal, havia confirmado a minha impressão inicial. Por mais que a maioria das pessoas ali presentes não tivesse visto o humanóide luminoso, por uma simples condição de posicionamento físico perante tal acontecimento, estávamos certos de que tínhamos confrontado nossas observações e de que não podíamos negar o que vimos. No dia seguinte ficamos sabendo que um pequeno grupo de pessoas acampadas em uma barraca morro acima, um pouco mais distantes do que nós, havia notado o estranho fenômeno também. Era mais uma confirmação de que não havíamos sido presas fáceis de um engôdo ou de um mal-entendido da nossa mente. Tínhamos apenas sido testemunhas oculares de uma realidade fantástica.

Carrego as lembranças deste evento por onde quer que eu vá. As vezes minha realidade cotidiana choca-se de frente com as lembranças dessa noite tão estranha e procura-se impor impiedosamente, tentando convencer-me de que não vimos o que vimos ou de que tudo não passou de um mero sonho. Se eu não tivesse eliminado certos detalhes passíveis de questionamento logo após o ocorrido talvez hoje fosse um pouco mais fácil convencer-me de que fora um terrível engano. Mas a realidade dos fatos não permite negar o que vimos, embora não saibamos o significado do que vimos.

E é assim que interpretações para “eventos fora do padrão” variam na mesma proporção que variam nossos inúmeros paradigmas, dando conotações místicas, esotéricas, espiritualistas, religiosas ou até mesmo “científicas” para fenômenos que não se encaixam em explicações convencionais. Ou seja, na pressa de achar uma resposta, construimos explicações prematuras baseadas em nossas próprias experiências, crenças e inclinações. Todavia, mesmo levando em conta as armadilhas da mecânica dos paradigmas, tive a impressão de que a aparição insólita tratou-se do subproduto de uma avançada tecnologia holográfica. E antes que os céticos se manifestem a respeito (eu mesmo me considero um deles), eu sei perfeitamente que o ambiente no qual eu estava inserido favorecia enormemente tal associação. Mas vale lembrar que, no momento da aparição, tanto eu quanto as outras pessoas não estavam esperando ver absolutamente nada, sendo também pertinente salientar que a criação de expectativas em relação a eventuais fenômenos estranhos sempre foi muito combatida na Missão Rama do Brasil. Em resumo, o evento pegou a gente de surpresa.

Outra questão importante a ser ressaltada é a de que, somente hoje, 15 anos depois do ocorrido, as primeiras experiências com hologramas nos moldes de "Star Wars" estão sendo efetuadas com sofisticados aparatos tecnológicos, elementos que não exisitiam na época, muito menos ainda em uma estrada de terra sem iluminação no meio do mato e a qual foi checada por mim na sequência do evento com o intuito de encontrar qualquer forma de embuste (e não encontrei absolutamente nada!). Então, de que raio de tecnologia eu estaria falando? A questão desconcertante perturbou-me durante 15 anos e somente hoje vem ter um espaço neste blog, ambiente cuja proposta básica é a consideração da famosa pergunta inglesa “what if?”, como forma de darmos asas ao questionamento criterioso. Ou seja, e se considerarmos, mesmo como sendo uma hipótese altamente improvável, a possibilidade de que o evento insólito descrito anteriormente tenha sido o subproduto de uma tecnologia extraterrestre?

Já posso sentir o sorriso de desdém daqueles que lêm este post ao imaginarem automaticamente que sou mais um lunático neste mundo de gurus e charlatões falando sobre ETs. Mas peço somente um pouco da sua atenção para considerarem a interpretação do que eu vi como uma possibilidade e não a afirmação categórica de que tive um “contato”. Primeiramente, porque embora eu tenha absoluta certeza do que vi, não tenho certeza daquilo que estaria por trás do evento e talvez nunca venha a saber as reais causas daquilo que meus olhos testemunharam. Em segundo lugar, especular sobre a possibilidade de haver vida ou até mesmo a talvez rara vida inteligente além dos limites da Terra abre caminho para a uma boa reflexão sobre como a vida teria se originado em nosso próprio planeta. E não seria somente a segunda consideração um benefício muito válido para não descartarmos prematuramente a hipótese extraterrestre? Levando em conta tudo aquilo que eu escrevi nos posts “Para Quem Não Acredita” e “Para Quem Acredita (parte 1)” (aconselho a paciente leitura de ambos pois são posts interrelacionados), façamos um esforço para além do condicionamento de rejeição automática da idéia. 

É natural o posicionamento cético perante declarações ou especulações tão fantásticas como esta. Eu mesmo me questiono o tempo todo a respeito do que vi mas, o que eu gostaria de salientar, é o contraponto representado pela mecânica dos paradigmas em nosso comportamento diário de distanciamento e indiferença perante as coisas que não vemos, não sentimos ou não percebemos. Se certas pessoas vivem situações perante as quais a ciência ou religião oficial não conseguem dar nenhuma explicação satisfatória, ou se eventos “oficialmente aceitos” ocorrem do outro lado do planeta, isso não parece ser algo real para nossa vidinha particular. Como na história de São Tomé, só acreditamos naquilo que podemos tocar, colocando-nos arrogantemente como referência para aquilo que acontece ou deixa de acontecer no universo. Como pode algo assim existir ou ocorrer sendo que eu nunca fiquei sabendo ou fui avisado? E com a licenca de René Descartes, a equação para a nossa arrogância é bastante simples: “não vejo, logo não existe”. 

A despeito de toda a controvérsia que eu sei que o assunto fomenta, envolvendo de um lado as ridicularizações mais infantis e de outro as reações emocionais mais fanáticas, típicas do universo esotérico/ufológico, não podemos negar que o tema, quando explorado de forma equilibrada, pode ajudar-nos a ter uma visão mais questionadora a respeito de nós mesmos. 

E termino por aqui com uma notícia que li no site Foxnews.com, a qual diz que os cientistas da Missão Kepler declararam no dia de hoje que resultados preliminares da missão indicam uma contagem inicial de um pouco mais de 700 novos planetas extrasolares. Embora ainda sejam dados que requerem confirmação, os cientistas estão empolgados com os resultados, os quais indicam que dos 700 planetas descobertos, 140 constituem planetas rochosos com características similares às da Terra. Isso sugere que planetas como o nosso são muito mais comuns do que se imaginava, ressaltando ainda mais a mudança de paradigma na comunidade científica no que se refere a aceitação da possibilidade de não estarmos sós no universo (vide o post "Para Quem Não Acredita" para maiores detalhes). 

Abs,
Marcio

2 comentários:

  1. Marcio, muito legal essa postagem . Devemos ser mesmo muito egoístas em pensar que nesse universozão só nós somos os bacanas com vida inteligente ( aliás , meio inteligente). Você conhece o Marcelo Gleiser? Eu estou lendo um livro dele , se chama Criação Imperfeita, muito legal, mas bastante complicado....Fala da criação do universo, contraria a versão do big bang até agora apresentada pelos cientistas e da existência de um ser superior. É bem legal. Se você quiser, eu te mando qdo acabar ( vai demorar um pouco, pois eu tenho que voltar várias vezes rsrs). Bom, dá uma olhadinha no meu blog, bem diferente do seu, voltado para meus problemas existenciais e o cacete desse país que parece que não tem jeito....
    bjs

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  2. Claro Ligia. Conheço o Marcelo Gleiser sim e tem até um blog na Minha Lista de Blogs com uma coletânia de artigos dele. Provavelmente você não reparou. O cara é muito foda mesmo. Para vc ter uma idéia, em uma entrevista para o programa de rádio americano "Are We Alone?", do SETI Institute, o apresentador, que também é um astrônomo renomado e muitíssimo inteligente, ficou empolgado com a desenvoltura do Marcelo Gleiser, na ocasião, falando sobre seu livro "O Fim da Terra e do Céu".

    Parabéns pela iciativa do seu blog. Já virei até seguidor...

    Bjs,
    Marcio

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