terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Somos Uns Animais

Falando sobre semelhança genética, qual é o maior grau de parentesco: entre um chimpanzé e um ser humano ou entre um rato e um camundongo? Resposta provável: é óbvio que é entre o rato e o camundongo, certo? Não! Errado!

Ouvi essa surpreendente afirmação no programa de rádio do SETI Institute, Are We Alone?, mais precisamente no especial “What Makes Us Human Part II: Adaptability”. No referido programa, uma professora da Universidade da Califórnia, Katherine S. Pollard, especialista em métodos computacionais e estatísticas para a análise de dados genéticos massivos comentou sobre as imensas similaridades entre nós e os primatas superiores: nós compartilhamos mais genes com os macacos do que os ratos compartilham com os camundongos. Eu já tinha ouvido falar em 97, 98 e até 99% de compartilhamento entre nós e os nossos primos primatas mas, de qualquer maneira, achei a afirmação acima muito mais intuitiva. Isso é um soco muito bem dado na nossa cara cheia de prepotência, em nossa face encharcada com o sangue podre da soberba e da arrogância.

No blog Pensamento em Extinção, o Roni escreveu um post intitulado “Os Donos da Praia”, no qual é falado sobre nossa pretensa superioridade em relação aos outros animais. O texto ironiza ao salientar que não queremos cães nas praias por causa da sujeira que eles fazem sendo que nós, por outro lado, sujamos muito mais as mesmas praias com urina, fezes e toda sorte de lixo orgânico e inorgânico (incluindo a lixarada oferecida à Iemanjá). Hipocrisia inaceitável se pararmos ainda para pensar que todos os animais estavam aqui na Terra muito antes da gente e somos nós os invasores desse ambiente. Expressões cotidianas do tipo “esses animais” ou “isso não se faz nem com um animal” (como se, com um animal, qualquer barbaridade fosse permissível) dão o tom de opulenta superioridade em nossa cultura, eternizando um equívoco milenar que acabará levando-nos ao encontro da nossa própria extinção, uma vez que é mais do que sabido que precisamos das outras espécies animais e vegetais para sobreviver.

Parte dessa falsa noção de superioridade no mundo ocidental existe por culpa do Cristianismo. No post “Crescei e Multiplicaivo-vos”, destaco o absurdo contido no capítulo 1, versículo 28 do Gênesis Bíblico, o qual menciona: Enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. Em outras palavras, a passagem diz “atue sobre o mundo de uma forma predatória”, oficializando a conveniente existência dos animais com o propósito de servir ao homem. Em outros momentos do Velho Testamento, é comum a descrição de sacrifícios com animais (rituais abomináveis presentes também no Judaísmo, Islamismo e cultos de origem africana) em nome de Yaveh, o Deus sedento por sangue. E já no Novo Testamento, é interessante observar que a vinda de Jesus está vinculada ao salvamento dos homens. Em nenhum momento é dito que Jesus veio ao mundo para salvar os golfinhos, as girafas, os leões ou os chimpanzés. Ou seja, que se danem os bichos!

É inaceitável, ainda mais no mundo muito bem informado de hoje em dia, assistir passivamente a exploração dos animais sob as mais diferentes formas, como por exemplo, em circos e outras apresentações para nosso ordinário entreterimento. Em um outro episódio do Are We Alone?, Charles Siebert, autor do livro The Wauchula Woods Accord: Toward a New Understanding of Animals, fala sobre sua experiência com os primatas superiores, especialmente os chimpanzés que outrora trabalharam em circos ou programas de televisão. Suas pesquisas mostraram que existe um híbrido entre humanos e chimpanzés, o que ele chamou de “humanzee” (“humanzé” em minha livre tradução), consistindo nos primatas que foram retirados ainda bebês de suas mães para conviverem com humanos ao longo de toda sua vida. Tais primatas culminam em uma irreversível condição na qual não podem ser mais reintegrados ao meio ambiente de origem, pois cresceram e foram acostumados a viver em um ambiente humano que não tem nada mais a ver com a selva da onde foram retirados. Assim, aqueles que conseguem sobreviver aos mal-tratos acabam em retiros ou refúgios patrocinados por ONGs, para terminarem sua vida de servidão ao homem da forma mais digna possível.

O consolidado senso de superioridade em relação aos animais é ainda maior e muito mais revoltante se considerarmos os vídeos na Internet revelando a retirada de pele de animais ainda vivos como cães e gatos na China, ou as condições bárbaras nas quais são mantidos cães na Coréia do Sul antes de serem abatidos pelos restaurantes para servirem de iguaria. Não tenho estômago nem frieza para ver tais vídeos mas, com o objetivo de informar e compartilhar minha completa indignação, seguem 3 links: Stop LIVE animal skinning in China, Animal Saviors e Stop Killing Dogs. Sei que existem muito mais coisas na Internet a respeito do assunto mas não consigo suportar muito tempo neste nível paradoxal de crueldade...

Em resumo, precisamos de um mundo muito mais inteligente. Em um momento em que se fala tanto em sustentabilidade, devemos parar para refletir em profundidade sobre o quanto estamos atrelados às outras espécies (desde as “mais bonitinhas” até as “mais nojentas”), seja por conta da interconexão entre os elementos do mundo natural, seja pelo inegável parentesco genético ou pela enorme potencialidade de benefícios em pesquisas científicas diversas. Tudo o que fazemos, desde as mais simples formas de comportamento até os nossos mais sofisticados hábitos de compra afetam o meio ambiente pelo simples fato de que somos muitos e o nosso planeta já não dá conta de manter esses animais que “deram tão certo” às custas das outras espécies viventes.

Mas o que importa nessa estória toda é que eu estarei com minha vida sã e salva por Jesus quando falecer, não é mesmo?

Abs,

Marcio

2 comentários:

  1. Marcio, sinceramente não tenho muito o que dizer em seu post, pois você já falou tudo.
    Vi todos vídeos e achei um absurdo, fiquei horrorisada.Tenho muita pena desses pobres bichinhos que não tem culpa, a realidade é uma só: O HOMEM É A PIOR RAÇA QUE EXISTE !Não imaginava que era tão cruel o que eles fazem com os cachorros.....que terror!!!!

    Erica

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  2. Então foi você que leu meu post? Não tenho palavras para agradecer. Rs...

    Sabemos que essa barbaridade denunciada por você é apenas a ponta do iceberg no que se refere à nossa interação com as demais espécies. Se tivéssemos condições de saber tudo o que fazemos com eles acho que enlouqueceríamos com o que veríamos.

    O fato é que temos certeza que não somos animais. Temos certeza que o termo "animal" é algo diminutivo. Temos certeza que a palavra "animal" serve para rotular tudo o que não é humano, ou seja, não é divino e, consequentemente, não tem qualquer valor. Enfim, animais ou não, somos a única espécie doente e doentia do planeta.

    Não acredito em justiça ou castigo divinos mas, por uma simples questão de causa e efeito, nossas pseudo-certezas a respeito do que pensamos ser vão nos causar muito, mas muito sofrimento mesmo.

    Agora, quanto à sua morte e salvação, não pense que é tão fácil assim. Não vá se animando não. Jesus não irá salvar você só porque morreu. Não tem lugar pra todos na nova Jerusalém. Depois que morrer, você terá que aguardar até que chegue o dia da ressureição dos mortos. E depois que ressuscitar terá que aguardar seu julgamento. E, como você não tem religião e pelo jeito que mete o pau no cristianismo, esquece. Você já era...

    Abraço.

    Roni

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