Eu estava assistindo ontem o documentário "O Universo" do History Channel, episódio cujo tema era "Universos Paralelos". Já li alguns livros e artigos científicos que falam a respeito disso e confesso que o meu nível de entendimento vai até certo ponto, para além do qual, fico travado mentalmente. Bom, ontem não foi diferente mas ainda assim considero o assunto um tema muito fascinante.
A fronteira dianteira da física e cosmologia modernas especula a respeito dos universos paralelos e trabalha para encontrar uma forma de provar a existência desses "outros níveis de realidade". Teoria das cordas, teoria das membranas, multiversos, teoria quântica, princípio da incerteza, buracos negros, buracos de minhoca... São todos palavrões para nós, leigos em ciência, expressões cuja palavra "teoria" nos passa a falsa idéia de um conceito "capenga", um pensamento "mal-formado", "inexato", "impreciso" e que não merece muito crédito. Todavia, tratam-se de idéias muito bem fundamentadas em matemática, física e experimentação tecnológica de alto nível que não possuem nenhum aspecto de "chute", "crença" ou "idéia amadora".
E um dos temas abordados ficou martelando na minha cabeça até que hoje, na hora do almoço, tive um "flash", uma "revelação" (rs... até parece) de que TUDO É BOLHA. Calma... vou tentar explicar.
Uma das teorias abordadas dá conta de que a totalidade de tudo o que existe seria constituida por um paradoxal conjunto de universos, borbulhando em uma "sopa de bolhas de sabão", semelhante à espuma na superfície da água em uma banheira. Vários universos sendo criados e destruídos em uma sopa de bolhas, cada qual encerrando dentro de sua própria membrana de sabão um universo à parte. Nosso universo seria uma entre as inúmeras bolhas dessa espuma, sendo cada uma das outras bolhas universos paralelos ao nosso. Eu já tinha lido alguns artigos a respeito mas depois do documentário de ontem eu fiquei pensando se, muito antes de chegarmos a comprovar a existência de tais universos paralelos, nós já não temos aqui, em nossa própria dimensão, universos paralelos em um sentido um pouquinho diferente. Então, vamos lá...
No post anterior, intitulado "Evangelização", falo um pouco sobre a dinâmica dos paradigmas, como os mesmos podem funcionar como "bolhas", mantendo as pessoas dentro de uma forma de pensar, para fora da qual, dependendo das circunstâncias, existem poucas chances dessas pessoas terem acesso. E é nesse aspecto que eu quero fazer um "paralelo", com os "universos paralelos" (desculpem-me mas o trocadilho foi inevitável). As bolhas, na minha linha de raciocínio, serão a partir de agora sinônimo de paradigmas.
Se pararmos para pensar, todos nós estamos inseridos em um conjunto infinito de bolhas. Ao nascermos nesse mundo, estamos presos à nossa "bolha da individualidade", de uma forma que cada pessoa vê, sente e interpreta o mundo a sua volta de uma forma particular. Depois, quando começamos a crescer, participamos da primeira "bolha grupal" representada pela nossa família. Mais adiante, entramos na escola, a qual representa uma "bolha maior", coletiva. E depois, os grupos de amigos, os times de futebol, as religiões, os ambientes de trabalho, etc. Um país ou uma cultura também poderiam ser considerados como "bolhas sociais" e a própria Terra poderia ser encarada como a "bolha master", dentro da qual todos nós estamos inseridos. Abrangendo ainda a filosofia-tema deste blog, sabe-se lá quantas "outras bolhas" estariam espalhadas para além dos limites do nosso planeta, sendo representadas por criaturas inteligentes à milhares ou talvez milhões de anos à nossa frente... Logo, vemos que todos os agrupamentos de pessoas seriam nada mais do que bolhas de diferentes tamanhos, representando paradigmas de infinitas características. E aqui um detalhe interessante: as bolhas maiores contém as bolhas menores mas não o contrário. Ou seja, existem paradigmas maiores, dentro dos quais, outros paradigmas circulam mas esses paradigmas menores não têm acesso aos maiores... Ou será que seria possível sair de uma bolha menor para ter acesso à outras bolhas? Respondo já...
Continuando na analogia das bolhas com paradigmas, o que definiria os limites dessas bolhas, ou seja, as membranas de sabão? É a SATISFAÇÃO. A satisfação nos mantêm presos dentro dessas bolhas e nos fornecem os elementos determinantes de nossas CERTEZAS ABSOLUTAS. Quanto mais certezas nós possuímos, mais enclausurados estamos dentro de nossas tão amadas bolhas. Assim, infinitas mesclas de SATISFAÇÃO e CERTEZA definem os nossos limites de compreensão e atuação sobre o mundo.
Mas é possível quebrar esse ciclo vicioso. É possível sim ter acesso à outras bolhas e o que gerará esse movimento para fora da membrana é a INSATISFAÇÃO e a DÚVIDA. Ambas, se bem utilizadas, fomentarão CONHECIMENTO. E quanto mais conhecimento, mais capacidade teremos de sair de nossas bolhas individuais para ter acesso às outras bolhas, sejam as bolhas ao nosso redor, sejam as bolhas que estão acima da gente. É o conhecimento que nos dá a capacidade de participar de "bolhas maiores", enxergando "bolha dentro de bolha" e conseguindo vislumbrar a espuma da qual todos fazem parte. E é enxergando o "todo" que somos capazes de superar nossos limites e fazer a diferença em nossa vida, deixando algo de útil quando "partirmos desta para melhor".
O quanto estamos presos em nossas próprias bolhas? Quando assumiremos que estamos cada vez mais apegados às nossas próprias bolhas como se estas representassem a única realidade possível? Quanto que as nossas bolhas distorcem a nossa visão de mundo através de suas membranas de sabão? Quando teremos humildade de assumir que a manutenção doentia das nossas próprias bolhas é o maior ato de autocastração possível em nossa existência? E quando reconheceremos que somos absurdamente responsáveis pela manutenção de tudo aquilo que não presta em nossa sociedade através de nossas tão queridas bolhas?
Abs:
Marcio